domingo, 8 de janeiro de 2017

Exercícios resolvidos sobre o poema de Almeida Garret "Os cinco sentidos"


Os Cinco Sentidos

São belas - bem o sei, essas estrelas, 
Mil cores - divinais têm essas flores; 
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: 
      Em toda a natureza 
      Não vejo outra beleza 
      Senão a ti - a ti! 

Divina - ai! sim, será a voz que afina 
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa. 
será; mas eu do rouxinol que trina 
      Não oiço a melodia, 
      Nem sinto outra harmonia 
      Senão a ti - a ti! 

Respira - n'aura que entre as flores gira, 
Celeste - incenso de perfume agreste, 
Sei... não sinto: minha alma não aspira, 
      Não percebe, não toma 
      Senão o doce aroma 
      Que vem de ti - de ti! 

Formosos - são os pomos saborosos,                   
É um mimo - de néctar o racimo: 
E eu tenho fome e sede... sequiosos, 
      Famintos meus desejos 
      Estão... mas é de beijos, 
      É só de ti - de ti! 

Macia - deve a relva luzidia 
Do leito - ser por certo em que me deito. 
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia 
      Sentir outras carícias, 
      Tocar noutras delícias 
      Senão em ti! - em ti! 

A ti! ai, a ti só os meus sentidos                      
      Todos num confundidos, 
      Sentem, ouvem, respiram; 
      Em ti, por ti deliram. 
      Em ti a minha sorte, 
      A minha vida em ti; 
      E quando venha a morte, 
      Será morrer por ti. 

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' 


pomo: fruto.
racimo: cacho ou conjunto de flores ou frutos.
sorte: destino, fim felicidade, acaso feliz.
umbroso: que produz sombra; copado.


1) No poema, ganham destaque os sentidos humanos. Identifique esses sentidos, na ordem em que aparecem no texto.

 Respectivamente: visão, audição, olfato, paladar e tato.

2) Observe os seguintes elementos do poema, aos quais são associados os sentidos:

     estrelas e flores                            pomos saborosos
     canto do rouxinol                         macia relva luzidia do leito
     perfume agreste  

a) O que esses elementos têm em comum?

    O fato de pertencerem ao universo natural.       

b) A que(m) eles são comparados?

    São comparados à mulher amada.
  
c) Nessa comparação, o que ou quem sobressai?

    Sobressai a mulher amada, que sempre supera a natureza e ganha a atenção ou o interesse do eu        lírico.

3) A exploração dos sentidos humanos associa-se, naturalmente, a uma percepção sensual do mundo. Há referências a sensualidade no poema? Justifique sua resposta com elementos do texto.

   Sim, conforme se verifica em "Formosos - são os pomos saborosos", "Famintos meus desejos / Estão" e "Sentir outras carícias, / Tocar noutras delícias".

Obs: A palavra pomo é utilizada informalmente com o sentido de seio.

4) Leia este comentário, do crítico Benedito Nunes:

   "Para o poeta romântico, as formas naturais com que ele dialoga, e que falam à sua alma, falam-lhe de alguma outra coisa; falam-lhe do elemento espiritual que se traduz nas coisas [...]"

    (Apud J. Guinsburg, org. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 65.)

Embora o eu lírico fale da natureza, qual é, na verdade, o tema central do poema em estudo?

O tema central do poema são os sentimentos que o eu lírico tem pela mulher amada.

5) Releia a última estrofe do poema e identifique nela ao menos duas características marcadamente românticas.

  A entrega total ao amor, o predomínio do mundo interior ("delírio") sobre a razão; a morte por amor.

Os cinco sentidos: poema que integra a obra Folhas Caídas

Os Cinco Sentidos

São belas - bem o sei, essas estrelas, 
Mil cores - divinais têm essas flores; 
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: 
      Em toda a natureza 
      Não vejo outra beleza 
      Senão a ti - a ti! 

Divina - ai! sim, será a voz que afina 
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa. 
será; mas eu do rouxinol que trina 
      Não oiço a melodia, 
      Nem sinto outra harmonia 
      Senão a ti - a ti! 

Respira - n'aura que entre as flores gira, 
Celeste - incenso de perfume agreste, 
Sei... não sinto: minha alma não aspira, 
      Não percebe, não toma 
      Senão o doce aroma 
      Que vem de ti - de ti! 

Formosos - são os pomos saborosos,                   
É um mimo - de néctar o racimo: 
E eu tenho fome e sede... sequiosos, 
      Famintos meus desejos 
      Estão... mas é de beijos, 
      É só de ti - de ti! 

Macia - deve a relva luzidia 
Do leito - ser por certo em que me deito. 
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia 
      Sentir outras carícias, 
      Tocar noutras delícias 
      Senão em ti! - em ti! 

A ti! ai, a ti só os meus sentidos                      
      Todos num confundidos, 
      Sentem, ouvem, respiram; 
      Em ti, por ti deliram. 
      Em ti a minha sorte, 
      A minha vida em ti; 
      E quando venha a morte, 
      Será morrer por ti. 

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas' 


pomo: fruto.
racimo: cacho ou conjunto de flores ou frutos.
sorte: destino, fim felicidade, acaso feliz.
umbroso: que produz sombra; copado.