Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos,
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
1. Do ponto de vista formal, que elementos do texto de Drummond exemplificam a liberação do academicismo, deflagrada em 1922 e amadurecida em 30?
Os versos livres, as estrofes heterogêneas e o tom prosaico da linguagem constituem exemplos de liberação do academicismo, presentes no poema.
2. Que versos da primeira estrofe indicam a recusa do eu lírico em compactuar com o "oficialismo literário", ou seja, a alienação em relação ao momento presente e à realidade histórico- social do país?
Trata-se dos dois versos de abertura do poema.
3. Transcreva uma expressão do trecho selecionado na resposta anterior que exemplifique a visão negativa do poeta sobre o "passadismo literário", justificando sua escolha.
A expressão é "mundo caduco", como se percebe pelo caráter pejorativo do adjetivo com o qual o poeta caracteriza o passadismo.
4. Na segunda estrofe, o eu lírico expressa uma nova recusa. A que movimento literário ela se refere? Explique e exemplifique.
A recusa do eu lírico refere-se ao escapismo do estilo romântico, como se percebe por expressões presentes nos quatro versos iniciais da segunda estrofe: " cantar uma mulher", " dizer suspiros ao anoitecer", " distribuir entorpecentes e cartas de suicida" etc.
5. Considerando a dimensão social presente no poema, e consequentemente seu caráter antiburguês, reflita: quem seriam os companheiros do poeta? Por que razão ''estão taciturnos'' e, por outro lado, por que ''nutrem grandes esperanças''?
Os "companheiros" do poeta são os oprimidos do sistema capitalista, como os operários. Se a exploração em que vivem os deixa taciturnos, por outro lado o poema acena com a possibilidade de uma revolução, como se percebe no último verso da primeira estrofe.
Fonte:
AMARAL, Emília. FERREIRA, Mauro. LEITE, Ricardo. ANTÔNIO, Severino. Novas palavras. 2ª ed. São Paulo: FTD, 2005.
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