segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Conto "Apelo", de Dalton Trevisan (Exercícios)

 


 (O Conto)

Texto para as questões de 1 a 7. 

 

APELO 

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

 Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite e eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.

 E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada − o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

                                             (Dalton Trevisan) 

 

 1. Apesar do texto “Apelo” ser um conto, ele possui características que o aproximam de outro gênero textual.


1.1 Que gênero é esse:

 

a) uma crônica       

b) uma carta          

c) um poema   d) um artigo de opinião

 

1.2  Qual o efeito produzido pela escolha desse título?


Ao construir seu conto em forma de carta, o autor confere ao texto um caráter mais intimista e realista, pois o personagem dirige-se diretamente à esposa, expondo seus sentimentos.


2. O homem diz não ter sentido a falta da mulher imediatamente. O que mudou isso?

 

Com o passar dos dias, a ausência da esposa foi ficando em evidência, por causa do trabalho acumulado, que antes ela desempenhava, e pelo vazio que permeava a casa.

 3. Observe que o texto de Dalton Trevisan está organizado em três parágrafos. Indique a ideia central de cada parágrafo.


Parágrafo 1: O aparente descaso em relação à ausência da Senhora.

Parágrafo 2: A saudade, que não é verbalizada, mas aparece no reconhecimento das tarefas que se acumulam e que, antes, eram realizadas pela esposa.

Parágrafo 3: A saudade reconhecida de forma indireta e o apelo do homem para que a Senhora volte para casa.


4. Releia o trecho abaixo:


"Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando"


4.1  A quem possivelmente se refere o pronome "nós"?


Provavelmente, o "nós" refere-se aos membros da família formada pelo narrador personagem e a Senhora.


4.2 A partir do trecho destacado, qual o papel da Senhora na relação entre os membros dessa família?


É possível inferir, através desse trecho, que a Senhora exerce a função de estabelecer um elo entre os membros dessa família, que, diante da sua ausência, sequer conseguem estabelecer diálogo durante as refeições.


5. Assinale a opção que contém a frase que justifica o título do texto. 

 

a) “Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.” 

b) “Toda a casa era um corredor deserto...” 

c) “Acaso é saudade, Senhora?” 

d) “Que fim levou o saca-rolhas?” 

e) “Venha para casa, Senhora, por favor.”

 

6. Assinale a opção que justifica a afirmativa “Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta”.

a) A quebra da rotina traz a sensação de liberdade.

b) A relação amorosa estabelece limites para a liberdade de cada um.

c) A sensação de liberdade faz falta a algumas pessoas. 

d) O estranhamento causado pela ausência do ser amado é acentuado pela rotina.

e) O novo tem um apelo encantatório, que afasta o sentimento da ausência.

 

 

7. carinho do homem pela mulher agora ausente manifestava-se por meio da(s)

 a) falta de botão na camisa. 

 b) bebida partilhada com os amigos. 

 c) conversa demorada na esquina. 

 d) presença aconchegante ao fim da jornada.

 e) discussões sem importância às refeições.

 

 

BONS ESTUDOS!

4 comentários:

  1. fantástica a ideia do tapete literário.

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  2. Respeitosamente, discordo da alternativa "E".

    A frase “Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta” está relacionada diretamente à experiência de 'liberdade momentânea' que o narrador vivencia com a ausência da companheira — como chegar tarde, conversar na esquina, viver sem obrigações. Isso remete à suspensão da rotina, não à sedução de algo novo. Por isso, a alternativa "A" (A quebra da rotina traz a sensação de liberdade") reputo ser a mais adequada, porque:
    • Explica objetivamente o comportamento inicial do narrador;
    • Está em sintonia com o tom realista e cotidiano do texto;
    • Não projeta uma idealização do “novo”, mas sim uma liberdade ilusória dentro da mesma vida de sempre.

    Complementando, o trecho “Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta” revela, no meu entender, o efeito imediato da quebra da rotina afetiva, em que o eu lírico experimenta uma espécie de alívio ou liberdade logo após o rompimento. Esse sentimento inicial não é de ausência dolorosa, mas, sim, de certa leveza e desprendimento, típica da libertação de uma estrutura repetitiva — a rotina da convivência amorosa. Portanto, a quebra da rotina é o elemento que justifica a sensação inicial de não sentir falta, o que corresponde exatamente à alternativa "A".

    A alternativa "E", embora bem articulada, propõe uma interpretação mais poética do que o texto sustenta — fala do novo como encantamento, mas não há no conto, salvo engano, esse deslumbramento com novidades. Há, sim, um vazio disfarçado nos hábitos quebrados.

    O que vocês acham dessa interpretação? :-)

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