sábado, 15 de abril de 2023

QUESTÕES DE VESTIBULAR: Camões e o Classicismo em Portugal




1. (UEPA) A questão estética, na passagem de um estilo para o outro, pode conter certo tipo de violência simbólica. A estética em vigor costuma não admitir a utilização das formas da anterior. Porém o Classicismo Português em Camões consegue a superação desse procedimento ao utilizar a medida velha em seus poemas. Diante do exposto, examine as alternativas e marque aquela que demonstre tal afirmação.

a)

Agora Tu, Calíope, me ensina 
O que contou ao Rei o Ilustre da Gama; Inspira imortal, canto e voz divina

b)

Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta. 
Chove nela graça tanta,

c)

Pois Meus olhos não cansam de chorar 
Tristezas, que não cansam de cansar-me 
Pois não abranda o fogo em que abrasar-me

d)

Três fermosos outeiros se mostravam, 
Erguidos com soberba graciosa, 
Que de gramíneo esmalte lhe adornavam,

e)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades  
Muda-se o ser, muda a confiança; 
Todo mundo é composto de mudança.


1. É a única alternativa que apresenta versos de sete sílabas poéticas (medida velha). Nos demais, os versos são decassílabos.


2. (Fuvest-SP)

Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, 
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua 
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

(Camões, Os Lusíadas - episódio de Inês de Castro)

Molesta: lastimosa; funesta.

Pérfida: desleal; traidora.

Fero: feroz; sanguinário; cruel.

Mitiga: alivia; suaviza; aplaca.

Ara: altar; mesa para sacrifícios religiosos.

a) Considerando-se a forte presença da cultura da Antiguidade Clássica em Os Lusíadas, a que se pode referir o vocábulo "Amor", grafado com maiúscula, no 5º verso?

O Amor, grafado com maiúscula, é uma referência a Eros, o deus do amor grego (Cupido para os romanos). Era de interesse da cultura renascentista recuperar os valores artísticos da cultura greco-romana, por isso são constantes essas referências.

b) Explique o verso Tuas aras banhar em sangue humano, relacionando-o à história de Inês de Castro.

O verso alude ao deus do amor, que dispara flechas nos corações humanos para fazer as pessoas se apaixonarem. Em seus altares, Eros exigiria sangue humano dos amantes, sacrificados em sua homenagem. Inês de Castro morreu em decorrência do amor que o príncipe Pedro tinha por ela. 

3. (Fuvest-SP)

Oh! Maldito o primeiro que, no mundo, 
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
Digno da eterna pena do Profundo, 
Se é justa a justa Lei que sigo e tenho! 
Nunca juízo algum,  alto e profundo, 
Nem cítara sonora ou vivo engenho, 
Te dê por isso fama nem memória, 
Mas contigo se acabe o nome e a glória.

                       (Camões, Os Lusíadas)

a) Considerando este trecho da fala do velho do Restelo no contexto da obra a que pertence, explique os dois primeiros versos, esclarecendo o motivo da maldição que, neles, é lançada.

O velho amaldiçoa aqueles que inventaram as embarcações para explorar o mar porque isso faz que os homens arrisquem as vidas em busca de riquezas. Isso pode ser verificado nos versos Maldito o primeiro que [...] nas ondas vela pôs em seco lenho, ou seja, maldito aquele que inventou a embarcação. 

b) Nos quatro últimos versos, está implicada uma determinada concepção da função da arte. Identifique essa concepção, explicando-a brevemente.

A função da arte expressa nesses versos é a perpetuação da memória dos grandes feitos humanos. Neste caso, o velho deseja que os nomes dos marinheiros nunca sejam lembrados pela arte; sua crítica se estende, portanto, aos feitos desses homens que navegaram pelo mar em nome da exploração de novas terras.

4. (UFJF-MG) Com os versos Cantando espalharei por toda a parte,/Se a tanto me ajudar o engenho e a arte., Camões explica que o propósito de Os Lusíadas é divulgar os feitos portugueses. Sobre esse poema épico, só é incorreto afirmar que:

a) se trata da maior obra literária do quinhentismo português.

b) Camões sofre a clara influência dos clássicos greco-latinos.

c) há forte presença do romantismo, devido ao nacionalismo.

d) como epopeia moderna, há momentos de crítica à nação e ao povo.

e) louva não apenas o homem português, mas o homem renascentista.

4. O movimento literário romântico surgirá três séculos depois. Além disso, o Romantismo valoriza o sentimento e os argumentos emocionais, ao contrário da estética classicista, que valoriza o racionalismo. Ambos dão vazão a um orgulho nacionalista, mas respeitando esses princípios estéticos.

5. (PUC-SP) Dos episódios "Inês de Castro" e "O Velho do Restelo", da obra Os Lusíadas, de Luiz de Camões, não é possível afirmar que:

 a) "O Velho do Restelo", numa antevisão profética, previu os desastres futuros que se abateriam sobre a Pátria e que arrastariam a nação portuguesa a um destino de enfraquecimento e marasmo.

b) "Inês de Castro" caracteriza, dentro da epopeia camoniana, o gênero lírico porque é um episódio que narra os amores impossíveis entre Inês e seu amado Pedro.

c) Restelo era o nome da praia em frente ao templo de Belém, de onde partiam as naus portuguesas nas aventuras marítimas. 

d) tanto "Inês de Castro" quanto "O Velho do Restelo" são episódios que ilustram poeticamente diferentes circunstâncias da vida portuguesa.

e) o Velho, um dos muitos espectadores na praia, engrandecia com sua fala as façanhas dos navegadores, a nobreza guerreira e a máquina mercantil lusitana.

5. Ao contrário do que se afirma em e, o velho amaldiçoa (e não engrandece) os navegadores e todos aqueles que se aventuram pelo mar em busca de fama e de riquezas. 

6. (UFSCar-SP) A questão baseia-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.

Mas um velho, de aspeito venerando,
                                          [(= aspecto)
Que ficava nas praias, entre a gente, 
Postos em nós os olhos, meneando 
Três vezes a cabeça, descontente, 
A voz pesada um pouco alevantando, 
Que nós no mar ouvimos claramente, 
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

"Ó glória de mandar, ó vã cobiça 
Desta vaidade a quem chamamos Fama! 
Ó fraudulento gosto, que se atiça 
C'uma aura popular, que honra se chama! 
Que castigo tamanho e que justiça 
Fazes no peito vão que muito te ama! 
Que mortes, que perigos, que tormentas, 
Que crueldades neles experimentas!

Dura inquietação d'alma e da vida
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida 
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
De fazendas, de reinos e de impérios!
Sendo digna de infames vitupérios; 
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana.


Os versos de Camões foram retirados da passagem conhecida como "O Velho do Restelo". Nela, o velho: 
a) abençoa os marinheiros portugueses que vão atravessar os mares à procura de uma vida melhor.
b) critica as navegações portuguesas por considerar que elas se baseiam na cobiça e busca de fama.
c) emociona-se com a saída dos portugueses que vão atravessar os mares até chegar às Índias.
d) destrata os marinheiros por não o terem convidado a participar de tão importante empresa.
e) adverte os marinheiros portugueses dos perigos que eles podem encontrar para buscar fama em outras terras.

7. (Fuvest-SP) Responda às seguintes questões sobre Os Lusíadas, de Camões:

a) Identifique o narrador do episódio no qual está inserida a fala do Velho do Restelo.

Vasco da Gama é o narrador do episódio. Trata-se do Canto IV, no qual os navegantes estão na praia do Restelo, prestes a partir. Em meio à multidão que os observa, o velho faz seu discurso.

b) Compare, resumidamente, os principais valores que esse narrador representa, no conjunto de Os Lusíadas, aos valores defendidos pelo Velho do Restelo, em sua fala.

O navegador representa a ânsia pela conquista de outras terras, o avanço econômico e a modernidade. Já o velho representa a tradição retrógrada, que se prende ao passado e não admite experiências modernizadoras.

8. (Fuvest-SP) Considere as seguintes afirmações sobre a fala do Velho do Restelo, em Os Lusíadas:

I. No seu teor de crítica às navegações e conquistas, encontra-se refletida e sintetizada a experiência das perdas que causaram, experiência esta já acumulada na época em que o poema foi escrito.

II. As críticas aí dirigidas às grandes navegações e às conquistas são relativizadas pelo pouco crédito atribuído a seu emissor, já velho e com um "saber só de experiências feito".

III. A condenação enfática que aí se faz à empresa das navegações e conquistas revela que Camões teve duas atitudes em relação a ela: tanto criticou o feito quanto o exaltou.

Está correto apenas o que afirma em:

a) I.

b) II.

c) III.

d) I e II.

e) I e III. 

8. A afirmativa II está incorreta porque as críticas às navegações não são relativizadas pelas características do emissor. Naquela época, navegar era tão perigoso quanto viajar pelo espaço e muitas vidas foram perdidas, por isso a necessidade de fazer ouvir essa voz que diz "não ao progresso" e que aparece para reafirmar ainda mais a coragem dos que se aventuram pelo mar.

9. (UFJF-MG) Leia o fragmento a seguir e responda ao que se pede.

Amores da alta esposa de Peleu 
Me fizeram tomar tamanha empresa. 
Todas as deusas desprezei do céu, 
Só por amar das águas a princesa. 
Um dia a vi co'as filhas de Nereu, 
Sair nua na praia: e logo presa 
A vontade senti de tal maneira 
Que inda não sinto cousa que mais queira. 
Como fosse impossíbil alcançá-la
Pela grandeza feia de meu gesto, 
Determinei por armas de tomá-la 
E a Dóris este caso manifesto.
De medo a deusa então por mi lhe fala; 
Mas ela, c'um fermoso riso honesto, 
Respondeu: "Qual será o amor bastante 
De ninfa, que sustente o dum gigante?"

               Camões - Os Lusíadas

Nas estrofes anteriores, extraídas do episódio do Adamastor, observamos o amor entre o Gigante e Tétis, a "Princesa das Águas". A partir disso, responda:

a) Como se manifesta, no texto, o amor do gigante, e como Tétis reage a esse amor?

O amor do gigante é um desejo carnal (A vontade senti de tal maneira/ Que inda não sinto cousa que mais queira), que, por não ser correspondido por Tétis, faz que ele se sinta no direito de tomá-la à força. Tétis, por sua vez, reage questionando sua própria capacidade de corresponder a esse amor (Qual será o amor bastante / De ninfa, que sustente o dum gigante?).

b) Quem é, no poema de Camões, o gigante Adamastor?

O gigante Adamastor é o Cabo das Tormentas (atual Cabo da Boa Esperança), que fica ao sul da África, entre os oceanos Atlântico e Indico.

10. (Vunesp) A questão seguinte toma por base a oitava estrofe do "Canto VI" de Os Lusíadas, de Luís de Camões (1524?-1580).

                 Os Lusíadas, VI, 8

No mais interno fundo das profundas 
Cavernas altas, onde o mar se esconde, 
Lá donde as ondas saem furibundas, 
Quando às iras do vento o mar responde, 
Netuno mora e moram as jucundas 
Nereidas e outros Deuses do mar, onde 
As águas campo deixam às cidades
Que habitam estas úmidas Deidades.

(In: CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1971. p. 195.)

O poema épico de Camões, entre outros ingredientes da epopeia clássica, apresenta o chamado maravilhoso, que consiste na intervenção de seres sobrenaturais nas ações narradas. Quando tais seres pertencem ao universo da Mitologia Clássica, diz-se maravilhoso pagão; quando pertencem ao universo do Cristianismo, diz-se maravilhoso cristão. Com base nesta informação:

a) identifique o tipo de maravilhoso presente na oitava de Os Lusíadas;

O maravilhoso consiste na referência aos deuses gregos que habitam o interior dos oceanos.

b) comprove sua resposta com exemplos da própria estrofe.

Netuno mora e moram as jucundas

Nereidas e outros Deuses do mar, onde

As águas campo deixam às cidades

Que habitam estas úmidas Deidades.

11. (Unicamp-SP) Leia o seguinte soneto de Camões:

Oh! Como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação cansada minha. 
Como se encurta, e como ao fim caminha 
este meu breve e vão discurso humano.

Vai-se gastando a idade e cresce o dano; 
perde-se-me um remédio, que inda tinha. 
Se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança; 
no meio do caminho me falece, 
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança, 
se os olhos ergo a ver se inda parece, 
da vista se me perde e da esperança.

a) Na primeira estrofe, há uma contraposição expressa pelos verbos "alongar" e "encurtar". A qual deles está associado o cansaço da vida e qual deles se associa à proximidade da morte?

Alongar está ligado ao cansaço da vida, que a cada ano é maior, e encurtar está ligado à proximidade da morte, que, diante dos anos, vai chegando para o eu lírico.

b) Por que se pode afirmar que existe também uma contraposição no interior do primeiro verso da segunda estrofe?

A contraposição é entre os verbos gastar e crescer, antagônicos no contexto considerado.

c) A que termo se refere o pronome "ele" da última estrofe?

Refere-se ao bem do primeiro verso da terceira estrofe.

12. (UFSCar-SP)

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar 
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos. 
Cuidando alcançar assim 
O bem tão mal ordenado, 
Fui mau, mas fui castigado, 
Assim que só pera mim
Anda o mundo concertado. 

(Luís de Camões: Ao desconcerto do Mundo. In: Rimas. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1963, p. 475-6.)

Este curto poema de Camões compõe-se de partes correspondentes ao destaque dado às personagens (o eu poemático e os outros). Quanto ao significado, o poema baseia-se em antíteses desdobradas, de tal maneira trançadas que parecem refletir o "desconcerto do mundo". Posto isso:

a) identifique a antítese básica do poema e mostre os seus desdobramentos.

A antítese apresentada no poema é a das "pessoas boas que sempre passam por dificuldades" versus "as pessoas más que sempre têm sucesso no que fazem". O eu lírico, observando essa contradição, tentou ser mau, mas no caso dele a antítese não se confirmou e ele foi castigado por isso.

b) Explique a composição do texto com base nas rimas.

O esquema de rimas é ABAAB CDDCD, ou seja, dez versos, com quatro diferentes sons finais, e rimas alternadas e paralelas.


Textos para as duas próximas questões:

Texto I

Amor é fogo que arde sem se ver; 
É ferida que dói e não se sente; 
É um contentamento descontente; 
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente; 
É cuidar que se ganha em se perder.

                                         Camões

Texto II

Amor é fogo? Ou é cadente lágrima? 
Pois eu naufrago em mar de labaredas 
Que lambem o sangue e a flor da pele acendem 
Quando o rubor me vem à tona d'água.

E como arde, ai, como arde, Amor, 
Quando a ferida dói porque se sente, 
E o mover dos meus olhos sob a casca 
Vê muito bem o que devia não ver.

                                 Ilka Brunhilde Laurito


13. (Mack-SP) Assinale a alternativa correta sobre o texto I.

a) Expressa as vivências amorosas do "eu" lírico em linguagem emotivo-confessional. 
b) Apresenta índices de linguagem poética marcada pelo racionalismo do século XVI.
c) Conceitua o amor de forma unilateral, revelando o intenso sofrimento do coração apaixonado.
d) Notam-se, em todos os versos, imagens poéticas contraditórias, criadas a partir de substantivos concretos.
e) Conceitua positivamente o amor correspondido e, negativamente, o amor não correspondido.

14. (Mack-SP) Assinale a alternativa correta.

a) O texto I, com sua regularidade formal, recupera do texto II o rígido padrão da estética clássica.

b) Os dois textos, ao negarem uma concepção carnal do amor, enaltecem o platonismo amoroso.

c) O texto I e o texto II são convergentes no que se refere à concepção do sentimento amoroso.

d) O texto II contesta o texto I no que se refere ao ponto de vista sobre o amor.

e) Os dois textos convergem quanto à forma e à linguagem, mas divergem quanto ao conteúdo.

15. (Insper-SP)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
muda-se o ser, muda-se a confiança; 
todo o mundo é composto de mudança, 
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, 
diferentes em tudo da esperança; 
do mal ficam as mágoas na lembrança, 
e do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto, 
que já coberto foi de neve fria, e, enfim, 
converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia, 
outra mudança faz de mor espanto, 
que não se muda já como soía*.

                                                   Luís Vaz de Camões

*Soía: Imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costumar, ser de costume.

Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Camões.

a) O foco temático do soneto está relacionado à instabilidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte.

b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se torna maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas.

c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se baseia no postulado da imutabilidade.

d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo as mudanças que se operam no mundo, porque constata que elas são geradoras de um mal cuja dor não pode ser superada.

e) As duas últimas estrofes autorizam concluir ideia de que nada é permanente não passa de uma ilusão. 

     

                                                 BONS ESTUDOS!

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Pré-Modernismo: Questões objetivas com gabarito

 

Texto I

    Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.

    Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.

    Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante...

(Euclides da Cunha. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 38.)

1.       De acordo com o texto, como se caracteriza  o lugar onde vive o sertanejo?

A)      A natureza harmoniosa em relação ao homem sertanejo.

B)      A natureza mostra-se rude e pouco receptiva ao homem.

C)      A caatinga apresenta as condições geográficas adequadas para o sertanejo.

D)      A travessia das veredas sertanejas acolhe o sertanejo.

E)      Nenhuma das opções acima.

 Texto II

    O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

    A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

    É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados.

[...]

    Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

    Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.

    Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarado pelo olhar desassombrado e forte; [...] e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um tită acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

(Idem, p. 92-93.)

2.       No texto II,  contraponto o sertanejo ao homem do litoral,  o narrador descreve os aspectos contraditórios da constituição física e do comportamento do sertanejo. Marque a opção que apresenta corretamente essa contradição:

A)      Por um lado,  o sertanejo mostra-se fraco, feio, desengonçado,  preguiçoso,  cansado; por outro,  mostra-se forte,  impulsivo e valente.

B)      O homem do litoral parece ser fraco e indolente, mas surpreende pela vontade e pela força.

C)      O sertanejo parece ser bem mais forte que o homem do litoral,  porém surpreende pelo fracasso diante das dificuldades.

D)      Hércules-Quasímodo foi um termo usado para demonstrar o lado forte do sertanejo, ao passo que, titã,  mostra o lado forte do homem do litoral.

E)      Nenhuma das opções acima.

Texto III

    (...)

    Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou- se das suas cousas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

    O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.

(São Paulo: Saraiva, 2007. p. 201.)

3.       O trecho acima refere-se à obra...... do autor pré-modernista......

A)      Urupês, de Monteiro Lobato

B)      Triste fim de Policarpo Quaresma,  de Euclides da Cunha

C)      Os Sertões,  de Euclides da Cunha

D)      Triste fim de Policarpo Quaresma,  de Lima Barreto

E)      Eu, de Augusto dos Anjos

 

Texto I V

    Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epitome de carne onde se resumem todas as características da espécie.

    Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...

    Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher - cocos de tucum ou jissara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, orquídeas; [...]

    Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço e nisto vai longe. Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.

[...]

    Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo colher, garfo e faca a um tempo? No mais, umas cuias, gamelinhas, um pote esbeiçado, a pichorra e a panela de feijão.

    Nada de armários ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. Só tem dois parelhos; um que traz no uso e outro na lavagem. [...]

    Seus remotos avós não gozaram maiores comodidades. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.

    Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem flores - nada revelador de permanência.

    Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque...

     - "Mas criatura, com um vedozinho por ali... A madeira está à mão, o cipó é tanto..." Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha.

    - "Não paga a pena."

    Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive.

(22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1978. p. 147-50.)

4. O texto IV é o fragmento da crônica........ de ......... . O autor traça o perfil do caipira,  o Jeca Tatu, que ele imortalizou em nossa literatura. 

A) Urupês,  de Augusto dos Anjos

B) Os Sertões,  de Euclides da Cunha

C) Eu, de Augusto dos Anjos

D) Triste fim de Policarpo Quaresma,  de Lima Barreto

E) Urupês,  de Monteiro Lobato

5. O texto IV descreve Jeca Tatu em três papéis: o de mercador, o de lavrador e o de filósofo.  Como se sai Jeca nesses papéis?

A) Sai-se mal, pois não planta,  só vende o que a natureza oferece e pensa que “nada paga a pena”, pois a terra não é sua.

B) Sai-se bem,  pois consome e vende somente o que a natureza oferece e, além disso,  não precisa promover melhorias em sua casa.

C) Sai-se bem,  pois Jeca assume todas as características do herói romântico sem precisar fazer grande esforço.

D) Sai-se mal, pois diante de seu grande esforço em conquistar uma vida mais digna para si e sua família,  Jeca Tatu sente-se injustiçado pelo fato de a terra não ser sua.

E) Nenhuma das opções acima.

Texto V

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

 

Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

 

Já o verme este operário das ruínas

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

 

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

(Augusto dos Anjos. Eu e outros poemas, cit., p. 60.)

 

6. Marque a opção ERRADA quanto ao poema (Texto V).

A) A linguagem do poema surpreende e modifica uma tradição poética brasileira.

B) O texto apresenta vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados antipoéticos.

C) Os vocábulos antipoéticos  provêm da ciência,  particularmente da Química.

D) A linguagem do poema é toda construída com base no sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.

E) Nenhuma das opções acima.

7. Marque a opção ERRADA quanto ao poema “Psicologia de um vencido”, de Augusto dos Anjos.

A) O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira trata do eu lírico; a segunda,  da morte.

B) O eu lírico vê a si mesmo de forma otimista,  pois entende que o homem é matéria,  química.

C) O eu lírico considera que tudo caminha para a destruição.

D) É possível constatar o negativismo interior do eu lírico,  que se considera “vencido” em virtude da fragilidade física do ser humano e da força implacável da morte.

E) A condição humana retratada pelo poema (fatalidade da morte) não é exclusiva do eu lírico,  mas universal.