quarta-feira, 12 de abril de 2023

Pré-Modernismo: Questões objetivas com gabarito

 

Texto I

    Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.

    Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.

    Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante...

(Euclides da Cunha. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 38.)

1.       De acordo com o texto, como se caracteriza  o lugar onde vive o sertanejo?

A)      A natureza harmoniosa em relação ao homem sertanejo.

B)      A natureza mostra-se rude e pouco receptiva ao homem.

C)      A caatinga apresenta as condições geográficas adequadas para o sertanejo.

D)      A travessia das veredas sertanejas acolhe o sertanejo.

E)      Nenhuma das opções acima.

 Texto II

    O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

    A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

    É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados.

[...]

    Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

    Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.

    Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarado pelo olhar desassombrado e forte; [...] e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um tită acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

(Idem, p. 92-93.)

2.       No texto II,  contraponto o sertanejo ao homem do litoral,  o narrador descreve os aspectos contraditórios da constituição física e do comportamento do sertanejo. Marque a opção que apresenta corretamente essa contradição:

A)      Por um lado,  o sertanejo mostra-se fraco, feio, desengonçado,  preguiçoso,  cansado; por outro,  mostra-se forte,  impulsivo e valente.

B)      O homem do litoral parece ser fraco e indolente, mas surpreende pela vontade e pela força.

C)      O sertanejo parece ser bem mais forte que o homem do litoral,  porém surpreende pelo fracasso diante das dificuldades.

D)      Hércules-Quasímodo foi um termo usado para demonstrar o lado forte do sertanejo, ao passo que, titã,  mostra o lado forte do homem do litoral.

E)      Nenhuma das opções acima.

Texto III

    (...)

    Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou- se das suas cousas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

    O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.

(São Paulo: Saraiva, 2007. p. 201.)

3.       O trecho acima refere-se à obra...... do autor pré-modernista......

A)      Urupês, de Monteiro Lobato

B)      Triste fim de Policarpo Quaresma,  de Euclides da Cunha

C)      Os Sertões,  de Euclides da Cunha

D)      Triste fim de Policarpo Quaresma,  de Lima Barreto

E)      Eu, de Augusto dos Anjos

 

Texto I V

    Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epitome de carne onde se resumem todas as características da espécie.

    Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...

    Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher - cocos de tucum ou jissara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, orquídeas; [...]

    Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço e nisto vai longe. Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.

[...]

    Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo colher, garfo e faca a um tempo? No mais, umas cuias, gamelinhas, um pote esbeiçado, a pichorra e a panela de feijão.

    Nada de armários ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. Só tem dois parelhos; um que traz no uso e outro na lavagem. [...]

    Seus remotos avós não gozaram maiores comodidades. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.

    Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem flores - nada revelador de permanência.

    Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque...

     - "Mas criatura, com um vedozinho por ali... A madeira está à mão, o cipó é tanto..." Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha.

    - "Não paga a pena."

    Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive.

(22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1978. p. 147-50.)

4. O texto IV é o fragmento da crônica........ de ......... . O autor traça o perfil do caipira,  o Jeca Tatu, que ele imortalizou em nossa literatura. 

A) Urupês,  de Augusto dos Anjos

B) Os Sertões,  de Euclides da Cunha

C) Eu, de Augusto dos Anjos

D) Triste fim de Policarpo Quaresma,  de Lima Barreto

E) Urupês,  de Monteiro Lobato

5. O texto IV descreve Jeca Tatu em três papéis: o de mercador, o de lavrador e o de filósofo.  Como se sai Jeca nesses papéis?

A) Sai-se mal, pois não planta,  só vende o que a natureza oferece e pensa que “nada paga a pena”, pois a terra não é sua.

B) Sai-se bem,  pois consome e vende somente o que a natureza oferece e, além disso,  não precisa promover melhorias em sua casa.

C) Sai-se bem,  pois Jeca assume todas as características do herói romântico sem precisar fazer grande esforço.

D) Sai-se mal, pois diante de seu grande esforço em conquistar uma vida mais digna para si e sua família,  Jeca Tatu sente-se injustiçado pelo fato de a terra não ser sua.

E) Nenhuma das opções acima.

Texto V

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

 

Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

 

Já o verme este operário das ruínas

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

 

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

(Augusto dos Anjos. Eu e outros poemas, cit., p. 60.)

 

6. Marque a opção ERRADA quanto ao poema (Texto V).

A) A linguagem do poema surpreende e modifica uma tradição poética brasileira.

B) O texto apresenta vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados antipoéticos.

C) Os vocábulos antipoéticos  provêm da ciência,  particularmente da Química.

D) A linguagem do poema é toda construída com base no sentimentalismo, delicadezas, sonhos e fantasias.

E) Nenhuma das opções acima.

7. Marque a opção ERRADA quanto ao poema “Psicologia de um vencido”, de Augusto dos Anjos.

A) O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira trata do eu lírico; a segunda,  da morte.

B) O eu lírico vê a si mesmo de forma otimista,  pois entende que o homem é matéria,  química.

C) O eu lírico considera que tudo caminha para a destruição.

D) É possível constatar o negativismo interior do eu lírico,  que se considera “vencido” em virtude da fragilidade física do ser humano e da força implacável da morte.

E) A condição humana retratada pelo poema (fatalidade da morte) não é exclusiva do eu lírico,  mas universal. 

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