1) Relacione os fragmentos a seguir de acordo com as características dos heterônimos de Fernando Pessoa:
a)
Creio no mundo como num malmequer
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
b)
Tudo que cessa é morte, e a morte é nossa
Se é para nós que cessa. Aquele arbusto
Fenece, e vai com ele
Parte da minha vida.
Em tudo quanto olhei fiquei em parte.
Com tudo quanto vi, se passa, passo,
Nem distingue a memória
Do que vi do que fui.
A cada qual, como a statura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prêmio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.
fado: destino
fenecer: morrer naturalmente
c)
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
d)
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender.
e)
Amemo-nos tranquilamente, pensando que
[podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
2. O poema abaixo é a parte IX de “ O guardador de
rebanhos”, de Alberto Caeiro.
Sou
um guardador de rebanhos.
O
rebanho é os meus pensamentos
E os
meus pensamentos são todos sensações.
Penso
com os olhos e com os ouvidos
E com
as mãos e os pés
E com
o nariz e a boca.
Pensar
uma flor é vê-la e cheirá-la
E
comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por
isso quando num dia de calor
Me
sinto triste de gozá-lo tanto,
E me
deito ao comprido na erva,
E
fecho os olhos quentes,
Sinto
todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a
verdade e sou feliz.
b) Destaque um ou mais versos do texto que ilustrem a atitude de substituir o racionalismo pelo sensacionismo cultivada pelo eu lírico.
c) Como se vê no poema lido, a produção de Alberto Caeiro tende à simplicidade de ideias. Observe agora o poema no plano da expressão, isto é, a estrofação, a métrica dos versos, o vocabulário, o ritmo, a sonoridade em geral, etc. Forma e conteúdo estão em harmonia ou não? Justifique.
3) (UEL) A
questão refere-se a uma estrofe, transcrita abaixo, do poema de Fernando
Pessoa.
MAR
PORTUGUÊS
Ó mar
salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fonte: PESSOA, F. Mensagem. In: Mensagem e outros poemas afins seguidos de Fernando Pessoa e idéia de Portugal. Mem Martins: Europa-América [19-].
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, a frase Tudo
vale a pena quando a alma não é pequena remete a:
A)Se o objetivo é a grandeza
da pátria, não importam os sacrifícios impostos a todos.
B) Quando o resultado leva à paz, os meios justificam a finalidade almejada.
C) Todas as pessoas têm valores próprios, por isso a guerra é defendida pelos governantes.
D) O sacrifício é compensador mesmo que fiquemos insensíveis diante do bem comum.
E) Tudo vale a pena quando temos o que almejamos e isso não implique enfrentamento de perigos.
B) Quando o resultado leva à paz, os meios justificam a finalidade almejada.
C) Todas as pessoas têm valores próprios, por isso a guerra é defendida pelos governantes.
D) O sacrifício é compensador mesmo que fiquemos insensíveis diante do bem comum.
E) Tudo vale a pena quando temos o que almejamos e isso não implique enfrentamento de perigos.
Leia o poema Autopsicografia, de Fernando
Pessoa e responda às questões 4 e 5.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
calha: cano de zinco ou de cobre em que se escoam águas pluviais.
comboio: trem; grupo de carros com o mesmo destino.
4) O poema apresenta como tema a criação artística, desenvolvendo-o em três planos ou em três níveis, demarcados pelas estrofes. De que trata cada uma das estrofes?
5) Levando em conta que
o poeta é um fingidor, levante hipóteses: Por que
,de acordo com a 1ª estrofe , o poeta “ chega a fingir que é dor / A dor que
deveras sente”?
GABARITO
1) A) Alberto Caeiro: a poesia da sensação. Considerado por Fernando Pessoa o seu mestre, assim como o de Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
B) Ricardo Reis: o sopro clássico.
C) Álvaro de Campos: a energia futurista.
D) Alberto Caeiro
2) A) Arrebanha sensações.
B) Entre outros, "E os meus pensamentos são todos sensações", "Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la".
1) A) Alberto Caeiro: a poesia da sensação. Considerado por Fernando Pessoa o seu mestre, assim como o de Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
B) Ricardo Reis: o sopro clássico.
C) Álvaro de Campos: a energia futurista.
D) Alberto Caeiro
2) A) Arrebanha sensações.
B) Entre outros, "E os meus pensamentos são todos sensações", "Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la".
C) Sim, a forma do poema tende à simplicidade (é quase um poema em prosa), harmonizando-se com a simplicidade das ideias.
3) LETRA A
4) A 1ª estrofe trata do poeta e da criação literária; a 2ª, do leitor e de sua relação com o texto literário; e a 3ª, do jogo entre razão e emoção, existente no fenômeno literário.
5) Resposta pessoal. Sugestões: 1) No jogo literário, experiência e imaginação se fundem, constituindo uma nova realidade, a do texto. 2) A emoção contida no texto nem sempre corresponde à emoção real; esta pode servir de base para a "emoção fingida", que se torna real no poema.
(
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