Texto I
Então,
a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante
tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
Ao
passo que a outra o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o;
enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas
urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe
na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem folhas, de
galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no
espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de
tortura, da flora agonizante…
CUNHA, E. Os sertões. Disponível em:
http://pt.scribd.com. Acesso em: 2 jun. 2012.
Texto II
O sertanejo
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o
raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista,
revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura
corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo,
reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem
aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros
desarticulados. [...]
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene,
em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na
cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à
quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que
vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em
segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente
exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.
Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e
a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar
desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa
instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura
vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um
titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade
extraordinárias.
3) Que personagens da literatura foram utilizadas para dar ideia de quanto a figura do sertanejo é contraditória?
4) Na oposição entre o homem do litoral e o sertanejo, interprete: Quem é o mais forte, segundo o ponto de vista do narrador? Justifique sua resposta.
5) Marque
a opção correta: ´´ Contextualizado no fim do século XIX, no Rio de
Janeiro,_________________________, o principal romance de
_____________________________, narra os ideais e a frustração do funcionário
público, sonhador e ingênuo....Sua primeira decepção se dá quando sugere a
substituição do português, como língua oficial, pelo tupi. O resultado é sua
internação em um hospício”.
a) Os
Sertões / Euclides da Cunha
b) Triste
fim de Policarpo Quaresma / Lima Barreto
c) Urupês
/ Monteiro Lobato
d) Eu
/ Augusto dos Anjos
e) Canaã
/ Graça Aranha
6) O texto a seguir
é um fragmento da crônica Urupês de Monteiro Lobato.
TEXTO III
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e
feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca
lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às
feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza
derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher -
cocos de tucum ou jissara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões,
orquídeas; ou artefatos de taquarapoca - peneiras, cestinhas, samburás,
tipitis, pios de caçador; ou utensílios de madeira mole - gemelas, pilõezinhos,
colheres de pau.
Nada Mais.
Seu grande cuidado é
espremer todas as consequencias da lei do menor esforço - e nisso vai longe.
Um terreirinho
descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta,
nem flores - nada revelador de permanência.
Há mil razões para
isso: porque não é a sua terra; porque se o "tocarem" não ficará nada
que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a
"criação" come; porque....
_ Mas, criatura, com
um vedozinho por ali... A madeira está à mão o cipó é tanto...
Jeca, interpelado,
olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e
cuspilha.
_ Não paga a pena.
Todo o inconsciente
filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra.
Nada paga a pena.
Nem culturas, nem comodidades.
De
qualquer jeito se vive.
a) O texto descreve Jeca Tatu em três papéis: o
de mercador, o de lavrador e o de filósofo. Como se sai Jeca nesses papéis?
b)
Que comportamentos de Jeca comprovam a afirmação do narrador de que “ Seu
grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço”?
Texto IV
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
7) Destaque do texto vocábulos empregados
poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados
antipoéticos.
8) Como o eu lírico encara a vida e a si mesmo
nas duas primeiras estrofes?
9)Que
enfoque é dado à morte nas duas últimas estrofes?
10) O título é uma espécie de síntese das ideias do poema. Justifique-o.
RESPOSTAS
1) No sertão nordestino, a natureza mostra-se rude e pouco receptiva ao homem.
2) Por um lado, o sertanejo mostra-se fraco,feio, desengonçado, preguiçoso, cansado; por outro, mostra-se forte, impulsivo e valente.
3) Hércules-Quasímodo, para mostrar o lado fraco, e titã, para mostrar o lado forte.
4) É o sertanejo, pois, de acordo com o texto, o homem do litoral tem um raquitismo neurastênico, ao passo que o sertanejo parece ser fraco e indolente, mas surpreende pela vontade e pela força.
5) B
6. a) Sai-se mal, pois não planta ( o lavrador ), só vende o que a natureza oferece ( o mercador ) e pensa ( o filósofo ) que " nada paga a pena ", pois a terra não é sua.
b) O fato de consumir e vender apenas o que a natureza oferece e de não promover melhorias em sua casa.
7) Carbono, amoníaco, epigênesis, hipocondríaco, verme,etc.
8) Vê a vida e a si mesmo de forma pessimista, pois entende que o homem é matéria, química, e considera que tudo caminha para a destruição.
9) A morte é considerada o destino final e fatal de toda forma de vida. Cabe ressaltar também a crueza do tratamento dado à morte, representada pela imagem do verme a comer " sangue podre ".
10) Embora o título contenha a palavra psicologia, o poema detém-se a tratar da matéria das substâncias químicas que formam o eu, evitando maior introspecção. Apesar disso, é possível constatar o negativismo interior do eu lírico, que se considera " vencido " em virtude da fragilidade física do ser humano e da força implacável da morte.
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