quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Exercícios sobre o Pré - Modernismo ( com gabarito )

Texto I
            Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.                     Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.                                                                                                                                           Ao passo que a outra o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante…

CUNHA, E. Os sertões. Disponível em: http://pt.scribd.com. Acesso em: 2 jun. 2012.

1) De acordo com o texto I, como se caracteriza o lugar onde vive o sertanejo?


Texto II

         O sertanejo
            O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
            A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
            É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados.  [...]
            Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.
            Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
            Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

2) No texto II, contrapondo o sertanejo ao homem do litoral, o narrador descreve os aspectos contraditórios da constituição física e do comportamento do sertanejo. Explique essa contradição. 

3) Que personagens da literatura foram utilizadas para dar ideia de quanto a figura do sertanejo é contraditória?

4) Na oposição entre o homem do litoral e o sertanejo, interprete: Quem é o mais forte, segundo o ponto de vista do narrador? Justifique sua resposta.


5) Marque a opção correta: ´´ Contextualizado no fim do século XIX, no Rio de Janeiro,_________________________, o principal romance de _____________________________, narra os ideais e a frustração do funcionário público, sonhador e ingênuo....Sua primeira decepção se dá quando sugere a substituição do português, como língua oficial, pelo tupi. O resultado é sua internação em um hospício”.

a)      Os Sertões / Euclides da Cunha
b)      Triste fim de Policarpo Quaresma / Lima Barreto
c)      Urupês / Monteiro Lobato
d)     Eu / Augusto dos Anjos

e)      Canaã / Graça Aranha 

6) O texto a seguir é um fragmento da crônica Urupês de Monteiro Lobato.
                                            TEXTO III
 Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher - cocos de tucum ou jissara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, orquídeas; ou artefatos de taquarapoca - peneiras, cestinhas, samburás, tipitis, pios de caçador; ou utensílios de madeira mole - gemelas, pilõezinhos, colheres de pau.
Nada Mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as consequencias da lei do menor esforço - e nisso vai longe.
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem flores - nada revelador de permanência.
Há mil razões para isso: porque não é a sua terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque....
_ Mas, criatura, com um vedozinho por ali... A madeira está à mão o cipó é tanto...
Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha.
_ Não paga a pena.
Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra.
Nada paga a pena. Nem culturas, nem comodidades.
De qualquer jeito se vive.

a) O texto descreve Jeca Tatu em três papéis: o de mercador, o de lavrador e o de filósofo. Como se sai Jeca nesses papéis? 

b) Que comportamentos de Jeca comprovam a afirmação do narrador de que “ Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço”?

Texto IV
Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância... 
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 
E há de deixar-me apenas os cabelos, 
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

7) Destaque do texto vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos Anjos e tradicionalmente considerados antipoéticos.

 8) Como o eu lírico encara a vida e a si mesmo nas duas primeiras estrofes?

9)Que enfoque é dado à morte nas duas últimas estrofes?

10) O título é uma espécie de síntese das ideias do poema. Justifique-o.




                                                                       RESPOSTAS

1) No sertão nordestino, a natureza mostra-se rude e pouco receptiva ao homem.

2) Por um lado, o sertanejo mostra-se fraco,feio, desengonçado, preguiçoso, cansado; por outro, mostra-se forte, impulsivo e valente.

3) Hércules-Quasímodo, para mostrar o lado fraco, e titã, para mostrar o lado forte.

4) É o sertanejo, pois, de acordo com o texto, o homem do litoral tem um raquitismo neurastênico, ao passo que o sertanejo parece ser fraco e indolente, mas surpreende pela vontade e pela força.

5)  B

6. a) Sai-se mal, pois não planta ( o lavrador ), só vende o que a natureza oferece ( o mercador ) e pensa ( o filósofo ) que " nada paga a pena ", pois a terra não é sua.

    b) O fato de consumir e vender apenas o que a natureza oferece e de não promover melhorias em sua casa.

7) Carbono, amoníaco, epigênesis, hipocondríaco, verme,etc.

8) Vê a vida e a si mesmo de forma pessimista, pois entende que o homem é matéria, química, e considera que tudo caminha para a destruição.

9) A morte é considerada o destino final e fatal de toda forma de vida. Cabe ressaltar também a crueza do tratamento dado à morte, representada pela imagem do verme a comer " sangue podre ".

10) Embora o título contenha a palavra psicologia, o poema detém-se a tratar da matéria das substâncias químicas que formam o eu, evitando maior introspecção. Apesar disso, é possível constatar o negativismo interior do eu lírico, que se considera " vencido " em virtude da fragilidade física do ser humano e da força implacável da morte.




Nenhum comentário:

Postar um comentário