quarta-feira, 7 de junho de 2017

Iracema, José de Alencar ( exercícios resolvidos)


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                                                       Iracema
                                                                                                                               José de Alencar



                        Capítulo II






Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.

Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.

A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela As vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru te palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.

Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.

Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.

Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.

De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada, mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma que da ferida.

O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.

A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.

O guerreiro falou:

—Quebras comigo a flecha da paz?

—Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu ?

—Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.

—Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.

     www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/...e.../IRACEMA/02.HTML


1) A caracterização da personagem é feita por meio de comparações. Observe os quatro primeiros parágrafos. 
a) A que elementos Iracema é comparada?
    É comparada ao mel, à baunilha, aos pássaros e às plantas; enfim, é comparada a elementos naturais.
b) Nessa comparação, quem se destaca mais: a índia ou esses elementos?
     A índia, pois nela tudo é superior: "cabelos mais negros que a asa da graúna", "o favo da jati não era doce como seu sorriso".
c) Que característica romântica se observa nesse procedimento?
   A idealização da heroína e da mulher.

2) José de Alencar foi um dos principais escritores brasileiros empenhados no projeto romântico de construir uma identidade nacional. Por meio da literatura, o escritor pretendia libertar a cultura brasileira do domínio da cultura portuguesa. De que modo o escritor põe em prática esse projeto, no texto, considerando-se os aspectos da língua e do espaço?
   Empregando palavras indígenas e destacando elementos da fauna e da flora nacionais; por meio desse procedimento, o autor procurou criar uma literatura identificada com  nossa gente, nossa cultura e nossa natureza.

3) Tomando por base a leitura do capítulo II, acima, aponte a opção que apresenta a correlação ERRADA.
A) Graúna - pássaro de cor negra luzidia.
B) Ará - palmeira de grandes espinhos.
C) Oiticica - árvore frondosa, apreciada pela deliciosa frescura que derrama sua sombra.
D) Jati - pequena abelha que fabrica delicioso mel.
E) Uru - cestinho que servia de cofre às selvagens para guardar seus objetos de estimação.

       Ará: periquito

4) O surgimento de Martim, o guerreiro branco, representa o primeiro contato entre Iracema e a civilização europeia. Esse encontro provocará a sucessão dos acontecimentos narrados nos capítulos posteriores do livro: o amor de Iracema por Martim; sua exclusão da tribo tabajara; sua partida para o litoral cearense, acompanhando o amante; o nascimento de um filho (Moacir, símbolo do primeiro cearense); a morte de Iracema.
a) Considerando as consequências futuras desse encontro, explique o significado simbólico e premonitório que podemos atribuir à frase "Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta".
    Não é apenas a harmonia da sesta que se quebra. O contato com a civilização quebrará a harmonia da vida selvagem, a harmonia existente entre Iracema e a natureza.
b) Ferido por Iracema, qual foi a atitude de Martim?
    Num primeiro gesto, Martim levou a mão à espada para defender-se. Mas, percebendo que quem o atacava era uma mulher, ele apenas sorriu.
c) Em que sentido a atitude de Martim está ligada à idealização romântica da mulher?
   Para Martim, era inconcebível que uma mulher representasse um perigo do qual ele necessitasse se defender. Como personagem romântico, ele vê a mulher como um ser essencialmente bom e puro, feito apenas de ternura e amor.

                                             BONS ESTUDOS!




3 comentários:

  1. Gostei bastante das quentões usarei com meus alunos Obrigada!

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  2. Há quantos anos li Iracema?
    Lá nos idos anos 'teen' e, hoje, especificamente realizando um trabalho cristão com adolescentes e pesquisando sobre o padrão de beleza imposto pela sociedade para um estudo com eles, apanhei alguns tipos de perfis de beleza e ao chegar na morena de cabelos longos, lembrei de Iracema e seus "cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira", e caí neste blog. Parabéns pelo trabalho. A literatura clássica é a literatura clássica. Resgatá-la é uma missão.



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