quinta-feira, 8 de junho de 2017

Via láctea (soneto XIII) e Nel mezzo del camin... (Exercícios resolvidos)



Você vai ler a seguir, dois dos mais conhecidos sonetos de Olavo Bilac.



Via Láctea


Soneto XIII
                     
 “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Nel mezzo del camin...
“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.”

1. No poema "Via láctea" há um diálogo sugerido pelo emprego de pronomes e verbos e pelo emprego das aspas. Identifique os interlocutores desse diálogo.
 O eu lírico, que é identificado pelos pronomes e verbos em 1ª pessoa, e seus interlocutores, vós, identificados pelo tratamento em 2ª pessoa do plural.
2. A propósito desse soneto:
a) Identifique no texto um exemplo de predomínio da emoção sobre a razão.
Principalmente no trecho "saudoso e em pranto", / "Inda as procuro pelo céu deserto".
b) O que é necessário, segundo o eu lírico, para estabelecer comunicação com as estrelas?
                                                    É necessário amar.
3. O poema "Nel mezzo del camin..." apresenta imagens e sugestões cenográficas, como se pudéssemos visualizar as cenas num palco. O texto pode ser dividido em duas partes ou em dois momentos de uma caminhada.
a) Qual é a primeira parte?
A primeira parte é constituída pela primeira estrofe.
b) E a segunda parte?
 A segunda parte é constituída pelas duas últimas estrofes.
A segunda estrofe refere-se  ao momento da interrupção da caminhada, ou seja, é o "mezzo del camin" ( no meio do caminho ).
c) Levante hipóteses: O que teria provocado a separação?
Talvez o desgaste do tempo ou o fim do amor.
d) Por que, na última estrofe, o eu lírico diz "tremo"?
Talvez porque, para ele, a separação tenha outro significado, ou seja, talvez ele ainda ame a mulher que parte.
4. O poema "Nel mezzo del camin..." apresenta várias repetições, algumas delas com inversão. Que efeito de sentido têm as repetições no poema?
Elas acentuam as ideias, reforçam as imagens e conferem ritmo ao texto.
5. Ambos os sonetos são muito apreciados pelo público e revelam as qualidades técnicas de Bilac como sonetista; contudo, não são os melhores exemplos da estética parnasiana. De que outro movimento literário notamos influência nesses textos? Justifique sua resposta.
Notam-se influências do Romantismo, principalmente no primeiro texto, em que o sentimento prevalece sobre a razão. O segundo texto, embora mais contido emocionalmente do que o primeiro e em transição para o Parnasianismo, ainda revela um enfoque romântico do amor ao tratá-lo pela perspectiva da frustração. 
       O AUTOR:
Olavo Bilac (1865 - 1918) nasceu no Rio de Janeiro, estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum desses cursos. Exerceu as atividades de jornalista e inspetor escolar, tendo devotado boa parte de seu trabalho e de seus escritos à educação. Foi defensor da instrução primária, da educação física e do serviço militar obrigatório. Patriota, escreveu a letra do Hino à Bandeira e dedicou-se a temas de caráter histórico - nacionalista.
Sua primeira obra publicada foi Poesias (1888). Nela, o poeta já demonstrava estar plenamente identificado com as propostas do Parnasianismo, como comprova seu  poema " Profissão de Fé ". Mas a concepção poética excessivamente formalista defendida por esse poema nem o próprio Bilac seguiu à risca.  Vez ou outra depreende-se de seus textos certa valorização dos sentimentos que lembra o Romantismo. Apesar de menos conhecidos ao público, há na produção de Bilac poemas amorosos de forte sensualidade, que o tornam  sempre lembrado entre os autores brasileiros que cultivaram a poesia erótica.                   
                                                                 BONS ESTUDOS!
FONTE:
Cereja, William Roberto
         Português linguagens: volume 2 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. __  9. ed. reform. __  São Paulo: Saraiva, 2013.  

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