O texto que segue, a parte IV de "O navio negreiro", é a descrição do que se via no interior de um navio negreiro. Perceba a capacidade de Castro Alves em nos fazer ver a cena, como se estivéssemos num teatro.
Era um sonho dantesco... O tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra.
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
açoite: chicote.
arquejar: ofegar.
dantesco: relativo às cenas de horríveis narradas por Dante Alighieri em sua obra Divina comédia, na parte em que descreve o inferno.
luzernas: clarões.
tombadilho: alojamento do navio.
turbilhão: redemoinho.
vãs: inúteis, sem valor.
1. O texto revela grande força expressiva em razão de sua plasticidade, criada a partir das fortes imagens e das sugestões de cor, som e movimento que envolvem a cena. Com relação a esses recursos, responda:
a) A que se referem as metáforas "a orquestra" e "a serpente" na 3ª e na 6ª estrofes?
A "orquestra" é metáfora do conjunto de sons (gritos, lamentos) emitidos pelos negros maltratados. A "serpente" é o chicote.
b) Duas cores são postas em contraste na 1ª e na 2ª estrofes. Quais são elas e o que representam?
As cores são o vermelho e o preto que compõem o dramático painel em que o sangue dos escravos contrasta com o negro de sua pele.
c) Observe a 1ª, 3ª, 4ª e 5ª estrofes e destaque delas palavras ou expressões que sugiram movimento.
Entre outras, "Horrendos a dançar", "a serpente/Faz doudas espirais...", "Fazei-os mais dançar!...".
d) Observe a 1ª e a 3ª estrofes e destaque delas palavras ou expressões que se associem a sonoridade.
"Tinir de ferros... estalar de açoite...", "E ri-se a orquestra, irônica, estridente...","Ouvem-se gritos... o chicote estala."
2. Acentuando a plasticidade do texto, por duas vezes o poeta aproxima as ideias de som e movimento, empregando as palavras orquestra e dança, como se houvesse uma dança dos escravos ao som da orquestra. De acordo com o texto, explique que tipo de dança os escravos realizam.
A dança dos escravos é , na verdade, o conjunto de movimentos - acompanhados pelos gritos de dor (a orquestra) - que os negros fazem ao serem chicoteados.
3. Além de antíteses, também hipérboles foram empregadas nesse poema de Castro Alves. A hipérbole é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero na expressão. Destaque da 1ª estrofe três hipérboles e indique que efeito de sentido têm no texto.
Há hipérboles em "sonho dantesco", "Em sangue a se banhar" e "Legiões de homens", que acentuam o tom trágico da cena descrita.
4. O poema "O navio negreiro" tem uma finalidade política e social evidente: a erradicação da escravidão no Brasil. De que modo o poeta procura atingir o público e convencê-lo de suas ideias: com argumentos racionais ou com a exploração das emoções? Justifique.
A base de argumentação da parte IV é a emoção. A plasticidade da cena e o detalhamento das descrições levam o leitor a compor um rico painel de suplícios da escravidão e, dessa forma, sensibilizar-se diante da causa defendida pelo poeta.
BONS ESTUDOS!
FONTE:
Cereja, William Roberto
Português linguagens: volume 2 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. __ 9. ed. reform. __ São Paulo: Saraiva, 2013.
Cereja, William Roberto
Português linguagens: volume 2 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. __ 9. ed. reform. __ São Paulo: Saraiva, 2013.
vlw
ResponderExcluirobrigada
ResponderExcluirObrigado
ResponderExcluirMuuuuuito Obrigadaaaa ♥️♥️💥
ResponderExcluirMuuuuuito obg 👍😙
ResponderExcluirObrigadaa💕
ResponderExcluirValeu
ResponderExcluir😊😊
Muito obrigado
ResponderExcluirMuito obrigada.
ResponderExcluir