Precisamos falar
sobre abuso
Quando resolvemos falar sobre abuso, a
primeira coisa que vem à cabeça de muitas pessoas é o abuso sexual. Mas
acredite! Existe outro tipo de abuso que machuca muito também. Chama-se
relacionamento abusivo, que não maltrata o corpo, mas a alma.
Há alguns anos conheci um rapaz pela
internet. Eu era muito nova, tinha 12 anos, praticamente uma criança. Foi
durante a madrugada de uma quarta-feira de agosto de 2013.
Tudo começou com uma conversa, com
apenas uma conversa, porém muito atraente. Ele sempre me elogiava dizendo o
quão linda eu era. Essa conversa estendeu-se por muitos dias até nos
conhecermos pessoalmente. A sensação de conforto tornou-se ainda maior. Eu
apenas estranhava porque ele pedia pra manter nossa relação em segredo. Mas a
loucura e o medo de perdê-lo era tão grande que eu aceitava.
O tempo passou e descobri a primeira
traição. Foi como se o chão tivesse aberto sobre meus pés, e quando o
questionei, ele ainda me culpou por tudo e disse que se eu não o valorizava, ele
tinha que encontrar isso na rua.
Eu não entendia. Como que eu não o
valorizava? Eu fazia de tudo pra manter nosso relacionamento vivo. Agarrava
esse amor com unhas e dentes. Não queria perdê-lo de forma alguma porque ele
sempre me dizia que eu nunca encontraria alguém igual a ele e isso me
despertava medo, tanto medo de ficar sozinha, medo de não ser amada por outro.
Então eu o perdoei e ele jurou que nunca mais faria aquilo novamente. Pobre
criança iludida! Mal sabia que ali era apenas o começo de uma grande tempestade
que estava por vir.
Esse relacionamento estendeu-se por
longos quatro anos. Quatro anos de muitas traições por parte dele. Eu acabei
aprendendo a trair também e quando ele descobriu, choveram xingamentos sobre
mim. Nunca me senti tão humilhada quanto naquele dia. Mesmo assim, voltamos.
Minha mãe acabou descobrindo e por inúmeras vezes tentou me tirar dele, mas eu
não aceitava. Pra mim, ele era o verdadeiro príncipe encantado.
Algum tempo passou e foi neste ano que
descobri o real significado de assistir a um filme de terror. O príncipe virou
um monstro. Os elogios que eu raramente ouvia, tornaram-se palavras horríveis.
Ele dizia que eu necessitava dele, que o meu corpo não era bonito e parecia um
saco de ossos, que não adiantava eu me arrumar. Além disso, enviava fotos de
outras mulheres e falava que aquilo sim era corpo de verdade. Enfim, a sensação
de conforto tornou-se uma sensação de prisão. O amor virou posse, eu já não
podia ir às festas, nem sair com as amigas.
Até que um dia, em um surto de
coragem, eu resolvi colocar fim naquilo tudo, pois aquela relação só me fazia
mal, só me magoava, e o adeus dele já não me deixava triste.
Se eu pudesse voltar no tempo e
conversar com aquela menina de anos atrás, que vivia chorando desesperada, eu
apenas falaria: “Acalme sua alma, você é linda! Ele não a ama e você é capaz
de deixá-lo. Escute sua mãe porque ela tem razão.”
Hoje eu me sinto livre, ainda
adaptando-me a esta nova fase, porém muito feliz. Não mantenho mais contato com
ele e nem pretendo.
Lembro que no fim da nossa conversa
ele ainda teve coragem de falar que eu nunca encontraria alguém igual a ele e
eu sorri e respondi: “Deus te ouça!”
MYLENNA, 1º C, UNIDADE ESCOLAR
DEMERVAL LOBÃO; SETEMBRO DE 2017. ANGICAL, PI.
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