sexta-feira, 12 de junho de 2020

OS GÊNEROS LITERÁRIOS: RESUMO E ATIVIDADE

            

 

´  O termo “gênero” designa as famílias de obras literárias dotadas de características iguais ou semelhantes, sendo por muito tempo dividido em três grupos: épico, lírico e dramático.

´  Tal divisão foi proposta na Grécia Antiga pelo filósofo grego Aristóteles.

´  Porém, os gêneros “não são espartilhos sufocantes nem moldes fixos”, pois, com o passar dos anos, foram se modificando e se mesclando, sendo possível perceber a utilização de características de uns em outros. Exemplo: características líricas em textos narrativos.

 

Gênero Épico

 

 

´  Escrito em forma de versos.

´  É um poema narrativo em terceira pessoa que trata de fatos passados e grandiosos.

´  Dividido em Cantos.

´  Marcado pela objetividade.

´  Tem como eixo central a figura do herói e suas façanhas.

´  Mistura elementos terrenos com elementos lendários e mitológicos.

´  Apresenta as seguintes partes: Introdução, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo.

OS GRANDES POETAS ÉPICOS

´  Homero e Virgílio foram os grandes poetas da épica clássica.

´  A Ilíada e a Odisseia são os dois poemas épicos que inauguraram a literatura ocidental.

´  Na literatura de língua portuguesa, o grande poeta épico é Luís de Camões, que escreveu Os Lusíadas, epopeia que narra os feitos do povo português.

                              No Brasil, entre os vários poemas épicos produzidos - a maioria deles conforme o modelo oferecido por Camões - destacam-se Caramuru, de Santa Rita Durão, e O Uraguai, de Basílio da Gama.

´  O gênero épico perdeu sua força, pois se desdobrou em um quarto gênero: o narrativo, que possui vários subgêneros, como a crônica, a novela, o romance, a fábula etc.

GÊNERO NARRATIVO MODERNO

´  Com o Romantismo, no final do século XVIII e início do século XIX, atendendo às expectativas do novo público leitor, o gênero épico transforma-se na narrativa de ficção.

´  O romance é a manifestação mais importante dessa época e até hoje.

´  São gêneros narrativos modernos, por exemplo, o romance, a novela, o conto e a crônica. Qualquer um desses gêneros tem como elementos básicos de sua estrutura os fatos narrados numa sequência de causa e efeito, as personagens, o tempo, o ponto de vista do narrador.

 

GÊNERO DRAMÁTICO

 

 

´  Textos destinados à representação.

´  Surgiu nas festas religiosas em homenagem ao deus grego Dionísio (Baco).

´  Sófocles, Ésquilo e Eurípedes são importantes dramaturgos da Antiguidade. Shakespeare, já na Era Moderna, é outro grande nome do gênero.

´  Deve ser encenado por atores.

´  Apresenta-se em forma de diálogo (discurso direto), dividido em atos e cenas.

´  Não possui narrador. As informações são dadas através das rubricas, apresentadas, normalmente, em itálico e entre parênteses.

´  O teatro clássico envolve a catarse (Libertação de sentimentos reprimidos).

´  Segundo Aristóteles, os subgêneros do drama são a tragédia e a comédia.

 

GÊNERO LÍRICO

 

 

´  A principal característica do gênero em questão é a subjetividade. Por meio da poesia, o autor revela suas impressões ligadas ao mais profundo “eu”, extravasando emoções e sentimentos pela expressão verbal rítmica e melodiosa.

Cultuado desde os tempos da Antiguidade, era representado pelo canto, forma pela qual as composições poéticas eram apresentadas, acompanhadas do som de uma lira – o instrumento musical de cordas mais popular daquela época.

´  Há que se ressaltar que, além do espírito subjetivo, a poesia lírica  ainda conta com a participação do “eu lírico”, ou seja, a própria voz que fala no poema, expressa pelas emoções e pelo sentimentalismo, no qual o eu poético não mantém nenhuma ligação com o artista (o poeta).

´  Soneto – É um poema composto por quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos (quartetos) e as duas últimas com três versos (tercetos). Essa forma perpetuou-se por todos os estilos literários, atingindo a contemporaneidade.

 

                                               ATIVIDADE

 

 O escritor gaúcho Moacyr Scliar escreveu, durante anos, no jornal Folha de São Paulo, crônicas inspiradas nos acontecimentos cotidianos divulgados pelo jornal. Você vai ler, a seguir, a última crônica que o escritor publicou nesse jornal, e vai ler também a notícia na qual ele se inspirou para escrever a crônica.

Texto I

Cientistas americanos estudam o caso de uma mulher portadora de uma rara condição, em resultado da qual ela não tem medo de nada.

(Folha de S. Paulo, 17/12/2010. Cotidiano.)

 

Texto II

A mulher sem medo

 Ele não sabia o que o esperava quando, levado mais pela curiosidade do que pela paixão, começou a namorar a mulher sem medo. Na verdade, havia aí também um elemento interesseiro; tinha um projeto secreto, que era o de escrever um livro chamado "A Vida com a Mulher sem Medo", uma obra que, imaginava, poderia fazer enorme sucesso, trazendo-lhe fama e fortuna. Mas ele não tinha a menor ideia do que viria a acontecer.

Dominador, o homem queria ser o rei da casa. Suas ordens deveriam ser rigorosamente obedecidas pela mulher. Mas como impor sua vontade? Como muitos ele recorria a ameaças: quero o café servido às nove horas da manhã, senão...

Acontece que a mulher simplesmente não tomava conhecimento disso; ao contrário, ria às gargalhadas. Não temia gritos, não temia tapas, não temia qualquer tipo de castigo. E até dizia, gentil: "Bem que eu queria ficar assustada com suas ameaças, como prova de consideração e de afeto, mas você vê, não consigo."

Aquilo, além de humilhá-lo profundamente, deixava-o completamente perturbado. Meter medo na mulher transformou-se para ele em questão de honra. Tinha de vê-la pálida, trêmula, gritando por socorro. Como fazê-lo? Pensou muito a respeito e chegou a uma conclusão: para amedrontá-la só barata ou rato. Resolveu optar pela barata, por uma questão de facilidade: perto de onde moravam havia um velho depósito abandonado, cheio de baratas. Foi até lá e conseguiu quatro exemplares, que guardou num vidro de boca larga.

Voltou para casa e ficou esperando que a mulher chegasse, quando então soltaria as baratas. Já antegozava a cena: ela sem dúvida subiria numa cadeira, gritando histericamente. E ele enfim se sentiria o vencedor.

Foi neste momento que o rato apareceu. Coisa surpreendente, porque ali não havia ratos, sobretudo um roedor como aquele, enorme, ameaçador, o Rei dos Ratos.

Quando a mulher finalmente retornou encontrou-o de pé sobre uma cadeira, agarrado ao vidro com as baratas, gritando histericamente. Fazendo jus à fama ela não demonstrou o menor temor; ao contrário, ria às gargalhadas. Foi buscar uma vassoura, caçou o rato pela sala, conseguiu encurralá-lo e liquidou-o sem maiores problemas. Feito que ajudou o homem, ainda trêmulo, a descer da cadeira. E aí viu que ele segurava o vidro com as quatro baratas. O que a deixou assombrada: o que pretendia ele fazer com os pobres insetos? Ou aquilo era um novo tipo de perversão?

Àquela altura ele já nem sabia o que dizer. Confessar que se tratava do derradeiro truque para assustá-la seria um vexame, mesmo porque, como ele agora o constatava, ela não tinha medo de baratas, assim como não tivera medo do rato. O jeito era aceitar a situação. E admitir que viver com uma mulher sem medo era uma coisa no mínimo amedrontadora.

(Moacyr Scliar. Folha de S. Paulo, 17/01/2011.)

1) Qual texto aborda uma situação que realmente aconteceu?

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2) De acordo com o primeiro parágrafo do texto II, por que a atração do homem pela “mulher sem medo” foi movida por um elemento interesseiro?

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3) No texto II, o que a narrativa revela em relação às características psicológicas do marido ao longo da história?

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4) Em sua última tentativa de amedrontar a mulher, o homem pensa em baratas e ratos. O que o resultado dessa experiência mostrou quanto a quem tinha medo desses seres?

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5) Considerando as reflexões que você fez sobre a linguagem dos textos em estudo, responda: Qual deles é um texto literário? Por quê?

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6) O texto “A mulher sem medo” pertence a qual gênero literário (lírico, narrativo ou dramático)? Justifique sua resposta.

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Leia os textos a seguir e diga a qual gênero literário pertence cada um deles (lírico, épico, dramático ou narrativo moderno? ). Em seguida, justifique sua resposta:

7)                                                                 A partida

Acordei pela madrugada. A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.

Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras… que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?

LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.

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8) Reinvenção

A vida só é possível

reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada.

[...]

                                           Cecília Meireles. Reinvenção.

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9) João Grilo: – Padre João! Padre João!
Padre, aparecendo na igreja: – Que há? Que gritaria é essa?
Chicó: – Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer.
Padre: – Para eu benzer?
Chicó: – Sim.
Padre, com desprezo: – Um cachorro?
Chicó: – Sim.
Padre: – Que maluquice! Que besteira!
João Grilo: – Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque benze, vim com ele.
Padre: – Não benzo de jeito nenhum.

[...]

Ariano Suassuna. O auto da Compadecida.

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10.

 Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !

Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !

E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim !

                              (Florbela Espanca)

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11.

         As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
E em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1980.

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12.

PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra. BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.

EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.

BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.

EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!

BENONA: Isso são coisas passadas.

EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.

      SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento)

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                                                          Bons estudos!

 


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