terça-feira, 29 de março de 2022

Meu sonho ( Álvares de Azevedo: Lira dos vinte anos) - Exercícios com gabarito

 

                            Meu sonho ( Álvares de Azevedo: Lira dos vinte anos)

Eu

Cavaleiro das armas escuras,

Onde vais pelas trevas impuras

Com a espada sanguenta na mão?

Por que brilham teus olhos ardentes

E gemidos nos lábios frementes

Vertem fogo do teu coração?

 

 Cavaleiro, quem és? O remorso?

Do corcel te debruças no dorso...

E galopas do vale através...

Oh! Da estrada acordando as poeiras

Não escutas gritar as caveiras

E morder-te o fantasma nos pés?

 

Onde vais pelas trevas impuras,

Cavaleiro das armas escuras,

Macilento qual morto na tumba?...

Tu escutas... Na longa montanha

Um tropel teu galope acompanha?

E um clamor de vingança retumba?

 

Cavaleiro, quem és? --- que mistério,

Quem te força da morte no império,

Pela noite assombrada a vagar?

 

O fantasma

Sou o sonho de tua esperança,

Tua febre que nunca descansa,

O delírio que te há de matar!...

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Rio de Janeiro: Garnier, 1994. p. 153.

 

Releitura

1. Frequentemente o individualismo romântico torna-se um egocentrismo doentio, que provoca a recusa e a fuga da realidade. Em qual dimensão da vivência do sujeito lírico ocorre o diálogo com o misterioso cavaleiro?

Ocorre na dimensão do sonho, da fantasia ou do delírio.

2. O que a figura do cavaleiro representa?

Representa a morte, motivada pelos sonhos de esperança e pelos delírios do sujeito lírico.

3. No Romantismo, a descrição da natureza tem função expressiva, ecoando os estados de espírito do sujeito lírico: a noite, os ventos, a tempestade refletem as angústias, o desespero, o medo, o terror; o luar emoldura a melancolia, a saudade, os suspiros amorosos; os lugares ermos, as montanhas, os vales, os desertos são os ambientes da solidão e da esperança.

a) Faça uma lista das expressões que descrevem o ambiente fantasmagórico do poema.

“trevas impuras”, “galopas do vale através”, “da estrada acordando as poeiras”, “gritar as caveiras”, “morder-te o fantasma nos pés?”, “longa montanha”, “noite assombrada” etc.

b) Que sentimentos esse ambiente reflete?

Reflete os sentimentos pessimistas do sujeito lírico: solidão, desespero de viver, fatalismo.


                              BONS ESTUDOS!

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 22 de março de 2022

Triste fim de Policarpo Quaresma: exercícios com gabarito

 

 

O fragmento a seguir situa-se no último capítulo de Triste fim de Policarpo Quaresma e mostra Quaresma logo após ter denunciado ao presidente marechal Floriano Peixoto as injustiças feitas aos prisioneiros na prisão.

                                        



            Como lhe parecia ilógico com ele mesmo estar ali metido naquele estreito calabouço? Pois ele, o Quaresma plácido, o Quaresma de tão profundos pensamentos patrióticos, merecia aquele triste fim? De que maneira sorrateira o Destino o arrastara até ali, sem que ele pudesse pressentir o seu extravagante propósito, tão aparentemente sem relação com o resto da sua vida? Teria sido ele com os seus atos passados, com as suas ações encadeadas no tempo, que fizera com que aquele velho deus docilmente o trouxesse até à execução de tal desígnio? Ou teriam sido os fatos externos, que venceram a ele, Quaresma, e fizeram-no escravo da sentença da onipotente divindade? Ele não sabia, e, quando teimava em pensar, as duas coisas se baralhavam, se emaranhavam e a conclusão certa e exata lhe fugia.

            Não estava ali há muitas horas. Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama; e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-lo à fraca luz da masmorra, imaginava podiam ser onze horas.

            Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o conduzira, nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra da ilha das Enxadas para a das Cobras, não trocara palavra com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho, nem o próprio Ricardo que lhe podia, com um olhar, com um gesto, trazer sossego às suas dúvidas. Entretanto, ele atribuía a prisão à carta que escrevera ao presidente, protestando contra a cena que presenciara na véspera.

            Não se pudera conter. Aquela leva de desgraçados a sair assim, a desoras, escolhidos a esmo, para uma carniçaria distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera diante dos seus olhos todos os seus princípios morais; desafiara a sua coragem moral e a sua solidariedade humana; e ele escrevera a carta com veemência, com paixão, indignado. Nada omitiu do seu pensamento; falou claro, franca e nitidamente.

            Devia ser por isso que ele estava ali naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase sem comer... Como acabarei? Como acabarei? E a pergunta lhe vinha, no meio da revoada de pensamentos que aquela angústia provocava pensar. Não havia base para qualquer hipótese. Era de conduta tão irregular e incerta o Governo que tudo ele podia esperar: a liberdade ou a morte, mais esta que aquela.

            O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem na consciência coisa sua, própria, e altamente honrosa.

            Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara - todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.

            Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.

                                                                                 http://www.spectroeditora.com.br/

 

1. Policarpo Quaresma participava como voluntário na Revolta da Armada, ao lado de Floriano Peixoto, quando foi preso. De acordo com as pistas do texto, levante hipóteses:

a) Por que Quaresma foi preso?  Por ter feito uma crítica ao modo como os presos eram tratados na prisão.

b) O que provavelmente ele viu na prisão, e o teria levado a escrever a carta-denúncia?

Quaresma, como carcereiro, vira presos serem levados para serem fuzilados às escondidas.

c) Como Quaresma supõe que Floriano Peixoto interpretou essa iniciativa dele?

Como traição.

2. Na prisão, Quaresma faz uma retrospectiva e uma avaliação de sua vida, de sua conduta e de seus valores. A que conclusão chega?

Ele chega à conclusão de que tudo fora inútil, pois não houve reconhecimento de seus esforços pelo bem do Brasil.

3. Observe estes fragmentos do texto:

“e agora que estava na velhice, como ela [a pátria] o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o.”

“Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras?

a) Nesses fragmentos, a quem Quaresma atribui a responsabilidade, respectivamente, por sua prisão e pela violência da guerra?

À pátria e ao povo.

b) Quem, na verdade, tinha responsabilidade por tais ocorrências?

O governo do marechal Floriano.

c) Apesar de Quaresma fazer uma autocrítica, que característica da personagem ainda se mantém nesses fragmentos?

A ingenuidade.

4. No texto, é empregada a técnica do discurso indireto livre. Identifique um trecho em que tal recurso foi utilizado e explique o efeito de sentido que ele provoca no texto.

“Como acabarei? Como acabarei?”. O emprego do discurso indireto livre permite retratar de modo mais aprofundado o estado psicológico de Quaresma na prisão.

5. No final do texto se lê: “ A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções”. Explique a diferença de sentido entre “série de decepções” e “encadeamento de decepções”.

“Série de decepções” dá uma noção de sequência, apenas. Já “encadeamento de decepções” dá uma ideia de causa e efeito, isto é, uma decepção leva a outra, e assim sucessivamente.

6. Policarpo Quaresma, muitas vezes associado a D. Quixote, personagem de Miguel de Cervantes, é um típico herói problemático. Explique por quê.

Porque era um idealista, um visionário, que se frustra ao ver que seus projetos não são compatíveis com a realidade do país.

7. Pode-se dizer que o romance Triste fim de Policarpo Quaresma faz uma crítica à sociedade da época. Qual é o alvo dessa crítica?

Entre outras possibilidades: por um lado, o nacionalismo ingênuo e desprovido de críticas cultivado por algumas pessoas e grupos sociais; por outro, o autoritarismo e a falta de valores éticos e morais dos governantes.


                       BONS ESTUDOS!

FONTE: 

Cereja, William Roberto

       Português linguagens: volume 3 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. - 7. ed. reform. - São Paulo: Saraiva 2010.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Continuidade dos parques, de Julio Cortázar ( Exercícios com gabarito)

                      Continuidade dos parques

                                               Julio Cortázar

 

                        


 

            Começara a ler o romance dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou à leitura quando regressava de trem à fazenda; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador e discutir com o capataz uma questão de parceria, voltou ao livro na tranquilidade do escritório que dava para o parque de carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissões, deixou que sua mão esquerda acariciasse de quando em quando o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar linha a linha daquilo que o rodeava, e sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que além dos janelões dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicotaço de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal ficava morno junto a seu peito, e debaixo batia a liberdade escondida. Um diálogo envolvente corria pelas páginas como um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possíveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se interrompia para que a mão de um acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer.

            Já sem se olhar, ligados firmemente à tarefa que os aguardava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao Norte. Do caminho oposto, ele se voltou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez, esquivando-se de árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a alameda que levaria à casa. Os cachorros não deviam latir, e não latiram. O capataz não estaria àquela hora, e não estava. Subiu os três degraus do pórtico e entrou. Pelo sangue galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.

                                                Do livro Final do jogo. Tradução de Remy Gorga Filho

 

1. O conto está centrado na figura de um leitor.

a) Considere as informações sobre ele e trace um perfil.

O personagem leitor do romance parece ser um homem que gosta de ler e que é abastado, uma vez que tem um sítio e conta com o trabalho de funcionários como um mordomo e um procurador.

b) Descreva o ambiente onde a personagem se encontra. O que ele sugere.

Um escritório com vista para um parque de carvalhos e poltrona de veludo verde de espaldar alto. Sugere conforto, aconchego.

2. O espaço está dividido principalmente entre o escritório e o parque dos carvalhos.

a) Que outra divisão a duplicidade do espaço marca?

Divisão entre a realidade (dos negócios urgentes, da carta ao procurador, da discussão com o mordomo) e a história que a personagem lê no romance.

b) Como essa divisão é quebrada?

Ela é quebrada ao final do conto, quando a história do romance chega à realidade do escritório da personagem e a sua figura sentada na poltrona.

3. O romance que o leitor personagem lê conta com muitas peripécias, ou seja, acontecimentos que marcam mudanças na trajetória da história. As peripécias são muito presentes nos folhetins: histórias publicadas em capítulos no rodapé dos jornais do século XIX cujos finais eram marcados por uma peripécia que deixava o leitor querendo saber como continuaria a história. Esse recurso de construção narrativa garantia o interesse do leitor e a venda das edições seguintes do jornal.

a) Quais acontecimentos presentes no romance podem ser considerados típicos desse tipo de história?

A paixão secreta, o encontro proibido entre os amantes em uma cabana, os beijos, “as cerimônias de uma paixão secreta”, o punhal furtivo, álibis, a separação em caminhos opostos, a mulher correr com o cabelo solto no crepúsculo etc. Além disso, o final marcado por uma tensão sobre o que acontecerá em seguida seria um gancho para causar no leitor a vontade de continuar a leitura.

b) Que tipo de envolvimento a personagem do conto tem com o romance que lê?

Ela se entrega à história, deixa-se absorver por ela.

4. O conto tem um ponto que marca a fusão dos espaços.

a) Copie o trecho em que isso acontece.

“Palavra por palavra, absorvido pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte”.

b) Releia: “Mesmo essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir”. Qual corpo é preciso destruir?

O texto sugere que, ao encontrar com o amante, a mulher pensa sobre destruir o corpo de seu marido para poder se entregar à paixão proibida.

5. O final do conto guarda uma surpresa para o leitor.

a) Qual leitor é surpreendido?

Tanto o leitor do romance como o do conto de Cortázar.

b) O leitor do romance, nesse contexto, é leitor ou personagem? Explique.

O leitor do romance é duplamente personagem: do conto de Cortázar e do romance que lê.

6. O conto de Cortázar pode ser lido como uma brincadeira que o autor faz com o leitor de seu próprio conto. Mas também pode ser entendido como uma crítica à condição de um certo tipo de leitor.

a) Nesse jogo com o leitor do conto de Cortázar, o que sugere a cena final?

Sugere que qualquer leitor pode ser apunhalado pela surpresa da trama se mantiver uma postura ingênua diante do que lê.

b) Compreender esse tipo de jogo exige uma atitude diferente da que o leitor personagem do conto mantém diante do romance que lê. Qual atitude se exige?

Exige uma atitude participativa da construção do sentido do texto, não apenas de “entrar na história”, mas também de questioná-la.

7. Todo texto defende uma ideia. Considere as reflexões que a questão 6 provocou e responda: que ideia o conto de Cortázar defende? Do que ele fala em sua camada propositiva?

Resposta pessoal.

8. Que explicação poderia justificar o título do conto?

A ideia de continuidade se traduz na circularidade do conto, que termina dentro do mesmo espaço onde começa, trazendo para dentro do gabinete a trama que sai do livro e continua no espaço da realidade do leitor personagem; a ideia de continuidade também está presente no jogo com o leitor do conto de Cortázar, que se projeta na personagem, que tanto pode se envolver na trama relatada quanto se surpreender diante do inesperado final.

 

Fonte:

Campos, Maria Tereza Rangel Arruda

     Multiversos: língua portuguesa: ensino médio/

Maria Tereza Rangel Arruda Campos, Lucas Kiyoharu

Sanches Oda. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2020.


domingo, 20 de março de 2022

Confronto, de Carlos Drummond de Andrade - Exercícios com gabarito



 Confronto ( Carlos Drummond de Andrade)

Bateu Amor à porta da Loucura.

"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão.

Só tu me limparás da lama escura

a que me conduziu minha paixão."


A Loucura desdenha recebê-lo,

sabendo quanto Amor vive de engano,

mas estarrece de surpresa ao vê-lo,

de humano que era, assim tão inumano.


E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.

Mais que ninguém mereces habitar 

minha casa infernal, feita de breu,


enquanto me retiro, sem destino,

pois não sei de mais triste desatino

que este mal sem perdão, o mal de amar."


1. Esse soneto de Drummond narra uma história. Quem são os personagens dessa história?

O Amor e a Loucura.

2. Por que o soneto tem este título: "Confronto"? Explique sua resposta.

Porque acontece um confronto entre o Amor e a Loucura. O Amor bate `a casa da Loucura pedindo abrigo. A Loucura, inicialmente, não quer recebê-lo, mas resolve deixar que ele habite sua casa. E vai embora.

3. Que argumento o Amor usa para convencer a Loucura a deixá-lo habitar sua casa?

O Amor se apresentou como irmão da Loucura.

4. O que significa dizer que o Amor é irmão da Loucura?

Significa dizer que a paixão pode levar as pessoas ao desatino, à loucura. A casa da loucura é "infernal", "cheia de breu", ou seja, amar pode significar, segundo as representações do texto, viver na escuridão.

5. Você concorda com essa forma de ver o amor?

Resposta pessoal.



Rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes (EXERCÍCIOS COM GABARITO)

                            

Rosa de Hiroshima (Vinicius de Moraes)

 


Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas, oh, não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A antirrosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa, sem nada

 

ATIVIDADES DE LEITURA

1. Qual é o assunto do poema de Vinícius de Moraes?

O poema fala da bomba de Hiroshima e denuncia o horror da guerra.

2. Procure explicar seu título.

A palavra “rosa”, neste título, é muito significativa. Ela remete à imagem da explosão da bomba, uma imagem de horror. Vinícius de Moraes desconstrói a associação da rosa com a beleza e a delicadeza para falar de uma rosa destrutiva, a bomba, a antirrosa.

3. Na primeira parte do poema, o poeta pede que pensemos nas crianças, meninas, mulheres, vítimas da bomba.

3.1. Sinalize, no texto, os adjetivos que caracterizam as vítimas da guerra atômica.

3.2. Procure explicar o sentido desses adjetivos.

Os adjetivos podem ser lidos como referência aos terríveis traumas psicológicos (“mudas/telepáticas”) ou físicos (“cegas/inexatas”), deixados pela guerra. A qualificação das mulheres como “rotas alteradas” faz referência às alterações genéticas que se verificaram, tempos depois, nos filhos das mulheres que sofreram a guerra atômica.

4. Na segunda parte do poema, o poeta qualifica a Rosa de Hiroshima como uma antirrosa.

4.1. Destaque, no texto, os adjetivos que ele utiliza para qualificar a rosa.

4.2. Procure explicar o sentido desses adjetivos.

A rosa hereditária, radioativa – os adjetivos fazem referência ao poder destrutivo da bomba, às deformações genéticas que deixou em muitas gerações.

A rosa estúpida e inválida – com essa adjetivação o poeta condena a bomba, a guerra.

A bomba é a rosa “sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada” – a bomba é a rosa que não é rosa.

                                                                            BONS ESTUDOS!