sábado, 25 de março de 2017

A importância da literatura para a comunicação


Hoje já chegamos a uma época em que os romancistas e os poetas são olhados como criaturas obsoletas, de priscas eras. No entanto, só eles, só a boa literatura poderá evitar o tráfico final desta mecanização: o homem criando mil milhões, virando máquina azeitada que age corretamente ao apertar do botão - estímulo adequado. A arte, e dentro dela a literatura, é talvez a mais poderosa arma para evitar o esclerosamento, para manter o homem vivo, sangue, carne, nervos, sensibilidade; para fazê-lo sofrer, angustiar-se, sorrir e chorar. E ele terá então a certeza de que ainda está vivo, de que continua escapando.
literatura é o retrato vivo da alma humana; é a presença do espírito na carne. Para quem, às vezes, se desespera, ela oferece consolo, mostrando que todo ser humano é igual, e que toda dor parecer ser a única; é ela que ensina aos homens os múltiplos caminhos do amor, enlaçando-os em risos e lágrimas, no seu sofrer semelhante; ela que vivifica a cada instante o fato de realmente sermos irmãos do mesmo barro.
A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está completa: o homem continua cada vez mais incomunicável ( porque deturpou o termo comunicação), incompreendido e incompreensível, porque se voltou para dentro e se autoanalisa continuamente, mas não troca com os outros estas experiências individuais; está " desaprendendo " a falar, usando somente o linguajar básico, essencial, e os gestos. Não lê, não se enriquece, não se transmite. Quem não lê, não escreve. Assim, o homem do século XX, bicho de concha, criatura intransitiva, se enfurna dentro de si próprio, ilhando-se cada vez mais, minado pelas duas doenças do nosso tempo: individualismo e solidão

( Ely Vieitez Lanes )

obsoleto: antigo, ultrapassado, arcaico.
priscas: primeiras


De acordo com o texto, a falta de comunicação e, consequentemente, o individualismo e a solidão são as doenças do mundo em que vivemos.
Segundo o ponto de vista do autor, a literatura é uma forma de o ser humano se comunicar com o próximo.

O TROVADORISMO: EXERCÍCIOS

Trovadorismo -  conjunto das manifestações literárias contemporâneas à primeira dinastia - a dinastia de Borgonha ( 1109-1385)

Chamamos de poesia trovadoresca à produção poética, em galego-português, do final do século XII ao século XIV. Seu apogeu ocorre no reinado de Afonso III, pelos meados do século XIII.

                                                   Características das cantigas


  • Língua: galego-português.
  • Tradição oral e coletiva. 
  • Poesia cantada e acompanhada por instrumentos musicais, colecionada em cancioneiros, ou seja, manuscritos.
  • Autores: trovadores.
  • Intérpretes: jograis, segréis e menestréis (artistas agregados às cortes ou que perambulavam pelas cidades e feiras.)
  • Gêneros: lírico (cantigas de amigo, cantigas de amor) e satírico ( cantigas de escárnio, cantigas de maldizer).


                                                          EXERCÍCIOS


                 CANTIGA DE AMIGO
                                              Martim Codax

             A             Ondas do mar de Vigo,
             B             se vistes meu amigo?
             R              E ai, Deus,, se verra cedo!
             a            Ondas do mar levado,
             b           se vistes meu amado?
             R            E ai Deus!, se verra cedo!
             B           Se vistes meu amigo,
             C           o por que eu sospiro?
             R         E ai Deus, se verra cedo!
              b         Se vistes meu amado,
              c         por que hei gram coidado?
              R          E ai Deus, se verra cedo!


TRADUÇÃO

Ondas do mar de Vigo
acaso vistes meu Amigo ?
Queira Deus que ele venha cedo!

Ondas do mar agitado,
acaso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amigo,
aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amado,
por quem tenho grande cuidado ?
Queira Deus que ele venha cedo!
                 In Elsa Gonçalves. A lírica galego-portuguesa. Lisboa, Editorial Comunicação, 1983, p. 161.

1) A voz que fala na cantiga é uma voz masculina ou feminina?
    Voz lírica feminina
2) A quem essa voz se dirige?
    Ela dirige-se às ondas do mar, na baía de Vigo.
3) Qual é a sua insistente pergunta?
    Ela pergunta se as ondas viram seu amado.
4) Qual é o desejo expresso no refrão?
    A moça exprime o desejo de que o amado retorne brevemente.

                   CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMIGO
  • Voz lírica feminina.
  • Tratamento dado ao namorado: amigo.
  • Expressão da vida campesina e urbana.
  • Realismo: fatos comuns da vida cotidiana.
  • Amor realizado ou possível - sofrimento amoroso.
  • Simplicidade - pequenos quadros sentimentais.
  • Paralelismo (estrutura repetitiva) e refrão.
  • Origem popular e autóctone ( isto é, na própria Península Ibérica ).

                                                           CANTIGA DE AMOR
                                                                                           D. Dinis

Quer'eu em maneira de proençal
fazer agora um cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.

Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a fez, que a fez sabedor
de todo bem e de mui gram valor,
e com tod'est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom  sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem,
quando nom quis que lh'outra foss'igual.

Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit', e por esto nom sei oj'eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.

                         TRADUÇÃO

Quero à moda provençal
fazer agora um cantar de amor,
e querei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam,
nem bondade; e mais vos direi sobre  ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela vale mais que todas as do mundo.

Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo,
quando a fez, que a fez conhecedora
de  todo bem e de muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também deu-lhe bom senso,
e desde então não lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela.

Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher, também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu.
            
         In Elsa Gonçalves. Op. cit.,p.284


5) A voz que fala na cantiga é masculina ou feminina?
    A voz que fala na cantiga é de um homem apaixonado.
6) Releia os três primeiros versos da primeira estrofe. Que objetivo a voz lírica anuncia?
    O objetivo da cantiga é elogiar, louvar ( loar ) a mulher amada.
7) Qual é a diferença formal mais evidente entre essa cantiga e a de Martim Codax?
    Diferentemente da cantiga de Martim Codax, esta não possui estrutura paralelística (versos repetidos) e não tem refrão.
8) Comparando ainda as duas cantigas, qual delas reflete uma visão mais realista do amor? Qual das cantigas reflete uma visão mais refinada e idealizada do amor?
   A cantiga de Martim Codax reflete uma visão mais realista, enquanto a de D. Dinis reflete uma visão mais refinada e idealizada do amor.

             CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMOR



  • Voz lírica masculina.
  • Tratamento dado à mulher: mia senhor.
  • Expressão da vida da corte.
  • Convenções do amor cortês: a) Idealização da mulher; b) Vassalagem amorosa ( o homem se rebaixa à condição de vassalo perante a dama ); c) Expressão da coita (palavra de origem galego-português que significa dor, sofrimento causado pelo amor incorrespondido).
  • Origem provençal ( a Provença, região do sul da França ).

              CANTIGA DE ESCÁRNIO

Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea! Se Deus me pardon!
E pois avedes tan gran coraçon
Que vos eu loe, en esta razon,
Vos quero ja loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora ja un bon cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!


                     João Garcia de Guilhade

                  TRADUÇÃO


Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!

Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!


Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
                                            (traduzido e adaptado)

                       CANTIGA DE MALDIZER

Nunca tal pulhice vi
como esta que um infanção
me faz; com indignação
a todos dizer ouvi.
O infanção, quando quer,
vai para a cama com a mulher
e nem se lembra de mim.

Nunca receio terá
de mim, que vota ao desdém.
À mulher, a quem quer bem,
sempre filhos lhe fará;
e seus, com desplante diz,
serem os três filhos que fiz.
Leve o demo o que me dá!

Folga ele e penso eu.
Não sei de dor semelhante;
deita-se com a minha amante
no leito que diz que é seu
e fica a dormir em paz.
E se filho ou filha faz
não reconhece que é meu.

  (João Garcia de Guilhade)

Infanção: antigo título de nobreza, inferior a fidalgo ou a rico-homem.
Desplante: atrevimento, ousadia, insolência.
Pulhice: malandragem, safadeza.


         CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS SATÍRICAS

CANTIGAS DE ESCÁRNIO:
     indiretas;
     uso da ironia e do equívoco.

CANTIGAS DE MALDIZER:
    diretas, sem equívocos;
    intenção difamatória;
    palavrões e xingamentos.


                                                   BONS ESTUDOS!


  FONTES:

  Cereja, William Roberto
          Português: linguagens, 1 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães - 9. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.

  Novas palavras: língua portuguesa: ensino médio / Emília Amaral... [et al.]. - 2.ed.renov. - São Paulo: FTD, 2005. - (Coleção novas palavras)






segunda-feira, 13 de março de 2017

Macunaíma ( exercícios resolvidos )


No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.



Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Sio incitavam a falar exclamava: 

 - Ai! que preguiça!. . .

 e não dizia mais nada."] Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.

Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.

Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que "espinho que pinica, de pequeno já traz ponta", e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.

Nem bem teve seis anos deram água num chocalho pra ele e Macunaíma principiou falando como todos. E pediu pra mãe que largasse da mandioca ralando na cevadeira e levasse ele passear no mato. A mãe não quis porque não podia largar da mandioca não. Macunaíma choramingou dia inteiro. De noite continuou chorando. No outro dia esperou com o olho esquerdo dormindo que a mãe principiasse o trabalho. Então pediu pra ela que largasse de tecer o paneiro de guarumá-membeca e levasse ele no mato passear. A mãe não quis porque não podia largar o paneiro não. E pediu pra nora, companheira de Jiguê que levasse o menino. A companheira de Jiguê era bem moça e chamava Sofará. Foi se aproximando ressabiada porém desta vez Macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém. A moça carregou o piá nas costas e foi até o pé de aninga na beira do rio. A água parará pra inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. O longe estava bonito com muitos biguás e biguatingas avoando na estrada do furo. A moça botou Macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!... e pediu pra Sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato, a moça fez. Mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. Andaram por lá muito.

Quando voltaram pra maloca a moça parecia muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. Era que o herói tinha brincado muito com ela. Nem bem ela deitou Macunaíma na rede, Jiguê já chegava de pescar de puçá e a companheira não trabalhara nada. Jiguê enquizlou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. Sofará agüentou a sova sem falar um isto.

Jiguê não desconfiou de nada e começou trançando corda com fibra de curauá. [...]
                                 
ANDRADE,Mário de.Macunaíma:o herói sem nenhum caráter. 23. ed. Belo Horizonte: Itatiaia. 1986. p. 9-10. (Coleção Buriti, 41.)

                                       COMPREENSÃO TEXTUAL

1. O primeiro parágrafo apresenta várias referências que levam o leitor a entender que a história se passa em uma aldeia indígena. Aponte-as.
 O ambiente (fundo do mato-virgem); os nomes indígenas Macunaíma, Uraricoera; a menção à tribo tapanhumas.

2. O herói é caracterizado como o filho mais novo de uma índia. Quem são seus outros irmãos? O que você observa sobre a diferença de idade entre eles?
 Maanape e Jiguê. A diferença de idade é bastante grande, pois o texto diz que Maanape já é bem velhinho.

3. O que você pode concluir a respeito da idade da mãe de Macunaíma? Que parte do texto confirma isso?
 Ela só pode ser bem idosa. O texto diz que Macunaíma " mijava quente na velha ".

4. As questões anteriores já devem tê-lo feito perceber que não se trata de uma história baseada em fatos prováveis, comuns à realidade. Que aspectos incomuns você pode destacar no texto?
 Existem muitos; apenas para apresentar alguns: o herói é indígena e negro, ao mesmo tempo; ficou sem falar, por preguiça; a diferença de idade entre ele e os irmãos; a mãe é muito idosa; o herói é criança, mas sua sexualidade é de adolescente ou de adulto. O menino se transforma num príncipe.

5. Depois de apresentar o nascimento e a infância do herói, o texto diz que "nem bem teve seis anos... principiou falando como todos". Qual foi o primeiro pedido de Macunaíma? Como foi atendido?
 Pediu à mãe que o levasse para passear; como a mãe estava ocupada, pediu a Sofará, sua jovem nora, que levasse o menino para passear.

               

domingo, 12 de março de 2017

Exercícios sobre a poesia de 30: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Morais

O poema que segue pertence ao livro Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930.
Texto para as questões de 1 a 3:
Quadrilha
Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


 1)  O poema “Quadrilha” aborda um tema caro à tradição poética: o amor e o relacionamento amoroso. A originalidade do poema está na forma como o tema é tratado.Com que tipo de visão o poeta aborda esse tema no poema: com uma visão  crítica, irônica ou trágica? 
                             Uma visão irônica.
2)  Resuma a ideia central do poema: De acordo com o texto, o que é o amor ou o relacionamento amoroso?
    É um eterno desencontro; sempre se ama a pessoa errada.
3)  Dos procedimentos formais da poesia de 22 relacionados a seguir, qual deles  NÃO pode ser observado em “Quadrilha”?
a)  Humor
b)  Linguagem simples e coloquial
c)  Fragmentação; flashes da realidade
d)  Verso livre

4)   O fragmento a seguir pertence ao poema “ POEMA DE SETE FACES”, de Carlos Drummond de Andrade. Leia-o e responda:
Quando nasci, um anjo torto                                
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
O gauchismo do eu lírico,ou seja, o lado torto, é anunciado por um “anjo torto”.O que diferencia os anjos das histórias religiosas do anjo do poema? 
  Os anjos bíblicos são anjos de luz: são bons, prenunciam coisas boas e auxiliam as pessoas. Já o anjo que apareceu para o eu lírico é " torto " e vive " " na sombra ". Como um anjo do mal, prevê-lhe um futuro gauche, lançando sobre ele uma espécie de maldição.
5) (UFU) Leia o poema abaixo:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas,
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa e fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?"
(Cecília Meireles)
Assinale a alternativa INCORRETA de acordo com o poema:
a) A expressão "mãos sem força", que aparece no primeiro verso da segunda estrofe, indica um lado fragilizado e impotente do "eu" poético diante de sua postura existencial.
b) As palavras mais sugerem do que escrevem, resultando, daí, a força das impressões sensoriais. Imagens visuais e auditivas, em outros poemas, sucedem-se a todo momento.
c) O tema revela uma busca da percepção de si mesmo. Antes de um simples retrato, o que se mostra é um autorretrato, por meio do qual o "eu" poético olha-se no presente, comparando-se com aquilo que foi no passado.
d) Não há no poema o registro de estados de ânimo vagos e quase incorpóreos, nem a noção de perda amorosa, abandono e solidão. 

                    Soneto de separação  (texto para as questões de 6 a 8)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
            (Vinícius de Morais)

6) Identifique a figura de linguagem a partir da qual, para estabelecer a oposição entre o passado e o presente, é construído todo o texto.
a) Pleonasmo
b) Antítese
c)Metáfora
d)Comparação
e)Ironia

7) O texto reitera a oposição entre como era no passado e como é no presente. Caracterize cada um desses momentos.
 Antes, tudo era bom; havia o riso, o beijo, a paixão, a alegria, etc. O presente é ruim, o oposto do passado: há pranto, espanto, pressentimento, drama, etc.
8) Com que finalidade foi empregada a expressão “ de repente” , repetida  várias vezes no soneto?
 Para acentuar o espanto causado pela separação inesperada.

      Soneto de Fidelidade ( texto para as questões 9 e 10 )

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Morais, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.

9) Interprete a metáfora presente no verso " Que não seja imortal, posto que é chama ".

 Como uma chama, o amor queima e ilumina, mas pode se apagar, pois tem duração finita.

10) Dê uma interpretação coerente ao paradoxo “ que seja infinito enquanto dure”, empregado pelo eu lírico para expressar seu conceito de fidelidade.
 A palavra infinito é empregada com valor qualitativo, e não temporal. Assim, para o eu lírico, fidelidade é sinônimo de entrega total, mesmo que numa relação passageira.

                                           BONS ESTUDOS!

quinta-feira, 9 de março de 2017

Exercícios sobre os Cantos IV e VIII de I - Juca Pirama, com gabarito




CANTO IV

Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.

Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.

Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.

Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes — escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.

E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.

Aos golpes do inimigo,
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mim!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.

Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d'espinhos
Chegamos aqui!

O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.

Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego
Qual seja, — dizei!

Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.

Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? — Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!

Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.

(Poemas de Gonçalves Dias. Seleção de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 119-122.)
             
CANTO VIII

" Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.

"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!

"Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.

"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!

"Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.

"Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."

 DIAS, Gonçalves. Poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1969. (Nossos Clássicos)



1) No canto IV do poema, o índio tupi narra a trajetória de sua vida e de sua tribo.
a) Como o índio via a si mesmo, até o momento em que foi aprisionado?
     O índio se via forte e corajoso, membro de uma grande nação tupi.
b) Qual é a atual condição de sua tribo?
     A nação tupi dizimada por tribos inimigas, não existe mais; seus últimos membros andam agora errantes.
c) Com quem e por que o índio foge?
    O índio foge acompanhado do pai, velho e cego, com a finalidade de salvá-lo e dar-lhe proteção.

2) Na 6ª estrofe do canto IV, o prisioneiro faz um pedido aos inimigos: " Deixai-me viver! ".
a) Que motivos alega, na 10ª e na 11ª estrofes, para que o deixem vivo?
    Alega ser a única razão de viver e o único meio de sobrevivência do pai.
b) Identifique na última estrofe os versos em que o prisioneiro propõe um acordo. Qual é esse acordo?
    " Serei vosso escravo: / Aqui virei ter " / Promete voltar e se entregar aos timbiras.

3) Seguindo os modelos do Romantismo europeu e a atração pelo medievalismo, nossos escritores encontraram no índio brasileiro o representante mais direto de nosso passado medieval - único habitante nestas terras antes do Descobrimento. Além disso, vivendo distante da civilização, nosso índio correspondia plenamente à concepção idealizada do " bom selvagem ", defendida por Rousseau. Observe o comportamento do índio tupi e indique:
a) uma característica dele que se assemelhe às do cavaleiro medieval;
    Certos valores do índio - honra, bondade, fidelidade ou amor filial, coragem - assemelham-se aos do cavaleiro medieval.
b) uma atitude dele que reforce o mito do " bom selvagem".
    Sua bondade filial e seu apego às tradições culturais primitivas de sua raça.


4) Qual foi o " crime " maior, cometido pelo jovem, do qual o velho pai o acusa?
    De chorar para não morrer, na presença de estranhos.

5) O que significava , para o velho indígena e para a nação Timbira, a atitude do jovem?
    Covardia, medo, fraqueza.

6) Analise a sonoridade e o ritmo desse poema, observando a disposição das rimas e a extensão regular dos versos nos dois cantos lidos. Depois, responda ao que se pede.

a) Os dois cantos apresentam a mesma extensão de versos? Explique.
    Não. O Canto IV é formado por redondilhas menores ( cinco sílabas poéticas ) e o Canto VIII é formado por versos de nove sílabas poéticas.

b) Qual é a disposição das rimas em cada canto?
    Canto IV: ABCBDB; Canto VIII: ABACDEEC

c) O ritmo do Canto VIII é semelhante ao Canto IV? Explique.
     Não. O ritmo,grave e ameaçador, produz um efeito de constrangimento, endossado pelo primeiro verso, em forma de pergunta. Está mais próximo a uma maldição: o pai, com ódio, pragueja contra o filho, deseja mal a ele, renega-o.