segunda-feira, 13 de março de 2017

Macunaíma ( exercícios resolvidos )


No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.



Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Sio incitavam a falar exclamava: 

 - Ai! que preguiça!. . .

 e não dizia mais nada."] Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.

Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.

Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que "espinho que pinica, de pequeno já traz ponta", e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.

Nem bem teve seis anos deram água num chocalho pra ele e Macunaíma principiou falando como todos. E pediu pra mãe que largasse da mandioca ralando na cevadeira e levasse ele passear no mato. A mãe não quis porque não podia largar da mandioca não. Macunaíma choramingou dia inteiro. De noite continuou chorando. No outro dia esperou com o olho esquerdo dormindo que a mãe principiasse o trabalho. Então pediu pra ela que largasse de tecer o paneiro de guarumá-membeca e levasse ele no mato passear. A mãe não quis porque não podia largar o paneiro não. E pediu pra nora, companheira de Jiguê que levasse o menino. A companheira de Jiguê era bem moça e chamava Sofará. Foi se aproximando ressabiada porém desta vez Macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém. A moça carregou o piá nas costas e foi até o pé de aninga na beira do rio. A água parará pra inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. O longe estava bonito com muitos biguás e biguatingas avoando na estrada do furo. A moça botou Macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!... e pediu pra Sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato, a moça fez. Mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. Andaram por lá muito.

Quando voltaram pra maloca a moça parecia muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. Era que o herói tinha brincado muito com ela. Nem bem ela deitou Macunaíma na rede, Jiguê já chegava de pescar de puçá e a companheira não trabalhara nada. Jiguê enquizlou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. Sofará agüentou a sova sem falar um isto.

Jiguê não desconfiou de nada e começou trançando corda com fibra de curauá. [...]
                                 
ANDRADE,Mário de.Macunaíma:o herói sem nenhum caráter. 23. ed. Belo Horizonte: Itatiaia. 1986. p. 9-10. (Coleção Buriti, 41.)

                                       COMPREENSÃO TEXTUAL

1. O primeiro parágrafo apresenta várias referências que levam o leitor a entender que a história se passa em uma aldeia indígena. Aponte-as.
 O ambiente (fundo do mato-virgem); os nomes indígenas Macunaíma, Uraricoera; a menção à tribo tapanhumas.

2. O herói é caracterizado como o filho mais novo de uma índia. Quem são seus outros irmãos? O que você observa sobre a diferença de idade entre eles?
 Maanape e Jiguê. A diferença de idade é bastante grande, pois o texto diz que Maanape já é bem velhinho.

3. O que você pode concluir a respeito da idade da mãe de Macunaíma? Que parte do texto confirma isso?
 Ela só pode ser bem idosa. O texto diz que Macunaíma " mijava quente na velha ".

4. As questões anteriores já devem tê-lo feito perceber que não se trata de uma história baseada em fatos prováveis, comuns à realidade. Que aspectos incomuns você pode destacar no texto?
 Existem muitos; apenas para apresentar alguns: o herói é indígena e negro, ao mesmo tempo; ficou sem falar, por preguiça; a diferença de idade entre ele e os irmãos; a mãe é muito idosa; o herói é criança, mas sua sexualidade é de adolescente ou de adulto. O menino se transforma num príncipe.

5. Depois de apresentar o nascimento e a infância do herói, o texto diz que "nem bem teve seis anos... principiou falando como todos". Qual foi o primeiro pedido de Macunaíma? Como foi atendido?
 Pediu à mãe que o levasse para passear; como a mãe estava ocupada, pediu a Sofará, sua jovem nora, que levasse o menino para passear.

               

22 comentários:

  1. Nossa, obrigado por essas respostas

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  2. Achei o site ótimo,me ajuda em várias tarefas.

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  3. É ps exercícios de análise linguística sobre esse texto

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  4. Nossa muito obrigado! Muito bom esclarecer minhas respostas.

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