Trovadorismo - conjunto das manifestações literárias contemporâneas à primeira dinastia - a dinastia de Borgonha ( 1109-1385)
Chamamos de poesia trovadoresca à produção poética, em galego-português, do final do século XII ao século XIV. Seu apogeu ocorre no reinado de Afonso III, pelos meados do século XIII.
Características das cantigas
- Língua: galego-português.
- Tradição oral e coletiva.
- Poesia cantada e acompanhada por instrumentos musicais, colecionada em cancioneiros, ou seja, manuscritos.
- Autores: trovadores.
- Intérpretes: jograis, segréis e menestréis (artistas agregados às cortes ou que perambulavam pelas cidades e feiras.)
- Gêneros: lírico (cantigas de amigo, cantigas de amor) e satírico ( cantigas de escárnio, cantigas de maldizer).
EXERCÍCIOS
CANTIGA DE AMIGO
Martim Codax
- A Ondas do mar de Vigo,
- B se vistes meu amigo?
- R E ai, Deus,, se verra cedo!
- a Ondas do mar levado,
- b se vistes meu amado?
- R E ai Deus!, se verra cedo!
- B Se vistes meu amigo,
- C o por que eu sospiro?
- R E ai Deus, se verra cedo!
- b Se vistes meu amado,
- c por que hei gram coidado?
- R E ai Deus, se verra cedo!
- TRADUÇÃO
Ondas do mar de Vigo
acaso vistes meu Amigo ?
Queira Deus que ele venha cedo!
Ondas do mar agitado,
acaso vistes meu amado?
Queira Deus que ele venha cedo!
Acaso vistes meu amigo,
aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo!
Acaso vistes meu amado,
por quem tenho grande cuidado ?
Queira Deus que ele venha cedo!
In Elsa Gonçalves. A lírica galego-portuguesa. Lisboa, Editorial Comunicação, 1983, p. 161.
1) A voz que fala na cantiga é uma voz masculina ou feminina?
Voz lírica feminina
2) A quem essa voz se dirige?
Ela dirige-se às ondas do mar, na baía de Vigo.
3) Qual é a sua insistente pergunta?
Ela pergunta se as ondas viram seu amado.
4) Qual é o desejo expresso no refrão?
A moça exprime o desejo de que o amado retorne brevemente.
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMIGO
- Voz lírica feminina.
- Tratamento dado ao namorado: amigo.
- Expressão da vida campesina e urbana.
- Realismo: fatos comuns da vida cotidiana.
- Amor realizado ou possível - sofrimento amoroso.
- Simplicidade - pequenos quadros sentimentais.
- Paralelismo (estrutura repetitiva) e refrão.
- Origem popular e autóctone ( isto é, na própria Península Ibérica ).
CANTIGA DE AMOR
D. Dinis
Quer'eu
em maneira de proençal
fazer agora um cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a fez, que a fez sabedor
de todo bem e de mui gram valor,
e com tod'est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem,
quando nom quis que lh'outra foss'igual.
Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit', e por esto nom sei oj'eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
fazer agora um cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a fez, que a fez sabedor
de todo bem e de mui gram valor,
e com tod'est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem,
quando nom quis que lh'outra foss'igual.
Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit', e por esto nom sei oj'eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
TRADUÇÃO
Quero
à moda provençal
fazer agora um cantar de amor,
e querei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam,
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela vale mais que todas as do mundo.
fazer agora um cantar de amor,
e querei muito aí louvar minha senhora
a quem honra nem formosura não faltam,
nem bondade; e mais vos direi sobre ela:
Deus a fez tão cheia de qualidades
que ela vale mais que todas as do mundo.
Pois Deus quis fazer minha senhora de tal modo,
quando a fez, que a fez conhecedora
de todo bem e de muito grande valor,
e além de tudo isto é muito sociável
quando deve; também deu-lhe bom senso,
e desde então não lhe fez pouco bem
impedindo que nenhuma outra fosse igual a ela.
Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,
mas pôs nela honra e beleza e mérito
e capacidade de falar bem, e de rir melhor
que outra mulher, também é muito leal
e por isto não sei hoje quem
possa cabalmente falar no seu próprio bem
pois não há outro bem, para além do seu.
In Elsa Gonçalves. Op. cit.,p.284
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5) A voz que fala na cantiga é masculina ou feminina?
A voz que fala na cantiga é de um homem apaixonado.
6) Releia os três primeiros versos da primeira estrofe. Que objetivo a voz lírica anuncia?
O objetivo da cantiga é elogiar, louvar ( loar ) a mulher amada.
7) Qual é a diferença formal mais evidente entre essa cantiga e a de Martim Codax?
Diferentemente da cantiga de Martim Codax, esta não possui estrutura paralelística (versos repetidos) e não tem refrão.
8) Comparando ainda as duas cantigas, qual delas reflete uma visão mais realista do amor? Qual das cantigas reflete uma visão mais refinada e idealizada do amor?
A cantiga de Martim Codax reflete uma visão mais realista, enquanto a de D. Dinis reflete uma visão mais refinada e idealizada do amor.
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMOR
- Voz lírica masculina.
- Tratamento dado à mulher: mia senhor.
- Expressão da vida da corte.
- Convenções do amor cortês: a) Idealização da mulher; b) Vassalagem amorosa ( o homem se rebaixa à condição de vassalo perante a dama ); c) Expressão da coita (palavra de origem galego-português que significa dor, sofrimento causado pelo amor incorrespondido).
- Origem provençal ( a Provença, região do sul da França ).
CANTIGA DE ESCÁRNIO
Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea! Se Deus me pardon!
E pois avedes tan gran coraçon
Que vos eu loe, en esta razon,
Vos quero ja loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora ja un bon cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
João Garcia de Guilhade
TRADUÇÃO
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS SATÍRICAS
CANTIGAS DE ESCÁRNIO:
indiretas;
uso da ironia e do equívoco.
CANTIGAS DE MALDIZER:
diretas, sem equívocos;
intenção difamatória;
palavrões e xingamentos.
BONS ESTUDOS!
FONTES:
Cereja, William Roberto
Português: linguagens, 1 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães - 9. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.
Novas palavras: língua portuguesa: ensino médio / Emília Amaral... [et al.]. - 2.ed.renov. - São Paulo: FTD, 2005. - (Coleção novas palavras)
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea! Se Deus me pardon!
E pois avedes tan gran coraçon
Que vos eu loe, en esta razon,
Vos quero ja loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora ja un bon cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!
João Garcia de Guilhade
TRADUÇÃO
Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
(traduzido e adaptado)
CANTIGA DE MALDIZER
Nunca tal pulhice vi
como esta que um infanção
me faz; com indignação
a todos dizer ouvi.
O infanção, quando quer,
vai para a cama com a mulher
e nem se lembra de mim.
como esta que um infanção
me faz; com indignação
a todos dizer ouvi.
O infanção, quando quer,
vai para a cama com a mulher
e nem se lembra de mim.
Nunca receio terá
de mim, que vota ao desdém.
À mulher, a quem quer bem,
sempre filhos lhe fará;
e seus, com desplante diz,
serem os três filhos que fiz.
Leve o demo o que me dá!
de mim, que vota ao desdém.
À mulher, a quem quer bem,
sempre filhos lhe fará;
e seus, com desplante diz,
serem os três filhos que fiz.
Leve o demo o que me dá!
Folga ele e penso eu.
Não sei de dor semelhante;
deita-se com a minha amante
no leito que diz que é seu
e fica a dormir em paz.
E se filho ou filha faz
não reconhece que é meu.
Não sei de dor semelhante;
deita-se com a minha amante
no leito que diz que é seu
e fica a dormir em paz.
E se filho ou filha faz
não reconhece que é meu.
(João Garcia de Guilhade)
Infanção:
antigo título de nobreza, inferior a fidalgo ou a rico-homem.
Desplante:
atrevimento, ousadia, insolência.
Pulhice:
malandragem, safadeza.
CARACTERÍSTICAS DAS CANTIGAS SATÍRICAS
CANTIGAS DE ESCÁRNIO:
indiretas;
uso da ironia e do equívoco.
CANTIGAS DE MALDIZER:
diretas, sem equívocos;
intenção difamatória;
palavrões e xingamentos.
BONS ESTUDOS!
FONTES:
Cereja, William Roberto
Português: linguagens, 1 / William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães - 9. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.
Novas palavras: língua portuguesa: ensino médio / Emília Amaral... [et al.]. - 2.ed.renov. - São Paulo: FTD, 2005. - (Coleção novas palavras)
obrigada ficou uma questao sem responder mais vc me ajudou muito.
ResponderExcluirQue bom poder ajudá-la!
Excluir3-Releia a segunda estrofe e destaque os predicativos (do sujeito e do objeto) com que o trovador caracteriza a mulher amada.
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