Satânia
Olavo Bilac
Nua, de pé, solto o cabelo às costas,
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
De áureas ondas tranquilas e impalpáveis,
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha palpitante e viva.
Entra, parte-se em feixes rutilantes,
Aviva as cores das tapeçarias,
Doura os espelhos e os cristais inflama.
Depois, tremendo, como a arfar, desliza
Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve,
Como uma vaga preguiçosa e lenta,
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco.
Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe... - e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! - prossegue.
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Para confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.
E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...
Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
De áureas ondas tranquilas e impalpáveis,
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha palpitante e viva.
Entra, parte-se em feixes rutilantes,
Aviva as cores das tapeçarias,
Doura os espelhos e os cristais inflama.
Depois, tremendo, como a arfar, desliza
Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve,
Como uma vaga preguiçosa e lenta,
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco.
Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe... - e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! - prossegue.
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Para confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.
E aos mornos beijos, às carícias ternas
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...
Vocabulário
Satânia: feminino
de Satã: o demônio, o tentador.
Rutilante: muito
brilhante, resplandecente.
Alcova: quarto de
dormir.
Arfar: ansiar,
ofegar.
Túmido: saliente,
proeminente.
Espádua: ombro.
Recôncavo:
cavidade funda.
Coral: cor
vermelho-amarelada.
Volúpia: grande
prazer dos sentidos.
Releitura
1.
Desde
os primeiros versos, defrontamo-nos com uma mulher cuja sensualidade voluptuosa,
tentadora, demoníaca, é ressaltada pelo título: Satânia.
a) A imobilidade de Satânia e do cenário
em que se encontra permitem-nos associar o poema com um quadro, uma pintura
repleta de erotismo, de sensualidade. Que elementos presentes na primeira
estrofe podem justificar essa afirmação?
Os elementos são a nudez, o sorriso e os cabelos
soltos de Satânia, que está em pé, numa “alcova perfumada e quente”.
b)
Transcreva e identifique a imagem poética que
caracteriza a luz que entra pela janela da alcova de Satânia, ressaltando os
elementos parnasianos nela presentes.
“Como um rio enorme, de
áureas ondas tranquilas e impalpáveis”. A imagem poética é uma comparação,
cujos elementos que podemos identificar como parnasianos são os adjetivos áureas, tranquilas e impalpáveis.
2. Ainda
sobre a imagem poética estudada na questão anterior.
a)
Como a entrada dessa luz destoa da referida
imobilidade, tanto de Satânia quanto do cenário?
Ao se movimentar, ao entrar no quarto “palpitante e viva”.
b)
A entrada dessa luz aumenta ou diminui o
erotismo do texto? Por quê?
Essa luz aumenta o erotismo do texto: ela ilumina o cenário,
dando-lhe vida e calor, e, além disso, transforma-se num “amante”, num agente
sedutor de Satânia.
3. Na
segunda estrofe, realiza-se a sedução de Satânia, cujo agente é a luz que
entrou pela janela, personificada.
a)
Em que momento do poema essa luz começa a ser
claramente personificada?
A luz começa a ser claramente personificada a partir do décimo verso
da primeira estrofe: “Depois, tremendo, como a arfar, desliza”.
b)
Na terceira estrofe, qual o movimento de
Satânia e o que esse movimento nos informa sobre a personagem, em relação à
maneira como ela foi apresentada ao leitor no início do texto?
O movimento é o sorriso de volúpia, que nada muda em relação à
maneira como a personagem foi apresentada no início do texto, pois ela já tinha
o mesmo sorriso e a mesma sensualidade.
FONTE:
Novas palavras: língua portuguesa / Emília Amaral, Mauro
Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio, 2005 / EDITORA FTD
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