terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O primo Basílio (Eça de Queirós) exercícios resolvidos



                          Leitura
                       

                                                O primo Basílio (Eça de Queirós)
Fragmento 1
            Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir a casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse não havia de gostar não. Mas estava tão farta de estar só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos a costura, a toalete, algum romance... Mas de tarde!
            A hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a solidão parecia alargar-se em torno dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor!...
            Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade; sentava-se ao piano, e os fados tristes, as cavatinas apaixonadas gemiam instintivamente no teclado, sob os seus dedos preguiçosos, no movimento abandonado dos seus braços moles. O que pensava em tolices então! E à noite, só, na larga cama francesa, sem poder dormir com o calor, vinham-lhe de repente terrores, palpites de viuvez.

Fragmento 2
            Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir [...].
            As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas enraivece um lobo. Fez-se má; beliscava crianças até lhes enodoar a pele; e se lhe ralhavam, a sua cólera rompia em rajadas. Começou a ser despedida. Num só ano esteve em três casas. Saía com escândalo, aos gritos, atirando as portas, deixando as amas todas pálidas, todas nervosas... [...]
            A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar; odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril.
                    O primo Basílio. In Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1986. P. 585 e 597. V. 1.
                                                         RELEITURA

1.      Considere o seguinte fragmento de uma das famosas Conferências do Cassino Lisbonense, em que Eça de Queirós teoriza sobre o novo estilo, comparando-o com o Romantismo:
[...] o Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.
                                    António José Saraiva e Óscar Lopes. História da literatura portuguesa.
                                                                                             Porto: Porto Editora, 1975. p. 960.       

a)      O narrador caracteriza Luíza como uma personagem romântica. Que traços da personagem, presentes no fragmento 1, nos permitem associá-la com o Romantismo?
A solidão, o tédio, a propensão ao sentimentalismo.

b)      Luísa é caracterizada por meio de uma ótica realista, na medida em que o narrador critica-lhe o romantismo, em vez de aderir a ele. Que frase do fragmento 1 comprova essa afirmação?
“O que pensava em tolices então!”

2.       Além da postura racional e objetiva, necessária para a “ anatomia do caráter `` pretendida pelos escritores realistas, esse estilo, em sua vertente naturalista, vê o comportamento humano como consequência de certos fatores que o determinam.

a)      No caso de Luísa, que no romance é casada com Jorge e tem uma vida ociosa, de classe média abastada, a que fatores presentes no texto podemos atribuir os seus traços românticos?
Os fatores são a ausência do marido e a falta de ocupação.
b)      E no caso de Juliana, a segunda personagem caracterizada no fragmento 2? Qual é o fator determinante de sua revolta, de seu ódio?
O fator que determina a revolta e o ódio de Juliana é a sua condição de serva.

3.      Ao ver o homem como produto de leis biológicas, o estilo naturalista o compara com os outros animais.
a)      Transcreva o trecho do fragmento 2 que exemplifica essa característica.
“As antipatias que a cercavam faziam-na assanhada, como um círculo de espingardas enraivece um lobo.”

b)      Em que sentido o fragmento 2 ilustra o tema das desigualdades sociais intensamente tratado pelos escritores realistas?
Esse fragmento descreve minuciosamente, em tom de denúncia, as precárias condições de vida dos empregados, isto é, dos oprimidos pela sociedade burguesa.

FONTE:
 Novas palavras, nova edição / Emília Amaral...[et al.]. - 1. ed. - São Paulo: FTD, 2010. - (Coleção novas palavras, nova edição; v. 2)

4. (UEL) Os versos abaixo são um trecho da canção "Amor I Love You", de Carlinhos Brown e Marisa Monte. Este constitui um exemplo de texto marcado pelo tom romântico em que o amor é tratado como refúgio e referência diante das dificuldades do dia a dia.
Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Considerando-se o romance O primo Basílio (1878), de Eça de Queirós, especialmente as suas personagens Juliana e Luísa, é correto afirmar que o tom romântico presente na letra da canção citada acima:
a) É próprio a Juliana, moça pobre e apaixonada por Basílio.
b) É próprio a Luísa, personagem tipicamente realista, envolvida em paixões por interesse.
c) É próprio a Luísa, ainda que a personagem esteja inserida no contexto da classe média portuguesa, representada sob um ponto de vista realista assumido pelo narrador.
d) É próprio a Juliana, ainda que a descrição do "Paraíso" enquadre-se na estética realista.
e) É próprio às duas personagens, já que Juliana e Luísa são figuras frágeis e que se deixam levar pelas grandes paixões.

7) (FUVEST) Ao criticar O Primo Basílio, Machado de Assis afirmou: "a Luisa é um caráter negativo, e no meio da ação ideada pelo autor, é antes um títere que uma pessoa moral.”
Títere é um boneco mecânico, acionado por cordéis controlados por um manipulador. Nesse sentido, as personagens que, principalmente, manipulam Luisa, determinando-lhe o modo de agir, são:
a) Basílio e Juliana 
b) Jorge e Justina
c) Jorge, Conselheiro Acácio e Juliana
d) Basílio, Leopoldina e Conselheiro Acácio 
e) Jorge e Leopoldina
  

                                                                         




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