sábado, 28 de outubro de 2017

Relatos sobre "micos" na infância



                     Momento comédia da minha infância

Houve um episódio marcante na minha infância que eu nunca vou esquecer. Lembro-me como se fosse hoje. Eu tinha uns quatro ou cinco anos e estudava na “Unidade Escolar Ana Dulce Ribeiro”, no 1º ano do ensino fundamental. Minha professora chamava-se Gonçala. Não lembro a data, mas sei que era uma sexta-feira e eu estudava à tarde.
Nesse dia, eu fui para a escola tão feliz, bem vestida, toda de sainha nova. Eu sorria com o vento. Porém, tem um ditado que diz que alegria de pobre dura pouco. Então entrei na sala de aula, sentei na primeira fila. A professora havia mandado uma atividade para casa e quem respondesse ganhava pontos. Após o intervalo seria a correção.
Chegada a hora, ela perguntou: “Quem fez o exercício?”. E eu toda alegre respondi: “Eu fiz, professora!”. Ela pediu que eu levasse o caderno para verificar se estava tudo certo.
No momento que eu levantei da minha cadeira e comecei a caminhar até a professora, minha calcinha caiu. O pior é que eu nem senti quando ela caiu. Mas todos começaram a rir de mim. Olhei para o chão e vi minha calcinha sobre os meus pés, eu não aguentei e comecei a chorar. A professora mandou a turma toda calar a boca, mas ninguém parava. Ela se fazia de durona, até que começou a rir também.
Então, como eu não parava de chorar, a professora mandou os alunos pra casa mais cedo e ficou só comigo na sala. Pegou uma “xuxa” do meu cabelo e amarrou minha calcinha. Fui embora em seguida, mesmo sabendo que quando eu saísse da sala, todos os colegas iriam zombar de mim. Segui minha viagem.
Passei o final de semana sem colocar “a cara” para fora de casa. Na segunda-feira, quando acordei e lembrei que tinha que ir para a escola, veio-me uma sensação tão ruim que eu não sabia o que fazer. Então pensei: “Vou sorrir! Mesmo triste, vou levantar após cair.” Sempre fui feliz, persistente e forte acima de tudo.
Devemos seguir sempre e lembrar dos obstáculos que já superamos, porque ninguém é perfeito e a vida é cheia de altos e baixos. E também minha vida é assim, pura comédia.

 Simplicidade (pseudônimo), 1º C, U.E.Demerval Lobão. Angical PI, outubro de 2017.



                                  A adolescente criança

Quando somos crianças tudo parece ser mágico, principalmente quando se é menina saindo do mundo infantil e entrando na adolescência. As coisas vão se tornando diferentes e começamos a perceber mudanças no nosso corpo. O pior é que todos observam essas mudanças e isso passa a se tornar um “mico”. Eu tinha doze anos e me sentia uma verdadeira criança; embora as crianças de hoje queiram ser adolescentes a partir dos nove.
Então, era 2011, e eu tinha meus 12 anos. Completaria 13 apenas em novembro. Fui estudar numa escola de Amarante. Eu tinha uma mentalidade muito infantil, não conhecia certas coisas de adultos. Eu só pensava em bonecas, mas entrei numa turma cheia de pré-adolescentes que pensavam como adolescentes.
Estávamos ainda na primeira semana de aula, aula de educação física, ou melhor, aula prática no pátio da escola e todos foram para a quadra. Lá, íamos jogar bola, mas antes tínhamos que fazer alongamento. Quando alonguei os braços para cima, todos os alunos estavam olhando pra mim e eu ali sem entender nada. Continuei com os braços levantados e todos estavam fazendo alongamento também, mas rindo o tempo todo e cochichando. A professora pediu silêncio. Até que veio uma amiga e falou assim: “Abaixa os braços, que eles estão cheios de pelos!”.
Eu fiquei muito envergonhada. Abaixei os braços rapidamente e saí da quadra para a sala, como se nada tivesse acontecido. Porém, morrendo de vergonha. Constrangimento maior porque tinha umas meninas falando e olhando diretamente pra mim na sala de aula. Depois desse episódio, aprendi sobre depilar as axilas e no decorrer do ano, fui me adaptando à escola, enquanto a turma ia esquecendo aquela cena; embora de vez em quando alguém ainda comentasse e os colegas caíam na risada.


 Michelle, 1º C; U.E.Demerval Lobão, Angical Pi, outubro de 2017.









quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Relatos pessoais sobre abandono


                                Minha infância sem meus pais

Eu fui uma menina criada sem meus pais. Minha avó materna foi quem cuidou de mim desde que eu tinha apenas três meses de vida. Isso aconteceu porque minha mãe dizia que não tinha como me criar, então ela perguntou para minha madrinha se ela poderia ficar comigo, mas esta disse que precisava trabalhar. Depois pediu para a minha avó e ela disse que sim.
Não conhecia o meu pai. Porém, quando estava pertinho de completar sete anos, falei para minha avó que queria muito conhecê-lo. Ela disse: “Pois você vai conhecer!”
No dia sete de fevereiro de 2009, data do meu aniversário de sete anos, fui para Monsenhor Gil e o conheci. Ele ficou até emocionado ao me ver.
Depois disso, descobri algumas coisas sobre minha vida: minha mãe havia me deixado no hospital assim que eu nasci, porque ela não me queria. Até hoje sou revoltada com isso. Mas também descobri que meu pai batia muito nela; por isso nasci cheia de manchas pelo corpo, talvez hematomas. Até hoje tenho algumas dessas marcas. Quando ela se separou dele, eu tinha um mês.
Hoje ela tem outra família com três filhos: Raiane, Ravena e João Henrique, meus irmãos.
Como eu já disse, fui criada por minha avó, que deu a sua vida por mim e até hoje faz tudo pra me ver feliz. Eu devo tudo a ela. Sempre está ao meu lado nas horas difíceis, tristes e de brincadeiras. Ela nunca me desprezou, ao contrário da minha mãe.
Minha avó quis me oferecer tudo de bom para que eu tivesse uma infância feliz e fez de tudo “pra eu ser gente”, inclusive pagar escola particular pra mim aqui em Angical. E eu tive sim a melhor infância que eu poderia ter. Nunca tive amor de mãe e nem de pai. Nem sei o que é isso. E quem tem, às vezes não dá valor.
Tenho dezesseis anos, já sou casada. Não foi da vontade de minha avó que eu casasse, mas ela aceita. E sou feliz graças a ela. Não vou conseguir pagar tudo que ela fez por mim. Já minha avó por parte de pai, diz que eu sou pra ela um dedo que ela cortou e jogou fora.


    Kelly (pseudônimo), 1º B; U.E.Demerval Lobão, outubro de 2017, Angical Pi.


                                  O pior dia da minha vida

Era noite do dia 5 de novembro de 2000. Dia que minha mãe me abandonou por estar traindo meu pai com meu tio. Eu tinha apenas dois anos de idade e ainda mamava. Apesar de ser pequena, eu entendia um pouco das coisas. Lembro dela dizendo que podia ter me matado e que tentou muitas vezes o aborto.
Eu era muito pequena, não merecia ser abandonada e deixada com pessoas que nem ela mesma conhecia. O que eu fiz pra ela ter tanto ódio de uma criança tão meiga e carinhosa? Eu entendia o que acontecia ao meu redor e fui crescendo e criando um ódio tão grande que não sei se consigo perdoá-la algum dia.
Ainda me lembro quando ela me chamava de minha princesinha. O que aconteceu com sua princesinha? Por que você a abandonou quando ela mais precisou? Você deu as costas. Que pena! Agora a princesinha cresceu e virou a vilã, descobriu outros significados da vida.
Quando minha mãe estava grávida de mim ela usava muito crack. Ao nascer, descobriram que eu estava com problema nos pulmões e por isso ela me desejava a morte. Logo quando me abandonou começou a vender drogas e a se prostituir e hoje ela é uma das maiores traficantes de Teresina e da minha parte ela só tem o meu desprezo.
Minha mãe me abandonou e agora tem o meu desprezo, nada vai mudar isso. Por causa dela hoje sou uma garota triste e amarga, que não se apega mais a ninguém, porque tem medo de ser abandonada outra vez e prefere ficar sozinha sem ninguém. Vive rodeada de pessoas, mas se sente só.
Ninguém se importa comigo, as pessoas só pensam nelas mesmas. Eu preciso de um pouco de atenção e de carinho. Às vezes sou chata, mas tenho um bom coração. Só quero ser feliz e amada. Não sou uma pessoa má e nem quero enfrentar a vida sozinha. Cadê aqueles amigos que dizem que são seus amigos, mas na hora que você mais precisa eles somem? A verdade é que as pessoas só querem a nossa amizade quando estamos numa boa.


  Menina má (pseudônimo), 1ºA, U.E.Demerval Lobão, outubro de 2017; Angical PI.









quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A vida é passageira




                                 A vida é passageira

No dia 25 de setembro de 2013, perdi uma pessoa muito querida: meu avô Chico, padrasto do meu pai. Quem diria que ele fosse exercer um papel tão importante na minha vida! Ele me ensinou muitas coisas, aliás, todos os dias eu aprendia algo diferente com meu avô. Nós nos divertíamos muito. Lembro-me como se fosse ontem.
Não entendo porque ele teve que partir tão cedo; pois desde que se foi, a casa onde morava ficou muito vazia, não é mais a mesma. Dá uma tristeza enorme quando passo por lá e não o vejo mais. Foi com ele que vivi os melhores momentos da minha vida.
Todos os finais de semana, nós íamos para Agricolândia Pi visitar uma afilhada do vô Chico. Lá era pura diversão, ele gostava muito de brincar conosco. Teve uma vez que durante um aniversário em que nós estávamos, algumas meninas brincando de jogar bexiga cheia d’água nas outras pessoas, vô Chico entrou na brincadeira e a bexiga estourou nas mãos dele, ficou todo molhado, mas foi muito engraçado. Esse foi um dos muitos momentos juntos que vivemos.
Meu bisavô José também foi outra pessoa de quem eu gostava muito. Partiu um pouco mais cedo que meu avô. Era uma pessoa alegre, divertida, adorava comprar empadinhas pra mim. Gente boa demais!
Essas foram as duas pessoas que eu nunca irei esquecer, vou guardar para sempre todos os ensinamentos que eles deixaram. Por isso devemos sempre aproveitar o máximo que podemos ao lado de quem gostamos, porque ninguém sabe o dia de amanhã.
O ser humano já nasce sabendo que um dia irá partir desta vida, mas nunca está preparado para perder alguém, principalmente pessoas tão especiais. Como dizia meu avô: “A vida é passageira!”

   M.M. 1º A, U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017, Angical Pi.



Relato de um menino que fugiu de casa para conhecer o pai




                              Um menino que conheceu o seu pai

Tudo aconteceu em Belo Jardim (Pernambuco) em junho de 2005, quando eu tinha apenas cinco anos, após descobrir que meu pai biológico estava vivo e eu não sabia. Então eu fugi de casa para procurá-lo. Minha mãe correu tanto atrás de mim, mas não me alcançou.
Ao chegar à noite, eu estava com muita fome e sede. Fiquei fraco e caí. Foi quando passou uma mulher que vendo uma criança naquelas condições, perguntou de quem eu era filho, e eu respondi que era filho “da minha mãe”. Ela pegou o celular e ligou para a polícia. Quando a polícia chegou, fui levado para o Conselho Tutelar juntamente com a mulher que me encontrou. Este, conseguiu localizar minha mãe. Então fomos para casa.
Chegando lá, minha mãe ligou para meus avós paternos e disse que não tinha como me criar porque estava desempregada e com sua mãe doente. Meus avós ficaram com pena de mim e pediram para meu tio Antônio José para que fosse me buscar em Pernambuco e trazer para Angical.
Assim, ele me trouxe para morar com meus avós paternos no Caldeirão, povoado de Angical.
Conheci meu pai no dia seguinte após minha chegada, mas como eu tinha apenas cinco anos, era uma criança assustada, passei mais uns cinco dias fugindo, com medo, até eu me acostumar com todos. Às vezes, esperava meus avós dormirem para eu poder fugir de novo e aí era aquela procura toda pra me encontrarem. Porém, parei com as fugas porque comecei a me sentir amado. Eles cuidavam muito bem de mim.
Depois disso, só alegrias aconteceram na minha vida. Deus é meu companheiro. Todos os dias eu agradeço, porque se não fosse por Ele, eu não estaria aqui, não teria conhecido o meu pai. Mas infelizmente, não vejo minha mãe desde os meus cinco anos, apenas mantemos contato.


      Cleydson Barbosa de Sousa, 1º A, U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017.
Angical, Pi.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Relato pessoal sobre gravidez na adolescência



                            A morte prematura do meu bebê


Sempre fui uma garota ativa desde a infância e logo quando completei treze anos, em janeiro de 2014, comecei a me relacionar com um garoto de quatorze. Porém, o nosso relacionamento foi além. Ele ia todos os dias à minha casa e acabou tornando-se o meu amor.
Com pouco tempo aconteceu o que foi inesperado pra mim: um novo ser vivo viria ao mundo. Minha mãe já estava desconfiada, pois além do atraso menstrual de dois meses, eu vomitava muito, passava mal constantemente, quase todas as noites, e quanto mais eu negava, mais ela tinha a certeza que eu estava gestante.
Até que um dia minha mãe resolveu ter uma conversa séria comigo e me convenceu a fazer um exame de gravidez. Nesse dia fiquei muito nervosa porque eu sabia a verdade e estava com medo da reação dela e da minha família. Meu namorado, já calmo, também me convenceu a fazer o teste.
Chegando ao laboratório, eu estava gelada, não sabia o que falar e só pensava no resultado. Três dias depois, ele chegou, trazendo ainda mais nervosismo e ansiedade também.
Fiquei impressionada com a reação da minha família, pois minha mãe só pedia para eu ter calma porque eu não parava de chorar. Meu pai, sempre paciente, falava que que ia dar tudo certo e que o mais importante naquele momento era cuidar daquele bebê que estava no meu ventre.
No dia seguinte quando fui para a escola, meus colegas ficavam sorrindo de mim, fazendo brincadeiras com o que eu estava passando e a cada dia as piadas só aumentavam. Meu professor de matemática chegou na sala e perguntou quem era a garota de treze anos que estava grávida. Eu abaixei minha cabeça e comecei a pedir a Deus que tudo aquilo que estava acontecendo comigo passasse logo. Ele tinha falado com um tom de ironia como se não soubesse quem era a aluna.
Cinco meses de gestação e todo aquele sofrimento parecia não ter fim. Cada dia era pior. Eu passava e as pessoas olhavam e me julgavam por eu ser nova demais. Eram palavras constrangedoras que ninguém merece ouvir.
Meu namorado e minha família deram-me muito apoio, assim como minhas duas melhores amigas. Jadinaele e Jatinaele, irmãs gêmeas, foram as únicas que quase todos os dias iam à minha casa para saber como eu estava. Muitos “amigos” afastaram-se de mim, pois para eles, eu não era uma boa companhia. Alguns, depois de algum tempo do impacto da notícia, até voltaram a falar comigo, já outros, continuaram me julgando. Mas eu sabia que aqueles que estavam ao meu lado, realmente gostavam de mim e queriam o meu bem.
No dia oito de maio daquele mesmo ano, na minha cidade (Angical), houve um evento: a Ação Global. Fiz uma pequena apresentação de capoeira, que me deixou um pouco tonta e de repente, caí. Meu professor imediatamente me socorreu. Em seguida, fui para casa descansar. À tarde, comecei a sentir dores muito fortes na barriga e um calor insuportável. Resolvi tomar um banho e tive uma surpresa: a minha bolsa estourou. Minha mãe ficou muito preocupada e levou-me para o hospital. A doutora encaminhou-me para a Maternidade Evangelina Rosa, em Teresina.
Chegando lá, o exame de ultrassonografia detectou os batimentos acelerados do bebê e o médico deu a notícia que meu filho não tinha chance de sobreviver, pois o líquido que ele precisava, eu já havia perdido na viagem toda de Angical para Teresina. Esperei o momento de sentir as dores do parto e ele nascer.  Foram os dias mais tristes da minha vida. Eu sabia que meu bebê não iria sobreviver. Era uma dor inexplicável ver tantas mães com seus filhos nos braços e eu perdendo o meu.
Dia treze de maio, numa tarde, aproximadamente às seis horas, comecei a entrar em trabalho de parto. Levaram-me para a sala de parto, e ali tive um bebê prematuro de cinco meses. Após o seu nascimento, ele ficou vivo por um minuto e logo faleceu.
Minha mãe fez de tudo para trazê-lo para Angical, mas os médicos não permitiram porque tratava-se de um aborto espontâneo. Fiquei arrasada por não realizar o velório do meu menino. Passei a noite no hospital, em observação.
No dia seguinte tive alta e voltei para casa muito triste por não ter meu filho nos braços, mas tive muito apoio dos meus familiares, de alguns amigos e do meu namorado, que era muito presente.
Todos os dias fico imaginando como seria se ele estivesse vivo, pois já se passaram três anos e a saudade e a tristeza só aumentam quando eu lembro daquele dia.



     Maria Clara, 1º C; U.E.Demerval Lobão, Angical PI. Outubro de 2017.



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Relato pessoal sobre ansiedade



                                                      Minha ansiedade

Tudo começou há oito anos, na melhor fase da minha vida. Eu passei a viver um sofrimento sem fim. Todos os sábados eu fazia balé e a professora sempre pedia para que todas as alunas fossem com os cabelos em forma de coque. Nesse tempo eu não aceitava prender meus cabelos, assim, nas aulas de balé eu sempre ficava com eles soltos.
Com o passar do tempo, não conseguia tirar a mão dos meus cabelos. Passei a puxar um fio, depois dois fios e logo comecei a puxar vários fios de cabelo.
Certo dia eu e minha mãe notamos a diferença e várias perguntas surgiram para mim sobre o fato de eu estar ficando careca. Perguntavam-me, por exemplo, se eu estava usando algum produto químico. E eu, frágil, nunca falava nada. Havia dias que eu não tinha vontade de ir à escola com vergonha de mim mesma, do meu cabelo. Cheguei a ter vários apelidos como “careca” e “Maria puxa cabelo”.
Eu sempre me perguntava porque eu fazia isso comigo mesma. Quando eu deitava pra dormir, eu arrancava fios do meu cabelo. Passava em torno de umas duas horas. Pra mim, aquela ação era uma forma de alívio, como se eu estivesse tirando um peso de mim. Eu me sentia leve.
O tempo passava e arrancar fio a fio de cabelo virou costume. Qualquer lugar que eu fosse, eu parava pra sentar e a mão automaticamente ia para o cabelo. Minha mãe concluiu que aquilo era uma doença. Ela chegou ao ponto de amarrar minhas mãos quando eu começava a puxar.
Minha mãe via todo o meu sofrimento, a vontade de tocar no cabelo era maior que tudo. Eu chorava ao vê-lo feio, quebrado e estragado.
Quando completei doze anos, comecei a fazer um tratamento pra saber realmente o porquê disso tudo. A psicóloga afirmou que era um transtorno mental e recomendou procurar um psiquiatra. Este me receitou vários remédios que me ajudaram um certo tempo.
Hoje eu tenho dezessete anos e essa ansiedade nunca saiu de mim, esse pesadelo é sem fim. Eu sinto que nunca vou parar de arrancar meus fios de cabelo, porque se eu parar, minha alma morre. É a única coisa que me acalma e tira de mim todo o estresse.

       Fauanny, 1ºC, U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017, Angical PI.


O meu primeiro beijo (relato pessoal)



                                               O meu primeiro beijo

O meu primeiro beijo foi aos treze anos, em junho de 2014. E quando eu tinha essa idade eu achava lindo beijar na chuva. Era meu sonho beijar na chuva.
Nesse período, comecei a estudar numa nova escola e ao longo do tempo fui fazendo amizades. Completaria meus quatorze anos no dia 16/12 daquele mesmo ano e os meus amigos perguntando sobre o meu primeiro beijo, se ele tinha sido bom. Eu mentia. Como eu mentia! Não sabia nem o que era beijar, mas eu inventava historinhas que já tinha beijado. Cada amigo ou amiga que me perguntava sobre o meu primeiro beijo, era uma nova história, porque eu era assim: não beijava, mas falava que beijava. Ainda dizia que meu beijo era “isso” e “aquilo”.
Quando eu chegava em casa, ia direto pesquisar sobre “Os cinco passos para o rapaz adorar o seu beijo”. Nessa idade eu me perguntava o tempo todo se os garotos iriam gostar do meu beijo.
Quando minhas amigas falavam pra eu ficar com algum menino, eu sempre dizia que não, inventava alguma desculpa. Mentia sempre por não saber beijar. Às vezes o garoto era tão lindo, tão lindo, e eu não podia fazer nada.
Até que chegou um certo dia especial. Dia que fui a um sítio. Lá havia piscina e vários menininhos. Fiz muitas amizades.
Foi então que chegou uma garota dizendo que um garoto estava olhando pra mim. Eu só pensava como eu iria explicar pra ela que eu não sabia beijar, por isso não poderia “ficar” com ele. Inventei logo que estava muito cansada, mas no fundo eu estava  interessada.
Em seguida, fomos todos pra piscina. Eles brincavam de nadar, “virar peixe”, mas eu, pra piorar, não sabia nadar. Só afastei o garoto, porque eu não sabia beijar, não sabia ficar igual uma sereia na água... paciência!
Quando, de repente, ele se aproxima perguntando se eu queria “ficar” com ele, pois havia gostado muito de mim. O que fazer naquele momento?
Então contei mais uma mentira. Disse que eu estava gostando de uma pessoa. Ele saiu. À tardinha, na piscina, só ficamos eu, minha amiga e o garoto. Ele pediu pra brincar de quem demorava mais tempo no fundo da piscina. Eu disse que tudo bem. Quando chegamos lá no fundo, ele me puxou e me beijou! Ele me beijou embaixo d’água. Fiquei aliviada, porque como foi embaixo d’água, ele não tinha como saber se o beijo foi bom ou ruim. Se ele achou o beijo ruim, a culpa foi da água. Mas se o beijo foi bom, era qualidade minha.
Assim foi o meu primeiro beijo: traumatizante. Sempre que eu abria a boca para beijá-lo, entrava água e saia pelo nariz. Eu estava quase me afogando. Prometi pra mim mesma que nunca mais beijaria, porque eu fiquei com muito nojo. Porém tudo na vida passa e experiências melhores acontecem.



Mamaduc H. (pseudônimo), 1º B.  U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017. Angical PI.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A curiosidade dentro de nós (relato pessoal)



A curiosidade dentro de nós
                        Depois de estragarmos surpresas, nunca mais seremos curiosos


Havia meses que os meus amigos e familiares preparavam uma surpresa de aniversário pra mim aqui em Angical.
Em junho de 2017, depois de tanto implorar por uma festa surpresa a eles, eu resolvi (já curiosa) mexer no celular da minha mãe, o qual tinha um grupo para organização do evento que eu desejava tanto. Daí eu descobri sobre a festa que, já não era mais surpresa, porém não avisei a ninguém. Até que, conversando com minha amiga Magali, falei que sabia e blá, blá, blá, obviamente ela ficou louca. Disse que não iria mais falar nada, nem fazer festa, mas eu esperei calmamente os dias passarem. Até que, então, chega o dia 23 de junho, e eu estava convicta que não haveria mais festa surpresa.
Acordei, arrumei-me. As meninas chegaram em casa e Magali me ligou pra arrumar o cabelo dela. Novamente fiquei desconfiada que teria alguma surpresa. Cheguei o mais rápido possível à casa da minha amiga, e pra minha surpresa... não tinha surpresa nenhuma.
Voltei pra casa, almocei e mais uma vez chegaram Magali e Kamily. Passamos a tarde toda juntas. Magali pediu que fôssemos pra casa dela novamente e eu fui, muito alegre. Chegando lá, nada de festa. De tanto me enrolarem, chega o Cascãozinho, meu namorado, dizendo que os avós dele e a tia queriam falar comigo para me parabenizarem pelos meus 15 anos.
Eu já nem esperava mais que fizessem festa surpresa pra mim, por isso não desconfiei de nada. Ao chegarmos, tudo fechado. Eu abri a porta e lá estavam meus amigos e familiares dele. Era uma festa surpresa e romântica. Ele organizou com meus amigos. Foi a coisa mais linda, algo que eu não imaginava.
Quando a festa acabou, meu namorado foi tomar banho e demorou muito. Eu já estava chateada, mas enfim, saímos. Porém, ainda íamos passar na casa do amigo dele, e eu já cansada. Chegando lá, Marcos não estava. Nós já voltávamos pra minha casa, quando no caminho, o pneu da moto furou. Ele se desesperou, deixou-me na praça enquanto tomava uma providência. WI-FI conectou, minha amiga Magali postou no status uma foto em que ela estava no meu quarto. Daí ela lembrou que eu estava com o celular dele. Ainda tentou me enrolar, mas não conseguiu. Cascão voltou e ao chegarmos finalmente em minha casa, havia uma linda festa com todas as pessoas que eu gosto. Foi o meu melhor aniversário. Fiquei muito feliz.
Esse dia me marcou muito porque aprendi a deixar a curiosidade de lado. Ser feliz é evitar a curiosidade.

   Beatriz, 1º A. U.E.Demerval Lobão, Angical,PI. Outubro de 2017.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O dia que meu amigo virou um anjo (relato pessoal )



                     O dia que meu amigo virou um anjo


Em uma tarde do dia 24 de dezembro de 2013, estava tudo lindo, uma felicidade enorme invadia meu coração, como era costume aquele clima lindo de festa natalina. Porém, por volta das 16:00h daquela tarde, recebi uma notícia que jamais queria receber, um grande amigo meu havia sofrido um terrível acidente de carro. Logo que soube, comecei a ficar triste, tudo o que eu desejava era que aquela história fosse mentira, mas como não tinha certeza sobre a notícia, fui até a casa dos avós dele.
Assim que eu estava chegando, vi muitas pessoas lá, chorando. Consegui avistar um amigo e fui ao seu encontro para saber o que realmente havia acontecido. Quando me aproximei, ele já me abraçou e começamos a chorar juntos, e chorando ele me perguntou:
__ O que vai ser de nós sem o Kayque?
Eu também chorando perguntei:
__ O que aconteceu com ele? É verdade mesmo sobre o acidente?
__ Sim, é verdade. Ele estava vindo de Teresina com uma amiga da tia dele quando um carro descontrolado bateu no carro que ele estava. O carro virou e pegou fogo.
Naquele momento não tive reação, só sentei numa cadeira e comecei a chorar sem parar, mas ainda existia uma esperança dentro de mim que o Kayque sairia daquele carro vivo.
Aproximadamente às 17:40 a notícia que ninguém queria receber: kayque morreu. Ninguém conseguiu tirá-lo daquele carro, que estava totalmente em chamas. Ele só tinha treze anos.
Ali eu já tinha ganho mais força, mas foi muito difícil aceitar que tinha perdido aquele amigo carinhoso, brincalhão, palhaço. Aquele clima de festa acabou em toda a cidade de Angical, e o que prevaleceu naquele momento foi um verdadeiro luto.
Hoje, após quase três anos, sinto que ganhei um anjo, que passa dia e noite comigo, cuidando de mim o tempo todo. Perdi um amigo, mas ganhei um anjo da guarda.


                             Aparecida Neiva, U.E.Demerval Lobão, 1º C
                                                 Angical Pi, outubro de 2017.