sábado, 7 de janeiro de 2023

Questões de Vestibular: Linguagem e interação

1. (Insper-SP)

Não sei onde eu tô indo,
Mas sei que eu tô no meu caminho.
Enquanto você me critica,
Eu tô no meu caminho.
Você esperando respostas,
Olhando pro espaço,
E eu tão ocupado vivendo,
Eu não me pergunto, eu faço!

Nesses versos, que pertencem a "No fundo do quintal da escola", canção de Raul Seixas e Cláudio Roberto, há predominância da função emotiva da linguagem por causa:

a) da repetição dos verbos no presente. 
b) do discurso direto constante.
c) das referências à própria linguagem.
d) dos marcadores de conversação.
e) da ênfase na primeira pessoa.

2. (Mack-SP)

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e

                                   [morava no morro da

Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
                                          [Novembro

Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
                                         [e morreu afogado.

                                           (Manuel Bandeira)

A partir de "Poema tirado de uma notícia de jornal" é correto afirmar que:

a) o texto poético é formado por frases imperativas, típicas do gênero jornalístico. 
b) a função emotiva da linguagem é predominante no texto poético, o que amplia a sensação de dor do leitor quando da morte de João Gostoso. 
c) o poema é composto apenas por um ponto final, indicador do desapego linguístico dos poetas da Primeira Geração do Modernismo brasileiro. 
d) o relato dos acontecimentos, de forma impessoal, aproxima o poema do gênero jornalístico tradicional.
e) a função expressiva da linguagem é predominante no texto poético, o que reafirma a condição social de João Gostoso.

3. (Unisc-RS)

"O POETA (por trás de uma rua minada de seu rosto perdido nela)

_ Só quisera trazer pra meu canto o que pode ser carregado como papel pelo vento"

(BARROS, Manoel. "A máquina de chilrear e seu uso doméstico"In: Gramática expositiva do chão.
  Rio de Janeiro: Record, 1999.)

Sobre o fragmento do poema, podemos afirmar que:
 I. o poema fala do fazer poético ao associar o "canto" à poesia.
II. o poema expõe o contexto de uma guerra civil, espaço urbano onde o POETA se perde.
III. o "papel" ao "vento" pode ser tomado como metáfora das palavras que o poeta recolhe e traz para o poema.
IV. há a presença de metalinguagem no poema, pois ele fala do fazer poético.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Somente a afirmativa III está corretas.
d) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas. 

4. (UEM-PR)

          O Verbo For

                    João Ubaldo Ribeiro

    Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. [...] O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
   O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas,  múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível [...].
    Havia provas escritas e orais. [...] Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar da Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava. 
[...]
    -Ai, minha barriga! - exclamava ele. - Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Sal- vai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
    Pode-se imaginar o resto do exame. [...]
    Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco. [...]
    Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas: 
    - Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
    - As margens plácidas - respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
     - Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?
    - Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora". Se pusermos na ordem direta... 
    -Chega! - berrou ele. - Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
    Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. [...] Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. [...] Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser. 
    - Esse "for" aí, que verbo é esse?
    [...]
    - Verbo for.
    - Verbo o quê?
    - Verbo for.
    - Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo. 
    - Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele impá- vido. - Nós fomos, vós fondes, eles fōem.
    Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando [...], devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe. 

(Esta crônica, ora adaptada, integra o livro O conselheiro come. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2000, disponível em: <http://releituras.com/joaoubaldo_overbofor.asp>.)

Coevas (coevo): tempo passado, passagens retrógradas.

Coturno: elenco dos melhores dentre um grupo.

Vulpino: relativo à raposa; ardiloso; astuto.

Sobre as funções de linguagem presentes no texto de João Ubaldo Ribeiro, assinale a(s) alternativa(s) correta (s).

01. Em "Havia provas escritas e orais" (linha 18), evidencia-se a função poética de linguagem, marcada expressamente pelo registro do substantivo "provas".

02.) Em "Ai, minha barriga!" (linha 29), tem-se a função emotiva da linguagem, expressa pela interjeição "Ai" e pelo pronome possessivo "minha".

04.) Em "Chega! - berrou ele." (linha 53), há a função conativa ou apelativa da linguagem, expressa no imperativo da forma verbal "Chega!", reafirmada pelo ponto de exclamação que revela uma ordem do professor "José Lima” (linha 39) ao candidato João Ubaldo Ribeiro.

08. Há uso da função metalinguística de linguagem, devido ao uso de figuras de linguagem, na sequência "peguei no texto uma frase" (linha 64).

16. A função referencial da linguagem perpassa todo o texto, centrada no assunto "vestibular".

Soma: 22 (02+04+16)


5. (UERN)

          Pó sobre pó

    É da Venezuela o novo recorde mundial de inflação: os preços ao consumidor subiram 56,2% no ano passado, informa o Banco Central local. Ou seja, avançaram em ritmo nove vezes superior aos brasileiros no mesmo período.
    Significa forte corrosão da economia, com o consequente empobrecimento da maioria dos 30 milhões de venezuelanos, que habitam um emirado petrolífero e vivem numa época de petróleo vendido a US$ 90 o barril (valia US$ 30 em 2002).
    A inflação venezuelana disparou, e em velocidade maior do que se observa em países cujos ditadores optaram pela guerra civil, na tentativa de preservar seu poder, como acontece na Síria de Bashar al-Assad (49,5%) e no Sudão de Omar al-Bashir (37,1%).
    O cenário piora. Esse aumento (56,2%) nos preços ao consumidor de 2013 representa quase o triplo da taxa registrada na Venezuela no ano anterior (20,1%). É a média geral. Em alimentos e bebidas a alta de preços foi muito maior: 79,3%, na média do setor, conforme dados do Banco Central.
    É obra da administração Nicolás Maduro. Desde dezembro de 2012, quando o caudilho Hugo Chávez se submeteu a uma cirurgia da qual não se recuperou, Maduro conduz o condomínio ditatorial chavista, em sociedade com Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional.
    O desastre só é proporcional aos tropeços linguísticos do folclórico presidente. Segundo ele, os empresários "roubam como nós" e o governo tem de enfrentar a escassez de alimentos agindo como Cristo "que multiplicó los penes".
    A história ensina que a intolerância social com altas taxas de inflação costuma ser mortal aos governos politicamente falidos. Ensina, também, que a única alternativa é a negociação. No caso da Venezuela, tal possibilidade parece cada dia mais remota porque seus governantes, como disse Cabello dias atrás, julgam que a palavra negociação funciona na política como sinônimo de "Nós não vamos cair na chantagem do diálogo".
    Na ausência de Chávez, o mestre da ilusão do "socialismo do século XXI", Maduro e Cabello tentam moldar a dura realidade com exercícios de contorcionismo linguístico sobre a arte da  incompetência. Nele, a escassez de alimentos  em todo o país é resultado da "sabotagem intencional e internacional"; os apagões diários nas cidades, prometem, serão derrotados com um plano militar " de ordenamento e uso", e a nova e iminente desvalorização da moeda (o bolívar) nada mais será do que um "mecanismo cambial alternativo".
    O delírio chavista se transformou em pura nitroglicerina política. É daquelas situações em cujo epílogo, como costuma dizer Maduro, pode não restar "pó sobre pó".

(José Casado. Disponível em: http://oglobo.globo.com/ mundo/po-sobre-po-11255432.)

A linguagem é utilizada com diferentes propósitos, que moldam a maneira como o discurso é construído. Considerando o objetivo do texto, bem como a forma como as informações que nele convergem são articuladas, que função da linguagem predomina no texto?

a) Fática.
b) Emotiva 
c) Referencial 
d) Metalinguística 

O autor apresenta dados objetivos a respeito da economia da Venezuela e faz uma análise desses dados, emitindo uma opinião a respeito da política do país. A função referencial se caracteriza justamente por essa exposição de dados objetivos.

6. (Unimontes-MG) Leia o texto a seguir para responder à questão.

          Não éramos cordiais?

                             Clóvis Rossi

    O nível impressionante de violência no cotidiano está cada vez mais próximo de uma barbárie intolerável

    A morte do cinegrafista Santiago Andrade não configura um atentado à liberdade de im- prensa, ao contrário do que tantos apregoam. É muito pior que isso: é um atentado ao convívio civilizado entre brasileiros, um degrau a mais na escalada impressionante de violência que está empurrando o país para um teor ainda mais exacerbado de barbárie. O incidente com o cinegrafista é parte de uma coreografia de violência crescente que se dá por onde quer que se olhe.
    Nunca se matou com tanta facilidade em assaltos. Nunca se apertou o gatilho com tanta facilidade. É até curioso que as estatísticas policiais no Estado de São Paulo apontem uma redução no número de homicídios dolosos, como se um avanço, quando aumenta o número de vítimas de latrocínio, que não passa de homicídio precedido de roubo.
    De fato, em 2013, o número de latrocínios (379) foi o mais alto em nove anos, com aumento de 10% em relação aos 344 casos do ano anterior.
    Mas a violência não é um fenômeno restrito à criminalidade. A polícia age muitas vezes com uma violência desproporcional. A vida nas cidades e, cada vez mais, no interior é de uma violència inacreditável. O trânsito é uma violência contra a mente humana. O transporte público violenta dia após día. Não é um atentado aos direitos humanos perder às vezes três horas entre ir e voltar do trabalho?
    A saúde é uma violência contra o usuário. A educação violenta, pela sua baixa qualidade, o natural anseio de ascensão social. A existência de moradias em zonas de risco é outra violência. A contaminação do ar mata ou fere de maneira invisível os habitantes das cidades em que o nível de poluição supera o mínimo tolerável.
    Não adianta, agora, culpar o governo do PT ou a suposta herança maldita legada pelo PSDB, ou os crimes praticados pela ditadura militar ou a turbulência que precedeu o golpe de 1964. O país foi sendo construído de maneira torta, irresponsável, sem o mais leve sinal de planejamento, de preparação para o futuro.
    Acumularam-se violências em todas as áreas de vida. A explosão no consumo de drogas exacerbou, por sua vez, a violência da criminalidade comum. Não há "coitadinhos" nessa história. Ha delinquentes e vítimas e há a incompetência do poder público.
    É como escreveu, para Carta Capital, esse impecável humanista chamado Luiz Gonzaga Belluzzo: "O descumprimento do dever de punir pelo ente público termina por solapar a solidariedade que cimenta a vida civilizada, lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel".
    Antes que o desamparo e a violência, quartel se tornem completamente descontrola sem dos, seria desejável o surgimento de lideranças capazes de pensar na coisa pública em vez de se dedicarem a seus interesses pessoais, mesmo os legítimos. Alguém precisa aparecer com um projeto de país, em vez de projetos de poder. Não é por acaso que 60% dos brasileiros querem mudanças, ainda que não as definam claramente. A encruzilhada agora é entre ideias e rojões.

(Folha de S.Paulo, A18 mundo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014)

No 2º parágrafo, pode-se identificar, primordialmente, a presença da seguinte função de linguagem:

(a) Metalinguística - o autor do texto informa o leitor sobre o significado de uma palavra.

b)  Conativa - o autor do texto tenta persuadir o lei- tor acerca dos argumentos que defende, em tom imperativo.

c) Fática - o autor do texto dialoga com o leitor, intercalando frases específicas para manter esse contato por meio do parágrafo, intentando mais manter a conversa do que informar.

d) Expressiva - o autor expressa, no texto, a subjetividade com que se posiciona sobre os fatos tratados, com um teor intimista em que não pode ser constatada a objetividade na argumentação.

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