domingo, 8 de janeiro de 2023

Questões do Enem: Modernismo no Brasil (Primeira Geração - poesia)

1. A discussão sobre gramática na classe está "quente". Será que os brasileiros sabem gramática? A professora de Português propõe para debate o seguinte texto:

        Pra mim brincar

    Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática.
    _ As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde.

 (BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. Pág. 19)

Com a orientação da professora e após o debate sobre o texto de Manuel Bandeira, os alunos chegaram à seguinte conclusão:

a) uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi a busca da identidade do povo brasileiro e o registro, no texto literário, da diversidade das falas brasileiras.

b) apesar de os modernistas registrarem as falas regionais do Brasil, ainda foram preconceituosos em relação às cariocas.

c) a tradição dos valores portugueses foi a pauta temática do movimento modernista.

d) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros exaltaram em seus textos o primitivismo da nação brasileira.

e) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa.

2. "Poética", de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
          
                  Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de
[ponto expediente protocolo e manifestações    
                                [de apreço ao Sr. diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar
          [no dicionário o cunho vernáculo de um
                                                         [vocábulo

Abaixo os puristas
.....................................................................
Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é
                                                     [libertação.

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a) critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) o retorno ao lirismo do movimento clássico. 
d) propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico.
e) propõe a criação de um novo lirismo.

3. Leia o poema a seguir e responda às questões.

                     Brasil

O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
- Sois cristão?
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte 
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
 Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! 
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
- Sim pela graça de Deus 
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
 E fizeram o Carnaval

                         (Oswald de Andrade)

Esse texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é
a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem.
b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras - portugueses, negros e índios - pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira.
c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos.
d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas.
e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade.

4. A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do
a) poeta e do colonizador apenas.
b) colonizador e do negro apenas.
c) negro e do índio apenas. 
d) colonizador, do poeta e do negro apenas.
e) poeta, do colonizador, do índio e do negro.

5.             Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu
                                    [corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de
                    [repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava: 
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da
escola literária dessa época
a) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.
b) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.
c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.
d) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.
e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.

6.           Erro de Português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de Sol
O índio tinha despido
O português.

ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

O primitivismo observável no poema anterior, de Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante 
a) o regionalismo do Nordeste.
b) o concretismo paulista.
c) a poesia Pau-Brasil.
d) o simbolismo pré-modernista.
e) o tropicalismo baiano.

7. Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros artistas mo- dernistas
a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a originalidade e os temas nacionais.
b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a criação artística nacional.
c) representaram a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a prática educativa.
d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística ligada à tradição acadêmica.
e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados.

8.                    Estrada

Esta estrada onde moro, entre duas voltas do
                                                       [caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a
                                                        [gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a
                                                    [sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de
                                            [negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz
                                                         [meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada
                                                         [por um
bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir,
                                                        [pela voz
dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.

BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema "Estrada", o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

9.               O trovador

Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras... 
As primaveras de sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal...
Intermitentemente...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som
                                                   [redondo...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom... 
Sou um tupi tangendo um alaúde!

ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas
de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em "O trovador", esse aspecto é
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como "coração arlequinal" que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como "Sentimentos em mim do asperamente" (v. 1), "frio" (v. 6), "alma doente" (v. 7), como pelo som triste do alaúde "Dlorom" (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os "sentimentos dos homens das primeiras eras" para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.

10. 


MUSEU DA LINGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set. 2011 a 29 jan. 2012
São Paulo: Prol Gráfica, 2012

O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira. 
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética.
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais.

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