sábado, 25 de novembro de 2017

A despedida



                       A despedida

Lembro-me muito bem. Era dia 10 de abril de 2015, uma sexta-feira, data da viagem do meu irmão para São Paulo. Para muitas pessoas, alguém da sua família viajar, pode ser a coisa mais banal do mundo, mas não pra mim. Apesar de ele já ter viajado outras vezes, dessa vez, não sei por qual motivo eu estava tão triste. Talvez porque até hoje, ele está morando lá.
Na manhã desse mesmo dia, eu não tive tempo de conversar com ele, nem de me despedir direito. A viagem era à tarde e eu estaria na escola.
As horas foram passando, até que chegou a hora de ir pra escola e eu ainda não havia me despedido. Na sala de aula o tempo não passava e pra completar tinha prova de matemática, que estava acabando comigo. Eu não sabia se chorava ou se respondia a prova, porque eu não conseguia me concentrar. Fiz o máximo possível pra terminar logo aquela prova.
Quando finalmente consegui entregá-la ao professor, saí correndo desesperada para a rodoviária. Sorte minha que ele ainda não tinha viajado e deu tempo de me despedir. Ficamos conversando, e quando me dei conta, o ônibus já estava chegando. Nesse momento ele me abraçou como nunca havia me abraçado. Senti uma lágrima caindo no meu rosto. Eu queria que o tempo parasse naquele momento, mas isso era impossível.
Então me despedi. Fiz um esforço bem grande pra não chorar na frente dele. Banquei a durona, mas quando cheguei em casa, passei a noite inteira e o outro dia chorando. Como não dava pra parar o tempo naquela tarde da despedida, eternizei aquele abraço no meu coração.



Irisneide, 1º C; U.E.Demerval Lobão. Novembro de 2017, Angical Pi.

Sem luta não há conquista


Superando dificuldades
                  Sem luta não há conquista

No dia 22 de agosto de 2016, eu e meu amigo João estávamos indo para uma seletiva de categoria de base de futebol na zona leste de Teresina. Cinco pessoas dentro de um carro (eu, meus dois irmãos, meu pai e o João), enfrentando ruas esburacadas e alagadas, que não nos deixava progredir com mais velocidade. Era aceitável a situação porque tratava-se de uma tentativa de realização de um sonho de nos tornarmos jogadores de futebol profissional, que eu e meu amigo João Víctor carregamos desde crianças. E assim tentávamos chegar ao local desejado.
Não sabíamos quanto tempo demoraria para chegarmos. Se seriam trinta minutos, quarenta ou até uma hora. Saímos de minha casa em Angical às cinco e quarenta da manhã para a seletiva em Teresina que estava marcada para as sete.
Na noite do dia anterior nós dois quase não conseguimos dormir. Eu não tinha ideia de como nos sairíamos na seletiva. Sempre com pensamento positivo passamos instruções um para o outro em busca do nosso objetivo, confiávamos no nosso potencial. Mesmo assim, no meu pensamento achava que não estávamos preparados para o momento. Minha família confiava mais em nós do que nós mesmos.
Chegamos ao local exatamente às sete horas da manhã. Ao chegar, vi os concorrentes com roupas, chinelos e mochilas de marca, enquanto eu e o João Victor estávamos com roupas simples, mochila velha e havaianas. Vivíamos um momento de emoção perante a situação. O observador da seletiva chegou às sete e quarenta no estádio. Nesse momento, minha confiança aumentou e estava consciente de que passaríamos.
Começa a seletiva e logo sou chamado para o centro do campo. Muito tímido, fico sem reação no meio do campo. Enquanto todos conversavam com seus amigos, direcionei-me para um lado e comecei a orar e pedir a Deus.
Logo no início da partida fiz um gol e comecei a me destacar. Após a primeira parte do teste, fui aprovado. Quase choro de felicidade. Saí de campo bastante elogiado e agradeci a Deus e a toda minha família pelo apoio.
Agora era a vez da seletiva do meu amigo. De início, ele também já fez um gol e ficamos muito felizes por ele. Ao final, recebe a notícia que também foi aprovado. Para a nossa felicidade, somos chamados para a segunda etapa, que aconteceu no dia seguinte. Então, ficamos em Teresina, na casa do meu irmão mais velho.
Dormimos bem e chegamos bem confiantes que seríamos aprovados e iríamos para o Rio de Janeiro. Mas, infelizmente, não conseguimos a aprovação dessa vez. Um pouco tristes, porém de cabeça erguida e com a sensação de dever cumprido, voltamos para casa e recebemos vários conselhos da minha família para não desistirmos dos nossos sonhos. Isso tudo nos mostrou que devemos ter pensamentos positivos e esperança diante das dificuldades e que jamais devemos desistir de realizar nossos sonhos.


Luís Eduardo, 1º B; U.E.Demerval Lobão. Novembro de 2017, Angical Pi.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Violência doméstica



                                 Deus nos livrou

Há quatro anos, eu morava em Teresina com meus pais, com minha irmã (mais velha que eu) e meu irmão (o caçula). Nós éramos uma família muito unida.  Porém, o tempo passou e tudo mudou. O meu pai começou a agredir minha mãe. Eu e meus irmãos víamos tudo porque ele fazia isso na nossa frente. Chorávamos muito sem saber o que fazer, além de rezar a fim de que aquela agressão acabasse logo. Nosso pai já não dava mais amor à nossa família, apenas desgosto.
Havia dias que não tínhamos nada para comer. Minha mãe chorava em silêncio preocupada pensando como nos alimentar. Mas Deus é tão bom, que os vizinhos nos ajudavam muito.
Os dias só pioravam; pois meu pai não tinha dinheiro para comprar drogas. Então começou a roubar e era uma decepção atrás da outra. Até que estourou a “bomba”: um carro da polícia parou em frente a nossa casa com um homem dentro da viatura. Infelizmente esse homem era meu pai, que abandonou a família pelas drogas. Usava drogas por onde andava, e quando chegava em casa, batia na minha mãe, mulher por quem tenho um amor infinito.
Um dia, cansada daquela vida, ela resolveu deixar tudo que tinha em Teresina e vir morar em Angical, na casa da minha avó, trazendo os três filhos. A partir daí a nossa vida melhorou muito.
Hoje, minha mãe vive com outro homem. Ela se apaixonou outra vez e encontrou uma pessoa que gostasse dela. Mas ela ainda mantém contato com meu pai por celular por causa de mim e do meu irmão, porque somos menores de idade e tem aquele negócio de pensão.
Posso dizer que atualmente minha mãe e eu somos muito felizes morando em Angical, onde mora toda a nossa família. Já meu pai, continua em Teresina, na casa da sua mãe e infelizmente não abandonou as drogas.


Obs. A aluna prefere não se identificar
Xxxxxxxxxx, 1º B; U.E.Demerval Lobão. Novembro de 2017, Angical PI.





quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Um milagre de Deus



                                   Um milagre de Deus

Em 2012, quando eu tinha dez anos de vida, sofri um acidente muito grave. Eu estava em casa assistindo televisão com meu vizinho. O irmão dele chegou e me chamou pra brincar. Eu disse que não. Pouco tempo depois, chegou outro amigo chamando também pra brincar no quintal, e dessa vez eu disse que sim. Lá havia um litro de álcool no chão. Fomos tocar fogo em alguns anéis de tucum. Ele pegou a tampa do álcool, pôs o detergente e mandou eu segurar o litro. Mas me distraí olhando para a televisão. Meu amigo colocou fogo na tampa.
Lembro que olhei para o lado e vi uma bola de fogo em minha direção. De repente, essa bola de fogo já estava em minhas costas. Saí correndo para a sala onde meu irmão estava. Ele pegou o pano que cobria o sofá, apagou o fogo e mandou eu ir para o chuveiro.
Quando minha mãe chegou, que olhou pra mim, começou a chorar. Meu vizinho me levou para o hospital daqui de Angical. Mas aqui não tinha como resolver. Levaram-me para o hospital em São Pedro. Lá, passaram uma pomada em minhas costas e disseram para eu deitar. Mas ao deitar, a pele das minhas costas caíram. E já não bastasse tanta dor, fui levado para o H.U.T (Hospital de Urgência de Teresina) onde me deram banho e colocaram um novo curativo.
Após dois meses internado, contraí uma bactéria nas costas, o que agravou a situação. Minha mãe sofria muito com tudo isso. Tive que passar por uma cirurgia de remoção de pele, que foi um sucesso; pois deu tudo certo. Porém, quando foram retirar o curativo, alguns pedaços da minha pele ficaram grudados na atadura. Isso resultou numa dor incontrolável em mim, e mais dolorosa na minha mãe. Ela sofreu mais ainda quando a enfermeira comunicou que eu seria submetido à cirurgia novamente após sete dias, já que eu estava recém-operado.
Minha mãe e eu choramos muito naquele quarto de hospital, e também rezamos bastante. E a noite passou.
No dia seguinte, na hora do banho, quando as enfermeiras tiraram o curativo, todos ficaram impressionados com o que viram. Minhas costas estavam “enxutas”, toda a pele estava em seu devido lugar. O que na verdade terminou sendo um grande milagre e uma grande notícia para todos, principalmente para minha mãe.
Após quatro meses internado, eu já estava recuperado, e a médica me deu alta. E tudo não passou de mais um milagre de Deus em nossas vidas.


Francinaldo, 1º B; U.E.Demerval Lobão. Novembro de 2017, Angical Pi.





sábado, 11 de novembro de 2017

À espera pelos 15 anos



                  Meus 15 anos

Queridos leitores, meu nome é Valéria, tenho 16 anos e moro em Angical. Começarei este relato falando de um assunto simples, mas que a maioria das garotas adoram, porque antes dos 15 anos, muitas coisas são proibidas às adolescentes. Mas na minha casa, não. Meus pais sempre deram certa liberdade para mim e para meus irmãos. Claro, tudo dentro dos limites também.
Então, ainda em 2014, quando eu tinha 14 anos, eu ficava muito ansiosa para que chegasse aquela data tão esperada, ou seja, meu aniversário de 15 anos, mas ainda faltava muito tempo para outubro de 2015. Não sei o porquê de tanta ansiedade por algo que ainda estava tão longe! Enquanto o mundo girava lentamente no espaço, o jeito era “penar” com meus 14 anos.
Falando um pouco mais da minha vida pessoal, eu sempre fui uma menina estudiosa, que também gostava de diversão. E quando eu falo em diversão, era aquela boa pra caramba! Porém, para comemorar meus 15 anos, eu desejava algo simples e humilde. Poderia ser uma seresta ou até mesmo ir à pizzaria com meus amigos mais íntimos. Bem diferente das garotas que sonhavam com uma super festa, com vestido rosa, príncipe encantado e valsa.
O tempo foi passando e de repente “BUM!”, o tão esperado dia do meu aniversário chegou. Recebi os parabéns da minha família, dos amigos e agradeci a todos.
 À tardinha, meus amigos me chamaram para sair. Tudo estava bem. Algumas horas passaram e uma imensa preguiça tomou conta de mim. O que eu fiz? “Barrelei” com todos eles e decidi ficar em casa assistindo TV. Acredito que tenham ficado com muita raiva de mim. Mas fazer o quê? Eu não estava mais nem um pouco afim de sair, então não saí.
Sei que os queridos leitores estavam esperando que eu dissesse que foi o melhor aniversário de todos, mas estaria mentindo. E assim, encerro este relato sobre esse dia, que não marcou só a mim, mas também a todos os meus amigos que não puderam comemorar o meu aniversário comigo.


Valéria, 1º A, U.E.Demerval Lobão. Novembro de 2017. Angical Pi.



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Sobre o medo de perder uma mãe



                             Mãe: presente de Deus

Meu nome é Luana, tenho 16 anos e moro em Angical do Piauí.
Em março de 2015, passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida. Minha mãe adoeceu, passou mal e teve que ir ao hospital às pressas. Quando a vi passando mal na minha frente, senti muito medo de perdê-la. Vê-la naquela situação me deixou sem chão. O meu mundo estava prestes a desabar.
O hospital da minha cidade não tinha muito recurso, então ela foi transferida para o hospital Getúlio Vargas em Teresina. Isso depois de quatro dias sentindo muita dor em seu abdômen. Chegando lá, após fazer vários exames, descobriram que havia um cisto de aproximadamente 30cm (quase cinco quilos), no ovário esquerdo e teria que fazer uma cirurgia com urgência.
A cirurgia foi um sucesso, mas minha mãe voltou a passar mal porque sua pressão ficou muito baixa. Minha tia, que estava como acompanhante, me ligou para dar notícias. Falou que estava piorando a situação da minha mãe. Em seguida, mandou-me fotos por um aplicativo do celular. Minha mãe estava irreconhecível, pálida, magra e vi muita tristeza em seu olhar. Fiquei em desespero.
Passei quinze dias sem ir à escola; pois eu estava cuidando da minha irmã, que naquele ano tinha só dois anos. Não dava para o meu cuidar porque ele trabalhava o dia todo. Esses dias longe da minha mãe foram muito angustiantes, mas depois de quase um mês internada, ela recebeu alta (para a minha felicidade e de todos que a amam).
Antes dela receber alta, pedi para que Deus mandasse um anjo cuidar dela. Orei muito e o Senhor ouviu com certeza minhas orações. Hoje valorizo muito mais minha amada mãe, dou-lhe mais atenção, porque ela é meu bem maior, mais precioso, meu presente de Deus.




Luana, 1º A, U.E.Demerval Lobão. Novembro de 2017, Angical Pi.



Relato pessoal sobre superação



                          Meu pós “Resgata-me”


No dia 14 de julho de 2017, tive o privilégio de vivenciar um retiro, cujo nome é “Resgata-me”. Foi o final de semana de mudanças na minha vida. Aquele que me fez ver o mundo com outros olhos.
Entrando a fundo nessa história, irei falar um pouco do meu eu antes do retiro. Antes, tive uma fase depressiva, mas eu nunca demonstrei às pessoas que conviviam comigo por medo de rejeição. Como consequência de nunca conversar com ninguém sobre essa depressão, tentei o suicídio três vezes. Na terceira vez, enquanto eu me cortava com gilete, minha mãe viu e disse que eu estava ficando louca. Outros disseram que eu estava possuída. De repente, tudo era uma escuridão e nada mais fazia sentido.
Foi então que, finalizando as provas do semestre, no dia 14/06/2017, saí de Angical para Teresina, juntamente com outros colegas para o “Resgata-me”. A partir desse evento, minha vida mudou completamente para melhor.
Reconheci que a vida não é um parque de diversão. Antigamente eu pensava que eu devia brincar e curtir muito porque a vida era curta. Porém, percebi que devemos levá-la a sério. Não é viver afogado(a) na bebida, nas drogas, farras, exposição corporal e sexual. Comecei a ter mais amor pela minha existência, além de encontrar um novo sentido para viver.
Tive também o prazer de conhecer uma freira chamada Antonella, que foi uma luz no fim do túnel pra mim. Através dela, da minha amiga Aparecida e também do meu amigo Fernando Ítalo, é que eu pude ir para esse retiro. Eles arrumaram tudo pra mim e convenceram minha mãe. Deus coloca verdadeiros anjos em nossas vidas.
Talvez não tenha sido tarde para eu reconhecer que sem Deus não temos uma vida feliz. Hoje olho ao meu redor e vejo o quanto as pessoas estão perdidas nesse mundo. Claro que há exceções!
Assim, encontrei uma família que está comigo em todos os momentos. Sinto orgulho de dizer que faço parte de uma fraternidade acolhedora, que amo tanto. Eu sou Juventude e Fraternidade: o caminho.



Dallila Alencar Ripardo, 1º A, U.E.Demerval Lobão, Novembro de 2017. Angical Pi.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Relato pessoal sobre depressão



                                            O recomeço

Chega um momento na nossa vida que nada importa, nada interessa e o nosso maior desejo é o isolamento dentro de um quarto sem que ninguém atrapalhe. Isso aconteceu comigo em 2014, quando eu tinha 14 anos, e é algo que ultimamente vem acontecendo com milhares de jovens. Essa sensação começa apenas como se fosse um dia ruim, mas o dia passa, a noite chega e nada melhora.
Às 22:00h, eu no meu quarto estava, deitada, agarrada ao meu velho ursinho, derramando um mar de lágrimas por algo que eu não sabia exatamente o que era. Só sei que era uma das piores sensações acompanhada de medo (atelofobia). Eu ficava sozinha em meio a outras péssimas sensações. O pior de tudo foi encarar isso como depressão.
É muito difícil falar sobre depressão, é doloroso, sombrio, ainda mais pra mim que passei dias lutando contra ela. Uma luta que você perde várias vezes, porque a solidão nos sufoca. Algumas pessoas, julgavam o meu comportamento triste como fraqueza, frescura; outras diziam que eu só queria chamar atenção. Mas nada disso era verdade. Eu pedia ajuda, gritava por socorro, só que em silêncio.
Passava pela mesma coisa todos os dias. Queria ajuda, porém eu tinha muita vergonha de falar tudo o que eu estava sentindo, porque até então, todas as pessoas que me dirigiam a palavra, era pra me machucar. Elas não entendiam sobre o assunto.
Em um certo dia, pensei em me suicidar. Não aguentava mais aquilo todos os dias: ausência da família e dos amigos. Mas que pessoa eu seria? Desistiria fácil assim? Resolvi tentar mais uma vez. Apeguei-me a Deus e todos os dias eu lutava contra aqueles sentimentos ruins.
Então, entrou uma pessoa na minha vida que me ajudou diariamente, sem nenhuma falha. Todas as recaídas que eu tive, ele estava ali pra me ajudar a levantar. Um amigo que jamais vou esquecer. Diante disso, minha autoestima foi aumentando. Cultivei o amor próprio, assim, os sorrisos foram voltando. E o sol voltou a brilhar novamente através de muito apoio, coragem e muita fé em Deus. Aliás, a fé é algo que todos devem ter, porque a luta é grande e Deus nunca falha.
Hoje sou uma pessoa melhor, que passa por muitas coisas todos os dias; porém sou mais forte. Não preciso de máscaras, e durmo com a certeza de que o amanhã a Deus pertence, que Ele está cuidando de tudo. Eu consegui, eu superei. Ajudo pessoas com início de depressão, e nada mais me dá tanto orgulho do que o fato de vencer essa batalha junto com essas pessoas. Aprendi que as coisas também dão errado, mas tudo vira aprendizado. O importante é procurar sempre o equilíbrio em Deus.



 Hellen Teixeira, 1ºC, U. E. Demerval Lobão. Novembro de 2017, Angical Pi.

sábado, 28 de outubro de 2017

Relatos sobre "micos" na infância



                     Momento comédia da minha infância

Houve um episódio marcante na minha infância que eu nunca vou esquecer. Lembro-me como se fosse hoje. Eu tinha uns quatro ou cinco anos e estudava na “Unidade Escolar Ana Dulce Ribeiro”, no 1º ano do ensino fundamental. Minha professora chamava-se Gonçala. Não lembro a data, mas sei que era uma sexta-feira e eu estudava à tarde.
Nesse dia, eu fui para a escola tão feliz, bem vestida, toda de sainha nova. Eu sorria com o vento. Porém, tem um ditado que diz que alegria de pobre dura pouco. Então entrei na sala de aula, sentei na primeira fila. A professora havia mandado uma atividade para casa e quem respondesse ganhava pontos. Após o intervalo seria a correção.
Chegada a hora, ela perguntou: “Quem fez o exercício?”. E eu toda alegre respondi: “Eu fiz, professora!”. Ela pediu que eu levasse o caderno para verificar se estava tudo certo.
No momento que eu levantei da minha cadeira e comecei a caminhar até a professora, minha calcinha caiu. O pior é que eu nem senti quando ela caiu. Mas todos começaram a rir de mim. Olhei para o chão e vi minha calcinha sobre os meus pés, eu não aguentei e comecei a chorar. A professora mandou a turma toda calar a boca, mas ninguém parava. Ela se fazia de durona, até que começou a rir também.
Então, como eu não parava de chorar, a professora mandou os alunos pra casa mais cedo e ficou só comigo na sala. Pegou uma “xuxa” do meu cabelo e amarrou minha calcinha. Fui embora em seguida, mesmo sabendo que quando eu saísse da sala, todos os colegas iriam zombar de mim. Segui minha viagem.
Passei o final de semana sem colocar “a cara” para fora de casa. Na segunda-feira, quando acordei e lembrei que tinha que ir para a escola, veio-me uma sensação tão ruim que eu não sabia o que fazer. Então pensei: “Vou sorrir! Mesmo triste, vou levantar após cair.” Sempre fui feliz, persistente e forte acima de tudo.
Devemos seguir sempre e lembrar dos obstáculos que já superamos, porque ninguém é perfeito e a vida é cheia de altos e baixos. E também minha vida é assim, pura comédia.

 Simplicidade (pseudônimo), 1º C, U.E.Demerval Lobão. Angical PI, outubro de 2017.



                                  A adolescente criança

Quando somos crianças tudo parece ser mágico, principalmente quando se é menina saindo do mundo infantil e entrando na adolescência. As coisas vão se tornando diferentes e começamos a perceber mudanças no nosso corpo. O pior é que todos observam essas mudanças e isso passa a se tornar um “mico”. Eu tinha doze anos e me sentia uma verdadeira criança; embora as crianças de hoje queiram ser adolescentes a partir dos nove.
Então, era 2011, e eu tinha meus 12 anos. Completaria 13 apenas em novembro. Fui estudar numa escola de Amarante. Eu tinha uma mentalidade muito infantil, não conhecia certas coisas de adultos. Eu só pensava em bonecas, mas entrei numa turma cheia de pré-adolescentes que pensavam como adolescentes.
Estávamos ainda na primeira semana de aula, aula de educação física, ou melhor, aula prática no pátio da escola e todos foram para a quadra. Lá, íamos jogar bola, mas antes tínhamos que fazer alongamento. Quando alonguei os braços para cima, todos os alunos estavam olhando pra mim e eu ali sem entender nada. Continuei com os braços levantados e todos estavam fazendo alongamento também, mas rindo o tempo todo e cochichando. A professora pediu silêncio. Até que veio uma amiga e falou assim: “Abaixa os braços, que eles estão cheios de pelos!”.
Eu fiquei muito envergonhada. Abaixei os braços rapidamente e saí da quadra para a sala, como se nada tivesse acontecido. Porém, morrendo de vergonha. Constrangimento maior porque tinha umas meninas falando e olhando diretamente pra mim na sala de aula. Depois desse episódio, aprendi sobre depilar as axilas e no decorrer do ano, fui me adaptando à escola, enquanto a turma ia esquecendo aquela cena; embora de vez em quando alguém ainda comentasse e os colegas caíam na risada.


 Michelle, 1º C; U.E.Demerval Lobão, Angical Pi, outubro de 2017.









quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Relatos pessoais sobre abandono


                                Minha infância sem meus pais

Eu fui uma menina criada sem meus pais. Minha avó materna foi quem cuidou de mim desde que eu tinha apenas três meses de vida. Isso aconteceu porque minha mãe dizia que não tinha como me criar, então ela perguntou para minha madrinha se ela poderia ficar comigo, mas esta disse que precisava trabalhar. Depois pediu para a minha avó e ela disse que sim.
Não conhecia o meu pai. Porém, quando estava pertinho de completar sete anos, falei para minha avó que queria muito conhecê-lo. Ela disse: “Pois você vai conhecer!”
No dia sete de fevereiro de 2009, data do meu aniversário de sete anos, fui para Monsenhor Gil e o conheci. Ele ficou até emocionado ao me ver.
Depois disso, descobri algumas coisas sobre minha vida: minha mãe havia me deixado no hospital assim que eu nasci, porque ela não me queria. Até hoje sou revoltada com isso. Mas também descobri que meu pai batia muito nela; por isso nasci cheia de manchas pelo corpo, talvez hematomas. Até hoje tenho algumas dessas marcas. Quando ela se separou dele, eu tinha um mês.
Hoje ela tem outra família com três filhos: Raiane, Ravena e João Henrique, meus irmãos.
Como eu já disse, fui criada por minha avó, que deu a sua vida por mim e até hoje faz tudo pra me ver feliz. Eu devo tudo a ela. Sempre está ao meu lado nas horas difíceis, tristes e de brincadeiras. Ela nunca me desprezou, ao contrário da minha mãe.
Minha avó quis me oferecer tudo de bom para que eu tivesse uma infância feliz e fez de tudo “pra eu ser gente”, inclusive pagar escola particular pra mim aqui em Angical. E eu tive sim a melhor infância que eu poderia ter. Nunca tive amor de mãe e nem de pai. Nem sei o que é isso. E quem tem, às vezes não dá valor.
Tenho dezesseis anos, já sou casada. Não foi da vontade de minha avó que eu casasse, mas ela aceita. E sou feliz graças a ela. Não vou conseguir pagar tudo que ela fez por mim. Já minha avó por parte de pai, diz que eu sou pra ela um dedo que ela cortou e jogou fora.


    Kelly (pseudônimo), 1º B; U.E.Demerval Lobão, outubro de 2017, Angical Pi.


                                  O pior dia da minha vida

Era noite do dia 5 de novembro de 2000. Dia que minha mãe me abandonou por estar traindo meu pai com meu tio. Eu tinha apenas dois anos de idade e ainda mamava. Apesar de ser pequena, eu entendia um pouco das coisas. Lembro dela dizendo que podia ter me matado e que tentou muitas vezes o aborto.
Eu era muito pequena, não merecia ser abandonada e deixada com pessoas que nem ela mesma conhecia. O que eu fiz pra ela ter tanto ódio de uma criança tão meiga e carinhosa? Eu entendia o que acontecia ao meu redor e fui crescendo e criando um ódio tão grande que não sei se consigo perdoá-la algum dia.
Ainda me lembro quando ela me chamava de minha princesinha. O que aconteceu com sua princesinha? Por que você a abandonou quando ela mais precisou? Você deu as costas. Que pena! Agora a princesinha cresceu e virou a vilã, descobriu outros significados da vida.
Quando minha mãe estava grávida de mim ela usava muito crack. Ao nascer, descobriram que eu estava com problema nos pulmões e por isso ela me desejava a morte. Logo quando me abandonou começou a vender drogas e a se prostituir e hoje ela é uma das maiores traficantes de Teresina e da minha parte ela só tem o meu desprezo.
Minha mãe me abandonou e agora tem o meu desprezo, nada vai mudar isso. Por causa dela hoje sou uma garota triste e amarga, que não se apega mais a ninguém, porque tem medo de ser abandonada outra vez e prefere ficar sozinha sem ninguém. Vive rodeada de pessoas, mas se sente só.
Ninguém se importa comigo, as pessoas só pensam nelas mesmas. Eu preciso de um pouco de atenção e de carinho. Às vezes sou chata, mas tenho um bom coração. Só quero ser feliz e amada. Não sou uma pessoa má e nem quero enfrentar a vida sozinha. Cadê aqueles amigos que dizem que são seus amigos, mas na hora que você mais precisa eles somem? A verdade é que as pessoas só querem a nossa amizade quando estamos numa boa.


  Menina má (pseudônimo), 1ºA, U.E.Demerval Lobão, outubro de 2017; Angical PI.









quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A vida é passageira




                                 A vida é passageira

No dia 25 de setembro de 2013, perdi uma pessoa muito querida: meu avô Chico, padrasto do meu pai. Quem diria que ele fosse exercer um papel tão importante na minha vida! Ele me ensinou muitas coisas, aliás, todos os dias eu aprendia algo diferente com meu avô. Nós nos divertíamos muito. Lembro-me como se fosse ontem.
Não entendo porque ele teve que partir tão cedo; pois desde que se foi, a casa onde morava ficou muito vazia, não é mais a mesma. Dá uma tristeza enorme quando passo por lá e não o vejo mais. Foi com ele que vivi os melhores momentos da minha vida.
Todos os finais de semana, nós íamos para Agricolândia Pi visitar uma afilhada do vô Chico. Lá era pura diversão, ele gostava muito de brincar conosco. Teve uma vez que durante um aniversário em que nós estávamos, algumas meninas brincando de jogar bexiga cheia d’água nas outras pessoas, vô Chico entrou na brincadeira e a bexiga estourou nas mãos dele, ficou todo molhado, mas foi muito engraçado. Esse foi um dos muitos momentos juntos que vivemos.
Meu bisavô José também foi outra pessoa de quem eu gostava muito. Partiu um pouco mais cedo que meu avô. Era uma pessoa alegre, divertida, adorava comprar empadinhas pra mim. Gente boa demais!
Essas foram as duas pessoas que eu nunca irei esquecer, vou guardar para sempre todos os ensinamentos que eles deixaram. Por isso devemos sempre aproveitar o máximo que podemos ao lado de quem gostamos, porque ninguém sabe o dia de amanhã.
O ser humano já nasce sabendo que um dia irá partir desta vida, mas nunca está preparado para perder alguém, principalmente pessoas tão especiais. Como dizia meu avô: “A vida é passageira!”

   M.M. 1º A, U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017, Angical Pi.



Relato de um menino que fugiu de casa para conhecer o pai




                              Um menino que conheceu o seu pai

Tudo aconteceu em Belo Jardim (Pernambuco) em junho de 2005, quando eu tinha apenas cinco anos, após descobrir que meu pai biológico estava vivo e eu não sabia. Então eu fugi de casa para procurá-lo. Minha mãe correu tanto atrás de mim, mas não me alcançou.
Ao chegar à noite, eu estava com muita fome e sede. Fiquei fraco e caí. Foi quando passou uma mulher que vendo uma criança naquelas condições, perguntou de quem eu era filho, e eu respondi que era filho “da minha mãe”. Ela pegou o celular e ligou para a polícia. Quando a polícia chegou, fui levado para o Conselho Tutelar juntamente com a mulher que me encontrou. Este, conseguiu localizar minha mãe. Então fomos para casa.
Chegando lá, minha mãe ligou para meus avós paternos e disse que não tinha como me criar porque estava desempregada e com sua mãe doente. Meus avós ficaram com pena de mim e pediram para meu tio Antônio José para que fosse me buscar em Pernambuco e trazer para Angical.
Assim, ele me trouxe para morar com meus avós paternos no Caldeirão, povoado de Angical.
Conheci meu pai no dia seguinte após minha chegada, mas como eu tinha apenas cinco anos, era uma criança assustada, passei mais uns cinco dias fugindo, com medo, até eu me acostumar com todos. Às vezes, esperava meus avós dormirem para eu poder fugir de novo e aí era aquela procura toda pra me encontrarem. Porém, parei com as fugas porque comecei a me sentir amado. Eles cuidavam muito bem de mim.
Depois disso, só alegrias aconteceram na minha vida. Deus é meu companheiro. Todos os dias eu agradeço, porque se não fosse por Ele, eu não estaria aqui, não teria conhecido o meu pai. Mas infelizmente, não vejo minha mãe desde os meus cinco anos, apenas mantemos contato.


      Cleydson Barbosa de Sousa, 1º A, U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017.
Angical, Pi.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Relato pessoal sobre gravidez na adolescência



                            A morte prematura do meu bebê


Sempre fui uma garota ativa desde a infância e logo quando completei treze anos, em janeiro de 2014, comecei a me relacionar com um garoto de quatorze. Porém, o nosso relacionamento foi além. Ele ia todos os dias à minha casa e acabou tornando-se o meu amor.
Com pouco tempo aconteceu o que foi inesperado pra mim: um novo ser vivo viria ao mundo. Minha mãe já estava desconfiada, pois além do atraso menstrual de dois meses, eu vomitava muito, passava mal constantemente, quase todas as noites, e quanto mais eu negava, mais ela tinha a certeza que eu estava gestante.
Até que um dia minha mãe resolveu ter uma conversa séria comigo e me convenceu a fazer um exame de gravidez. Nesse dia fiquei muito nervosa porque eu sabia a verdade e estava com medo da reação dela e da minha família. Meu namorado, já calmo, também me convenceu a fazer o teste.
Chegando ao laboratório, eu estava gelada, não sabia o que falar e só pensava no resultado. Três dias depois, ele chegou, trazendo ainda mais nervosismo e ansiedade também.
Fiquei impressionada com a reação da minha família, pois minha mãe só pedia para eu ter calma porque eu não parava de chorar. Meu pai, sempre paciente, falava que que ia dar tudo certo e que o mais importante naquele momento era cuidar daquele bebê que estava no meu ventre.
No dia seguinte quando fui para a escola, meus colegas ficavam sorrindo de mim, fazendo brincadeiras com o que eu estava passando e a cada dia as piadas só aumentavam. Meu professor de matemática chegou na sala e perguntou quem era a garota de treze anos que estava grávida. Eu abaixei minha cabeça e comecei a pedir a Deus que tudo aquilo que estava acontecendo comigo passasse logo. Ele tinha falado com um tom de ironia como se não soubesse quem era a aluna.
Cinco meses de gestação e todo aquele sofrimento parecia não ter fim. Cada dia era pior. Eu passava e as pessoas olhavam e me julgavam por eu ser nova demais. Eram palavras constrangedoras que ninguém merece ouvir.
Meu namorado e minha família deram-me muito apoio, assim como minhas duas melhores amigas. Jadinaele e Jatinaele, irmãs gêmeas, foram as únicas que quase todos os dias iam à minha casa para saber como eu estava. Muitos “amigos” afastaram-se de mim, pois para eles, eu não era uma boa companhia. Alguns, depois de algum tempo do impacto da notícia, até voltaram a falar comigo, já outros, continuaram me julgando. Mas eu sabia que aqueles que estavam ao meu lado, realmente gostavam de mim e queriam o meu bem.
No dia oito de maio daquele mesmo ano, na minha cidade (Angical), houve um evento: a Ação Global. Fiz uma pequena apresentação de capoeira, que me deixou um pouco tonta e de repente, caí. Meu professor imediatamente me socorreu. Em seguida, fui para casa descansar. À tarde, comecei a sentir dores muito fortes na barriga e um calor insuportável. Resolvi tomar um banho e tive uma surpresa: a minha bolsa estourou. Minha mãe ficou muito preocupada e levou-me para o hospital. A doutora encaminhou-me para a Maternidade Evangelina Rosa, em Teresina.
Chegando lá, o exame de ultrassonografia detectou os batimentos acelerados do bebê e o médico deu a notícia que meu filho não tinha chance de sobreviver, pois o líquido que ele precisava, eu já havia perdido na viagem toda de Angical para Teresina. Esperei o momento de sentir as dores do parto e ele nascer.  Foram os dias mais tristes da minha vida. Eu sabia que meu bebê não iria sobreviver. Era uma dor inexplicável ver tantas mães com seus filhos nos braços e eu perdendo o meu.
Dia treze de maio, numa tarde, aproximadamente às seis horas, comecei a entrar em trabalho de parto. Levaram-me para a sala de parto, e ali tive um bebê prematuro de cinco meses. Após o seu nascimento, ele ficou vivo por um minuto e logo faleceu.
Minha mãe fez de tudo para trazê-lo para Angical, mas os médicos não permitiram porque tratava-se de um aborto espontâneo. Fiquei arrasada por não realizar o velório do meu menino. Passei a noite no hospital, em observação.
No dia seguinte tive alta e voltei para casa muito triste por não ter meu filho nos braços, mas tive muito apoio dos meus familiares, de alguns amigos e do meu namorado, que era muito presente.
Todos os dias fico imaginando como seria se ele estivesse vivo, pois já se passaram três anos e a saudade e a tristeza só aumentam quando eu lembro daquele dia.



     Maria Clara, 1º C; U.E.Demerval Lobão, Angical PI. Outubro de 2017.



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Relato pessoal sobre ansiedade



                                                      Minha ansiedade

Tudo começou há oito anos, na melhor fase da minha vida. Eu passei a viver um sofrimento sem fim. Todos os sábados eu fazia balé e a professora sempre pedia para que todas as alunas fossem com os cabelos em forma de coque. Nesse tempo eu não aceitava prender meus cabelos, assim, nas aulas de balé eu sempre ficava com eles soltos.
Com o passar do tempo, não conseguia tirar a mão dos meus cabelos. Passei a puxar um fio, depois dois fios e logo comecei a puxar vários fios de cabelo.
Certo dia eu e minha mãe notamos a diferença e várias perguntas surgiram para mim sobre o fato de eu estar ficando careca. Perguntavam-me, por exemplo, se eu estava usando algum produto químico. E eu, frágil, nunca falava nada. Havia dias que eu não tinha vontade de ir à escola com vergonha de mim mesma, do meu cabelo. Cheguei a ter vários apelidos como “careca” e “Maria puxa cabelo”.
Eu sempre me perguntava porque eu fazia isso comigo mesma. Quando eu deitava pra dormir, eu arrancava fios do meu cabelo. Passava em torno de umas duas horas. Pra mim, aquela ação era uma forma de alívio, como se eu estivesse tirando um peso de mim. Eu me sentia leve.
O tempo passava e arrancar fio a fio de cabelo virou costume. Qualquer lugar que eu fosse, eu parava pra sentar e a mão automaticamente ia para o cabelo. Minha mãe concluiu que aquilo era uma doença. Ela chegou ao ponto de amarrar minhas mãos quando eu começava a puxar.
Minha mãe via todo o meu sofrimento, a vontade de tocar no cabelo era maior que tudo. Eu chorava ao vê-lo feio, quebrado e estragado.
Quando completei doze anos, comecei a fazer um tratamento pra saber realmente o porquê disso tudo. A psicóloga afirmou que era um transtorno mental e recomendou procurar um psiquiatra. Este me receitou vários remédios que me ajudaram um certo tempo.
Hoje eu tenho dezessete anos e essa ansiedade nunca saiu de mim, esse pesadelo é sem fim. Eu sinto que nunca vou parar de arrancar meus fios de cabelo, porque se eu parar, minha alma morre. É a única coisa que me acalma e tira de mim todo o estresse.

       Fauanny, 1ºC, U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017, Angical PI.


O meu primeiro beijo (relato pessoal)



                                               O meu primeiro beijo

O meu primeiro beijo foi aos treze anos, em junho de 2014. E quando eu tinha essa idade eu achava lindo beijar na chuva. Era meu sonho beijar na chuva.
Nesse período, comecei a estudar numa nova escola e ao longo do tempo fui fazendo amizades. Completaria meus quatorze anos no dia 16/12 daquele mesmo ano e os meus amigos perguntando sobre o meu primeiro beijo, se ele tinha sido bom. Eu mentia. Como eu mentia! Não sabia nem o que era beijar, mas eu inventava historinhas que já tinha beijado. Cada amigo ou amiga que me perguntava sobre o meu primeiro beijo, era uma nova história, porque eu era assim: não beijava, mas falava que beijava. Ainda dizia que meu beijo era “isso” e “aquilo”.
Quando eu chegava em casa, ia direto pesquisar sobre “Os cinco passos para o rapaz adorar o seu beijo”. Nessa idade eu me perguntava o tempo todo se os garotos iriam gostar do meu beijo.
Quando minhas amigas falavam pra eu ficar com algum menino, eu sempre dizia que não, inventava alguma desculpa. Mentia sempre por não saber beijar. Às vezes o garoto era tão lindo, tão lindo, e eu não podia fazer nada.
Até que chegou um certo dia especial. Dia que fui a um sítio. Lá havia piscina e vários menininhos. Fiz muitas amizades.
Foi então que chegou uma garota dizendo que um garoto estava olhando pra mim. Eu só pensava como eu iria explicar pra ela que eu não sabia beijar, por isso não poderia “ficar” com ele. Inventei logo que estava muito cansada, mas no fundo eu estava  interessada.
Em seguida, fomos todos pra piscina. Eles brincavam de nadar, “virar peixe”, mas eu, pra piorar, não sabia nadar. Só afastei o garoto, porque eu não sabia beijar, não sabia ficar igual uma sereia na água... paciência!
Quando, de repente, ele se aproxima perguntando se eu queria “ficar” com ele, pois havia gostado muito de mim. O que fazer naquele momento?
Então contei mais uma mentira. Disse que eu estava gostando de uma pessoa. Ele saiu. À tardinha, na piscina, só ficamos eu, minha amiga e o garoto. Ele pediu pra brincar de quem demorava mais tempo no fundo da piscina. Eu disse que tudo bem. Quando chegamos lá no fundo, ele me puxou e me beijou! Ele me beijou embaixo d’água. Fiquei aliviada, porque como foi embaixo d’água, ele não tinha como saber se o beijo foi bom ou ruim. Se ele achou o beijo ruim, a culpa foi da água. Mas se o beijo foi bom, era qualidade minha.
Assim foi o meu primeiro beijo: traumatizante. Sempre que eu abria a boca para beijá-lo, entrava água e saia pelo nariz. Eu estava quase me afogando. Prometi pra mim mesma que nunca mais beijaria, porque eu fiquei com muito nojo. Porém tudo na vida passa e experiências melhores acontecem.



Mamaduc H. (pseudônimo), 1º B.  U.E.Demerval Lobão. Outubro de 2017. Angical PI.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A curiosidade dentro de nós (relato pessoal)



A curiosidade dentro de nós
                        Depois de estragarmos surpresas, nunca mais seremos curiosos


Havia meses que os meus amigos e familiares preparavam uma surpresa de aniversário pra mim aqui em Angical.
Em junho de 2017, depois de tanto implorar por uma festa surpresa a eles, eu resolvi (já curiosa) mexer no celular da minha mãe, o qual tinha um grupo para organização do evento que eu desejava tanto. Daí eu descobri sobre a festa que, já não era mais surpresa, porém não avisei a ninguém. Até que, conversando com minha amiga Magali, falei que sabia e blá, blá, blá, obviamente ela ficou louca. Disse que não iria mais falar nada, nem fazer festa, mas eu esperei calmamente os dias passarem. Até que, então, chega o dia 23 de junho, e eu estava convicta que não haveria mais festa surpresa.
Acordei, arrumei-me. As meninas chegaram em casa e Magali me ligou pra arrumar o cabelo dela. Novamente fiquei desconfiada que teria alguma surpresa. Cheguei o mais rápido possível à casa da minha amiga, e pra minha surpresa... não tinha surpresa nenhuma.
Voltei pra casa, almocei e mais uma vez chegaram Magali e Kamily. Passamos a tarde toda juntas. Magali pediu que fôssemos pra casa dela novamente e eu fui, muito alegre. Chegando lá, nada de festa. De tanto me enrolarem, chega o Cascãozinho, meu namorado, dizendo que os avós dele e a tia queriam falar comigo para me parabenizarem pelos meus 15 anos.
Eu já nem esperava mais que fizessem festa surpresa pra mim, por isso não desconfiei de nada. Ao chegarmos, tudo fechado. Eu abri a porta e lá estavam meus amigos e familiares dele. Era uma festa surpresa e romântica. Ele organizou com meus amigos. Foi a coisa mais linda, algo que eu não imaginava.
Quando a festa acabou, meu namorado foi tomar banho e demorou muito. Eu já estava chateada, mas enfim, saímos. Porém, ainda íamos passar na casa do amigo dele, e eu já cansada. Chegando lá, Marcos não estava. Nós já voltávamos pra minha casa, quando no caminho, o pneu da moto furou. Ele se desesperou, deixou-me na praça enquanto tomava uma providência. WI-FI conectou, minha amiga Magali postou no status uma foto em que ela estava no meu quarto. Daí ela lembrou que eu estava com o celular dele. Ainda tentou me enrolar, mas não conseguiu. Cascão voltou e ao chegarmos finalmente em minha casa, havia uma linda festa com todas as pessoas que eu gosto. Foi o meu melhor aniversário. Fiquei muito feliz.
Esse dia me marcou muito porque aprendi a deixar a curiosidade de lado. Ser feliz é evitar a curiosidade.

   Beatriz, 1º A. U.E.Demerval Lobão, Angical,PI. Outubro de 2017.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O dia que meu amigo virou um anjo (relato pessoal )



                     O dia que meu amigo virou um anjo


Em uma tarde do dia 24 de dezembro de 2013, estava tudo lindo, uma felicidade enorme invadia meu coração, como era costume aquele clima lindo de festa natalina. Porém, por volta das 16:00h daquela tarde, recebi uma notícia que jamais queria receber, um grande amigo meu havia sofrido um terrível acidente de carro. Logo que soube, comecei a ficar triste, tudo o que eu desejava era que aquela história fosse mentira, mas como não tinha certeza sobre a notícia, fui até a casa dos avós dele.
Assim que eu estava chegando, vi muitas pessoas lá, chorando. Consegui avistar um amigo e fui ao seu encontro para saber o que realmente havia acontecido. Quando me aproximei, ele já me abraçou e começamos a chorar juntos, e chorando ele me perguntou:
__ O que vai ser de nós sem o Kayque?
Eu também chorando perguntei:
__ O que aconteceu com ele? É verdade mesmo sobre o acidente?
__ Sim, é verdade. Ele estava vindo de Teresina com uma amiga da tia dele quando um carro descontrolado bateu no carro que ele estava. O carro virou e pegou fogo.
Naquele momento não tive reação, só sentei numa cadeira e comecei a chorar sem parar, mas ainda existia uma esperança dentro de mim que o Kayque sairia daquele carro vivo.
Aproximadamente às 17:40 a notícia que ninguém queria receber: kayque morreu. Ninguém conseguiu tirá-lo daquele carro, que estava totalmente em chamas. Ele só tinha treze anos.
Ali eu já tinha ganho mais força, mas foi muito difícil aceitar que tinha perdido aquele amigo carinhoso, brincalhão, palhaço. Aquele clima de festa acabou em toda a cidade de Angical, e o que prevaleceu naquele momento foi um verdadeiro luto.
Hoje, após quase três anos, sinto que ganhei um anjo, que passa dia e noite comigo, cuidando de mim o tempo todo. Perdi um amigo, mas ganhei um anjo da guarda.


                             Aparecida Neiva, U.E.Demerval Lobão, 1º C
                                                 Angical Pi, outubro de 2017.



quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Há males que vêm para o bem (relato pessoal)



                             Há males que vêm para o bem

Era um dia à tarde. Eu morava em Teresina com meus padrinhos e estava em casa sozinha quando decido ligar para minha vó e falar que queria muito morar com ela e com minha mãe. Mas nós conversamos tanto sobre outras coisas, que quando eu ia soltar a bomba, chegou uma pessoa na casa dela e teve que desligar. Os dias foram passando e eu sem tirar aquela ideia fixa da cabeça. Logo eu liguei pra ela de novo, o telefone tocou várias vezes e nada da minha vó atender. Então eu pensei que algo importante havia acontecido por lá.
No outro dia eu ligo novamente, mas dessa vez ela atendeu e deu-me uma péssima notícia: ela e minha mãe tinham discutido por motivos que eu até hoje não tenho conhecimento e por isso minha mãe deixou minha vó morando sozinha. Chorando, eu disse que queria ir embora de Teresina para morar com ela em Angical. Rapidamente minha vó perguntou se era minha decisão final e eu falei que era sim. Então falou que ia me buscar e pediu para eu não contar para os meus padrinhos.
Foram dias péssimos. Ainda morando com meus padrinhos, chorei muito escondida no banheiro. Apesar de eu não ser tão apegada a minha mãe, amava-a e chateei-me ao saber que não iria vê-la todos os dias.
Certo dia, recebo uma ligação da minha mãe falando que ela e minha vó tinham conversado, uma conversa séria que resultou em entendimento. Eu fiquei extremamente feliz com a notícia e contei pra ela sobre a ideia de ir morar novamente em Angical. Minha mãe então respondeu que se eu quisesse poderia voltar e em seguida perguntou se eu queria morar com ela e meu pai ou com a vó. Respondi que era melhor morar mesmo com a vó a fim de que esta não ficasse sozinha.
Claro que minha mãe entendeu e disse que eu estava certa em querer fazer companhia a uma pessoa de idade. Poucos dias depois dessa conversa, minha vó foi me buscar em Teresina.
Foi muito bom eu ficar na casa da vó, pois minha mãe e ela ficaram mais unidas. A mãe ficou mais carinhosa comigo, antes ela saia de casa pela manhã e só voltava à noite muito bêbada. Ela não sai mais para ficar tantas horas sem aparecer. Somos mais amigas, conto tudo sobre minha vida, quer dizer, quase tudo. Apesar do início ser um pouco difícil, mas como diz o ditado “Há males que vêm para o bem."                          


   Núbia Luísa, 1º B. U.E.DEMERVAL LOBÃO, setembro de 2017.


Dias de dúvidas, dias de glória (relato pessoal)



                         Dias de dúvidas, dias de glória

Após vários meses de preparação, ali estávamos, prestes a dar um grande passo ao futuro. Aquele episódio poderia mudar a trajetória das nossas vidas. Foram muitos dias de estudos com os amigos, na minha casa, que fica no Caldeirão, interior da cidade de Angical do Piauí.
Em janeiro de 2017, faltavam apenas dois dias para pôr em prática tudo o que tínhamos aprendido, não só durante alguns meses, mas de vários anos de esforço e dedicação. Naquele dia tudo que havíamos aprendido não parecia ser suficiente para alcançar nosso objetivo. Em momentos assim, o psicológico e o emocional de qualquer indivíduo são levados a inúmeras objeções. Nada era o bastante para que tivéssemos total segurança ao fazer uma prova de sessenta questões que seria responsável por decidir quem passaria e quem não seria aprovado. No momento a pior dúvida que passava diante de nossas cabeças era a de que tudo o que nós estudamos talvez não fosse suficiente para que conseguíssemos uma nota proveniente para nos classificarmos.
Nada nos tranquilizava diante de tudo o que havíamos passado até aquele dia, tínhamos dúvidas, exaustão, cansaço, sono, todas essas dificuldades pesavam de forma insana para não termos descanso.
Eis o momento principal do fato, exame classificatório do IFPI (Instituto Federal do Piauí, janeiro de 2017), já não havia o que estudarmos, pois àquela hora não dava mais tempo para nada, o que não foi solucionado até ali, não tinha mais importância, pois o tempo estava acabando e só restava uma coisa: descansar, esquecer por um momento tudo que tínhamos visto. Calma, tranquilidade era o remédio para que a prova fosse feita com sucesso, da maneira mais branda possível.
Enfim, o pesadelo tinha acabado. Ao término da prova, a qual tínhamos nos preparado bastante, não havia mais nada a fazer além de esperar. O resultado por mais demorado que tenha sido, quase três meses, trouxe consigo muita alegria, pois fiquei classificado em terceiro lugar para o curso de informática integrado ao médio.


       Augusto Franco Ferreira Soares, 1º A. U.E. DEMERVAL LOBÃO, Angical PI,
setembro de 2017




Uma luz no fim do túnel (relato pessoal)



                                   Uma luz no fim do túnel

Quando eu tinha treze anos, mais precisamente em maio de 2014, conheci um rapaz através de uma rede social. Começamos uma simples conversa, mas aquele papo foi fluindo por horas, dias, meses, até virar rotina, pois todos os dias conversávamos. Resolvemos, então, marcar um encontro. Foi uma noite maravilhosa porque eu estava com ele, mil maravilhas. Saímos pela cidade, jogamos conversa fora, apresentou-me para a família dele. Até aí tudo bem. Eu era muito nova; por isso meus pais não deixavam, não aceitavam eu namorar.
Decidi fugir de casa por acreditar que ele era “meu grande amor”. Passei três dias fora de casa sem dar notícias. Meus pais ligando o tempo todo pra mim, desesperados e eu sem atender. Então, resolvi voltar ao encontro da minha família.
Conversamos, contei tudo o que de fato tinha acontecido. Passei alguns dias distante de todos, assustada, com aquele olhar de medo e desânimo, sem conseguir olhar nos olhos deles.
Até que o inesperado aconteceu: minha menstruação atrasou. Eu contei para esse rapaz o que estava acontecendo e ele falou que se fosse gravidez, ele assumiria e ficaria comigo. Falei sobre tudo isso com meus pais. Eles, é claro, ficaram loucos, pois eu era muito nova. Fiz o teste de farmácia e deu positivo.
Confesso que fiquei desesperada. Iria perder minha adolescência, meus estudos, enfim, era uma vida que estava em jogo. Eu mergulhei com tudo nessa nova fase da minha vida e acredite, foi bem difícil, eu posso afirmar e provar. Porém, foi uma fase muito importante também. Apesar das dificuldades, eu sempre estive de cabeça erguida e minha família estava sempre ao meu lado. Sofri muito preconceito por ser tão nova e já estar grávida.
O tempo foi passando e meu amor só crescia por aquela criança que eu esperava ansiosa para tê-la em meus braços. Aos quatro meses de gestação fui fazer uma ultrassonografia. Eu, na clínica, sentada numa cadeira ao lado do meu namorado, esperando minha vez de entrar na sala. Deitei na maca. Naquele momento a felicidade tomava conta de mim ao ver meu bebê crescendo saudável dentro da minha barriga, ouvir seu coraçãozinho batendo. Mas felicidade mesmo foi saber que seria uma princesa. Não consegui conter as lágrimas.
A barriga só crescia e todos já podiam perceber que eu já não estava mais sozinha. Aos sete meses, minha gestação apresentou riscos, fui às pressas para o hospital da minha cidade, Angical, que por sua vez, não tinha médico. Então fui para Água Branca PI passando muito mal. Passava a mão na minha barriga com medo que algum mal acontecesse a minha princesa. Lá o médico me atendeu, passou uma medicação e voltei para o hospital de Angical para aplicarem um soro e uma injeção em mim. Porém logo tive uma crise convulsiva e o médico, que já estava indo embora, voltou para me atender. Só ouvi minha mãe chorando e gritando, então apaguei.
Quando acordei, estava cheia de aparelhos, numa ambulância com uma enfermeira. Apaguei novamente. Ao acordar dessa vez, já estava num quarto de hospital, minha mãe comigo segurando minha mão. Levaram-me para a UTI onde eu seria medicada e mais uma vez tive uma crise. Dessa vez havia sido eclâmpsia, pois minha pressão subiu muito. Levaram-me para o centro cirúrgico às pressas e eu não entendia o que estava acontecendo. Ouvi longe o choro da minha princesa. Os médicos colocaram-na sobre mim, coisa rápida. Não vi mais nada. Quando novamente acordei estava num quarto cheia de aparelhos. Fiquei desesperada, pois minha filha não estava comigo. Gritei, perguntei por ela ao médico e ele falou que ela estava bem na enfermaria com minha mãe e que era uma criança linda. Ainda passei três dias na UTI até conseguir alta e finalmente ver minha princesa. Chorei emocionada ao ver e sentir que tudo aquilo valeu a pena. Amamentei-a, passei horas olhando para ela e agradecendo a Deus por tudo ter dado certo. Apesar de ser prematura, nasceu saudável.
Quanto a mim e ao pai dela, não estamos mais juntos, mas sempre que pode, vem visitá-la.
Hoje minha vida resume-se a Emylle Vitória, ela é tudo que eu tenho, linda, inteligente e saudável. Digo e provo que o amor verdadeiro existe sim.


                      Gislênia  Milanny, 1º C. U.E.DEMERVAL LOBÃO, ANGICAL PI, setembro de 2017